domingo, 22 de setembro de 2013

RELATÓRIO DE LEITURA DO LIVRO DE DAVID LYON "O CRISTÃO E A SOCIOLOGIA"



Por Alan Francisco de Souza Lemos e Neemias Raimundo



I – Sociologia e Fé Cristã

Enquanto a Sociologia segue avançando e ampliando seus horizontes, muitos cristãos encontram dificuldades em lidar com a tendência desta de confrontar a fé. Dentre estes, os que permanecem firmes, o fazem sem conciliar sua fé com os postulados sociológicos. A reflexão da Sociologia em relação à fé cristã e vice versa, parece ser a opção de contribuição positiva dos cristãos nessa área.
A Sociologia está presente e exerce influência em todas as áreas e esferas. Todos buscam nela, orientação. Vista ainda com desconfiança por muitos cristãos, a Sociologia parece levar o estudante (depois de dado o primeiro passo de confiança), a um nível irreversível de consciência; trazendo benefícios até mesmo para a fé.
Os cristãos perturbam-se com declarações de sociólogos que parecem tentar desmerecer a religião e a fé como fugas ou recursos de socialização. Ao constatar que suas mentes estão divididas entre posicionamentos nos ambientes acadêmicos e cristãos, avaliam de forma psicológica e sociológica todo esse desenrolar.
Como resultado, cristãos envolvidos no estudo da Sociologia reagem trocando de curso; mas apenas adiam a questão, pois a abrangência da Sociologia é bem vasta e fatalmente, o confronto se repetirá.
Outra forma de reação é continuar o curso com a mente dividida, onde a Sociologia não exercerá influência na parte “sagrada” da mente; onde cristão e sociólogo são pólos opostos. É o mesmo que declarar a impossibilidade de harmonia entre Sociologia e fé cristã e vice versa. “Portanto essa divisão de papéis implica que não existe na teoria sociológica lugar para os valores cristãos, ou que a perspectiva sociológica é irrelevante para a fé cristã”.
A terceira opção é elevar a Sociologia ao nível de uma nova fé, onde a Bíblia fica submetida a segundo plano, sendo preterida pelos ensinamentos acadêmicos.
A última opção é o estudante cristão estudar a Sociologia “com uma mente aberta à sabedoria originada na Palavra de Deus”. Deve-se encara as dificuldades entre a Sociologia e fé cristã de forma honesta e não as evitar, pois podem resultar em esclarecimentos benéficos para os dois lados.
Quando a tendência sociológica de relativizar abarca os padrões absolutos e divinos dos cristãos, gera conflitos entre sistemas inteiros de pensamentos.
Detentores de maneiras de pensar distintas, o cristão e o sociólogo respondem diferentemente em relação ao conhecimento, origem de todas as divergências.
II – A Sociologia da Sociologia

A importância da Sociologia remete às suas origens intelectuais, políticas e sociais. Em seu afã de compreender a sociedade em que vivem, os sociólogos demonstram o desejo de mudá-la, ou até mesmo controlá-la.
A Sociologia surgiu como resposta á necessidade de uma reconstrução social, decorrente da convulsão ocorrida no século XIX como resultado do impacto da industrialização e revoluções européias. A base da sociedade foi abalada, envolvendo até mesmo os sociólogos pioneiros.
A Revolução Francesa inovou como a primeira revolução na história a se ancorar na nova teoria de soberania popular, onde a vontade do povo prevaleceu contra a vontade de Deus e do rei. Para alcançar Liberdade, Igualdade e Fraternidade o povo deveria se representar politicamente e se fazer ouvir. A forma de executar essas questões, resultou em grande teorização social sem precedentes na história.
O censo de identidade produzido pela soberania popular veio acompanhado do nacionalismo. O Estado, abrangendo todos os membros da sociedade, tem a prerrogativa de influenciar e manipular todos os grupos sociais. Max Weber explorou um fato novo, a burocracia necessária para o Estado funcionar.
Simultaneamente ao espírito revolucionário que ganhava a Europa, ocorria a revolução tecnológica, com a utilização de novos meios de produção. Os primeiros sociólogos, observando a importância das implicações sociais da industrialização, estruturaram as bases de seus efeitos na vida social humana; bases essas que exercem influência até hoje.
A consequência mais duradoura da industrialização foi a criação da sociedade de trabalhadores urbanos.. Aspectos como divisão entre lar e trabalho, sistemas de fábricas, família e economia, a família passou a unidade consumidora ao invés de produtora; perdendo assim, suas funções. A teoria sociológica tem tido grande motivação nesses eventos. A Sociologia também abarcou sob sua influência questões como sociedades pré-industriais e sociedades pós-industriais.
A solução buscada por inúmeros pensadores para esses problemas variou do realismo à utopia. Mas foi Karl Marx (1818-1883) quem influenciou de forma marcante nessa área. Ele percebeu que outros pensadores negligenciaram características da sociedade industrial. Em sua crença no sistema capitalista de produção, os operários eram escravos assalariados; vendiam mão de obra a empregadores sem qualquer controle sobre ao que produziam; o que gerava distanciamento entre produtos e trabalhadores, entre colegas de trabalho e entre empregados e patrões; o que Marx definia como alienação; segundo ele, a história humana “nada mais é que a história da luta de classes entre trabalhadores alienados e seus empregadores; ou entre servos e senhores”. Muitos seguidores de Marx negligenciaram aspectos mais humanísticos de sua obra. Sendo o fator econômico o ponto mais importante da obra de Marx.
A industrialização reuniu sob os mesmo tetos mais trabalhadores do qualquer outra economia anterior; impôs a especialização, a mecanização; as pessoas experimentaram novos níveis de relacionamentos entre si e com as máquinas. Conflitos daí resultantes, suas resoluções e melhorias das condições têm motivado o pensamento social.
A resposta para a desinstalação da vida social provocada pela revolução e pela industrialização no século XIX foi Sociologia; alcançando assim, o status importante que tem hoje.
A origem intelectual da Sociologia começa no Iluminismo do século XIX, quando qualquer explicação sobrenatural para qualquer fenômeno era considerada invalida, assim; a sociedade começou a ser estudada como parte da natureza, influenciando as mudanças sociais, econômicas e políticas do século XIX. Com o otimismo gerado pela Revolução Francesa, as pessoas pensavam que a humanidade era capaz de transformar a sociedade sem qualquer referência a Deus; aliado a isso, com a ciência surgindo supostamente como a chave para todos os mistérios, confirmou essa idéia para muitas pessoas.
A partir do século XIX ocorreu uma mudança de crença na sociedade, pois suas estruturas se secularizaram. As instituições, a prática religiosa, o pensamento religioso convencional, a interpretação religiosa foram perdendo significado social, aceitação social e foram sendo descartados. Foi difundida uma nova interpretação, a cosmovisão científica, tão religiosa quanto a anterior.
O cientismo é o nome dado à crença na capacidade da ciência dar solução para todas as questões. Pois as pessoas buscavam respostas e criam que pela relevância da ciência naquele contexto, ela tinha muito a colaborar.
Augusto Comte (1798-1857), o homem que criou a palavra sociologia, traz em sua obra o melhor exemplo para cientismo. Via a história como um todo unificado. Dizia viver o final da etapa teológica e militar e que a seguinte que estava nascendo era a científica e industrial, chamada positiva por causa dos resultados positivos da ciência. O homem envolvido na etapa positiva não deveria crer em revelação. Criou a Religião da Humanidade, tida hoje como excentricidade do século XIX. Comte defendia uma sociedade racional e empírica e ignorava o embasamento metafísico.
Nos últimos anos grande número de pensadores admite que por detrás de toda ciência existe uma metaciência e que por detrás de toda hipótese científica há um paradigma. Comte pressupunha a falsidade da religião sobrenatural, a inevitabilidade do progresso moral e tecnológico e a eficácia do seu próprio método de produzir resultados confiáveis.
Comte é o elo entre a Sociologia dos pioneiros e a Sociologia de hoje. O sucessor de suas teorias no século XX é o positivismo lógico. O que une as duas teorias é que ambas descartam a categoria da revelação como fonte de conhecimento.
O positivismo e o empirismo exercem grande influência no desenvolvimento da Sociologia do século XX. Óbvios nos dogmas Liberdade de Valores ou Isenção de Valores. Nas décadas de 40 e 50, uma das principais motivações da Sociologia empírica. Porém a Sociologia americana não se interessou pela luta dos negros americanos por igualdade em relação aos brancos.
A relação entre religião e ciência talvez tenha sido a mais importante causa da crise de mentalidade do século XIX. Tema principal dos grandes pensadores sociais. Pois cria acreditava-se que o pensamento científico era o único método preciso. A ciência parecia suprir todas as respostas para todos os problemas.
A publicação da Teoria das Espécies (1859), causou grande impacto ao remeter alguma ligação do homem ao macaco. Herbert Spencer (1820-1903), principal expoente do darwinismo social, defendia que era possível alterar o curso da chamada evolução.
O sistema essencialmente evolucionista de Comte resultou na Religião do Humanismo e o Estudo da Sociologia (1874) de Herbert Spencer concluiu um sistema de Filosofia social evolucionária, com o intuito de substituir qualquer pensamento anterior, inclusive a Teologia. O ponto de vista evolucionista progressivo reforçava que o homem é basicamente bom e tem potencial para se aperfeiçoar e governar a si mesmo sem qualquer ajuda externa, a não ser da ciência.
Ainda hoje a atitude científico-positivista permeia grande parte da Sociologia. A postura arrogante de determinados sociólogos parece ser influência da crença de que a ciência veio substituir a religião.
As guerras e o imperialismo tecnocrata do século XX parecem ter suavizado a fé cega na ciência. O mundo sociológico parece insatisfeito com os pronunciamentos definitivos  sobre a sociedade. Ou da equiparação de leis sociais com as leis encontradas na natureza. Existe também a consciência de que muitos sociólogos fazem especulações partindo de juízos de valores específicos que influenciam suas percepções. Fazer pressuposições inverificáveis é resultado de uma fé intuitiva.
A tarefa da Sociologia deve começar reconhecendo que a antiga noção de liberdade isenta de valores preconcebidos é puro mito. Todas as categorias sociológicas são carregadas de valores, posturas, ou de conflito de valores.
A partir da posição pós-empírica, apareceu uma nova oportunidade para os cristãos mostrarem que suas pressuposições concordam com a realidade da sociedade.
A Sociologia é uma tentativa de compreender a sociedade e lidar com ela, controlando-a ou transformando-a; ela nasceu no século XIX como fruto da revolução, da industrialização e de mudanças de crenças. A Sociologia da forma como se desenvolveu, é fundamentalmente humanística e científica. Atualmente, os sociólogos percebem que os modelos mecanicistas não podem se transferir indiscriminadamente para as ciências humanas ou sociais; e que deixam transparecer em seus trabalhos, suas suposições e pressuposições.
Muitos cristãos do século XIX ignoraram desafios do mundo intelectual. É preciso reverter essa tendência, pois muitas questões precisam ser consideradas acerca das mudanças sociais que nos afetam e tem sido analisadas pela Sociologia. Inexiste inclusive uma visão cristã em relação a elas. É preciso esforço para desafiar idéias prevalecentes e entender os conflitos existentes entre fé cristã e Sociologia; pois muitas pressuposições da Sociologia histórica e contemporânea entra em contradição com posições cristãs. A Sociologia se esforça em produzir excelente idéias mas jamais em sentido definitivo. Porém nosso Deus nos revela verdades que independem das situações.
Muitos trabalhos realizados por sociólogos não cristãos resultaram em benefícios na sociedade e que são do agrado de Deus. Como cristãos, não podemos pensar que tudo na Sociologia é irrelevante. Os cristãos podem ainda, através da Bíblia, dar excelentes contribuições em benefício da sociedade.


III – Quem é Que Diz Isso?

A Sociologia desequilibra as pessoas porque esquadrinha e questiona; para os despreparados isso é desgastante, mas é a prática sociológica. A Sociologia do conhecimento tenta enquadrar todo conhecimento em seu contexto social. Porém, a conclusão implícita em tal estudo é que todo conhecimento que pode ser enquadrado é falso ou relativo.
Uma ideologia pode ser política, religiosa, mitológica ou intelectual. Bastando apenas uma justificativa ou explicação para alguma ação, reação ou estado de coisas. Na maioria das vezes, no contexto sociológico, uma ideologia implica em uma distorção. Particularmente acontece na tradição marxista com a burguesia distorcendo a realidade ancorada em sua posição sócio-econômica.
A partir de cada contexto, o sociólogo irá elaborar dentre inúmeras variações o que se quer dizer. Pode ser um muro de defesa que se levanta à volta para justificar determinadas atividades. O leite excedente doado vende a ideologia de tratar bem as crianças.
Uma ideologia distorcedora racionaliza um expediente político com objetivo de servir a interesses criados. Segundo análise sociológica, falsas idéias seriam aceitas como válidas e sua falsidade somente se revelaria com a análise do contexto social em que ocorreram.
A religião é um dos primeiros alvos do escrutínio dos sociólogos do conhecimento. Pode haver decepção ao se deparar com crenças explicadas sem possibilidade de refutação, tanto no contexto social das origens da sua religião, quanto das forças sociais que os levaram ao seu comprometimento.
A opressão romana da nação judaica somada ao mito do Messias ansiado, são fatores que influenciaram a adesão popular à figura carismática de Cristo; a crucificação foi compensada com a ressurreição; explicam  a conversão como conformismo de grupo ou busca de reconhecimento de status social motivado por necessidade particular; a permanência na igreja é uma resposta à ideologia da comunhão fraternal abalizada na confissão comum.
O mundo hoje parece alienado do cristianismo bíblico, são esses pressupostos auto-evidentes que os sociólogos estudam. Portanto, esse mundo da realidade é socialmente construído e não passa de um produto da sociedade. Todavia, os próprios sociólogos não possuem qualquer ponto de referência fora da sociedade e se apegam a valores que direcionam seus estudos.
O sociólogo do conhecimento desafia qualquer fonte de autoridade e passa a esclarecer qualquer um que formular um juízo definitivo, afirmando que a sociedade assim o diz. Qualquer que seja a crença, sempre se pode pesquisar sua origem social e prová-la como produto de tempo e contexto reforçado pela aceitação social.
Receia-se pronunciar qualquer juízo em presença do sociólogo questionador (pelo seu cinismo e descrença), para não se tornar objeto de análise social. Qualquer expressão de conquista pode ser analisada como aspiração social, conformidade, ética de grupo e ideais burgueses.
Sociólogos fazem grandes reinvidicações, porém ignoram características da vida social humana com as quais deveriam se preocupar.
Ao mesmo tempo em que a Sociologia é ferrenha opositora às autoridades, ela também é extremamente autoritária. E são os mesmos sociólogos que se opõem a investigações neutras, que desmascaram a Sociologia. Eles se dão conta que eles mesmos tem pressupostos e se aproximam de tudo, até mesmo da Sociologia. Pelo fato da Sociologia ter se tornado uma forma de consciência, é muito difícil persuadir as pessoas. Assim, nos cabe usar nossa imaginação sociológica ao pintar nossos quadros sociológicos.
No conceito de funcionalismo na Sociologia, ela é estudada em termos de suas funções como sistema. Robert Merton se destaca demonstrando que “nem todas as funções mantém necessariamente a sociedade”. A tendência de destruir ou deteriorar estruturas sociais seria uma disfunção. Estabeleceu uma distinção entre funções manifestas deliberadas e conscientes e latentes inconscientes e não intencionais.
O movimento funcionalista foi uma reação ao evolucionismo cru que explicava as instituições sociais em termos de sua origem primitiva. Os funcionalistas deixaram de lado a questão das origens para ver a sociedade como sistema em que crenças e práticas assumem papel funcional. Uma sociedade normal é uma estrutura não acidental.
Outros funcionalistas ignoraram tanto origens como outros aspectos da vida social. A obsessão com a função pode levar à distorção, caso se ignore como esse costume começou.
A análise da função pode esclarecer algum aspecto obscuro da vida social, pode obscurecer a intenção, ou a responsabilidade e a credibilidade. Ao argumento que o matrimônio tem função sexual, sociólogos rebatem que solteiro também tem vida sexual ativa e também fazem planos de se casar e inúmeros outros. É de extrema importância que os cristãos deixem claro sua posição e suas razões.
O relativismo da Sociologia indica uma distorção da verdade sobre o homem e a sociedade; dando base para afirmar que a própria Sociologia é uma ideologia. Quando o sociólogo defende que conceitos ou padrões de comportamento se tornam humanos por repetição, mostra cegueira frente aos absolutos. Esquecendo dos conceitos permanentes e intrinsecamente humanos como a determinação e a responsabilidade.
A posição cristã precisa estar clara devido à preocupação do aspecto ideológico da ciência social. Deveríamos deixar explícito nosso ponto de vista cristão, assim com também os sociólogos o fazem. Até mesmo porque os ensinamentos cristãos não são populares; portanto, uma mudança de crença não é explicada socialmente.
William Sargant, ao tentar desmascarar a conversão, a retrata como estado de hiper-sugestão, uma lavagem cerebral, com objetivo de incutir a fé cristã, que, ao invés da experiência divina espiritual, não passa de manipulação humana e que o espiritual é ilusão.
A Sociologia naturalista ignora os aspectos históricos e sobrenaturais do cristianismo quando afirma que “(...) a conversão não passa de um fenômeno psicológico ou sociológico.
A distinção da fé cristã é evidente naquilo que os cristãos crêem quanto à conversão. Ou seja, na auto-revelação geral e especial de Deus. Afirmando ser essa revelação a verdade; Jesus declarou ser esta verdade. Pontos que geram questionamentos.
Ao examinar a validade da Bíblia, podemos afirmar que ela é coerente historicamente e dá respostas satisfatórias a questões da natureza humana, portanto, a Bíblia é capaz de ser posta à prova por qualquer pessoa.
A natureza humana está permanentemente em oposição a Deus; resultando em conflitos sociais que são sintomas da inimizade contra Deus. O cristão encontra em Deus a certeza da sua fé através da coerência dos ensinamentos bíblicos; fazendo dos cristãos realistas e não pessimistas, quando crêem que Deus está controla o rumo da história humana.
A narrativa do Antigo Testamento é abordada inadequada e rudemente pela Sociologia do conhecimento como o Deus fiel e a humanidade inconstante; e o povo escolhido sobrevivendo sempre com um grande número de pessoas crendo nesse Deus.
Como o povo continua crendo nesses mandamentos se estes eram de pouca aceitação popular? Os cristãos podem dizer que os mandamentos de Deus eram ditados e não determinados socialmente; por um Deus Santo e Digno de confiança. Como hoje, conseguimos resistir às pressões sociais para que aceitemos seus padrões, pelo poder que nos capacita, assim também o era nos dias do Antigo Testamento.
O conhecimento que temos como cristãos, independem de contextos sociais, embora afetados por eles, portanto, o fator humano está presente na Bíblia. Pessoas com personalidade e estilos diferentes, em contextos sociais específicos;mas o que escreveram era a Palavra de Deus; autoritativa e infalível. O erro é dizer “(...) A Bíblia foi escrita por seres humanos, logo, ela é falível”.
A auto-revelação de Deus nos permite toda e qualquer idéia humana e social. Qualquer ponto de vista diferente, resultante de análise real, pode contribuir com aspectos positivos, pois Deus capacita o ser humano, porém, tudo deve ser filtrado pela Palavra de Deus.
Os cristãos têm grande responsabilidade de trazer pontos bíblicos que contribuam em situações específicas. Nossa convicção social deve refletir que o árbitro final não é o indivíduo nem a sociedade, mas a primeira e a última palavra pertencem a Deus.


IV – Homo sociologicus

No capítulo 4, Homo sociologicus, o autor aborda a questão da natureza humana, ou, mais especificamente, a “imagem” humana, isto é, são apresentados os labores sociológicos do sociólogo secular (ou não-cristão) e do sociólogo cristão.
Segundo o próprio autor, a Sociologia é “... o estudo de pessoas em interação umas com as outras” (p.51); por este motivo, muitas variantes intervêm no processo de socialização dos indivíduos.
Sob a ótica de uma sociologia não-cristã, três perspectivas sociológicas aparecem como propostas explicativas do comportamento social humano (contrato social): o behaviorismo, o funcionalismo e o voluntarismo.
Sobre a perspectiva behaviorista, ele afirma:

“Em primeiro lugar vem o ‘behaviorismo’, cujos adeptos crêem (sic) que as reações são condicionadas: ou o instinto estimula a produção de uma resposta que tem efeitos calculáveis, ou então forças externas (forças sociais, por exemplo) produzem efeitos internos. O behaviorismo, como doutrina explícita, é mais comum na psicologia, porém representa o pensamento menos elaborado de certos sociólogos positivistas. Se essa idéia (sic) estivesse correta, o ‘controle’ social poderia ser obtido através da manipulação de sanções.” (p. 52)

A respeito da perspectiva funcionalista:
           
“A segunda categoria é o ‘funcionalismo’” ... “... se esta é a perspectiva do sociólogo, suas teorias são menos que humanas. Se a sociedade nada mais é que um sistema a ser regulado e controlado pela ‘adaptação funcional’, então o que é feito das necessidades humanas que sentimos e dos pensamentos? Se o conflito social é considerado uma ‘tensão estrutural’, então o que dizer das incompatibilidades básicas dos interesses e valores?” (p. 53)

E conclui, a despeito do voluntarismo:

“A terceira perspectiva é a do ‘voluntarismo’, que tem a ver com as motivações das pessoas. Os sociólogos desta escola se ocupam não necessariamente com motivos autoconfessados, mas sim em atribuir certas tendências e motivações a grupos que podem não estar conscientes delas. (p. 53)

Estas perspectivas excluem a esfera espiritual e culpabilizam a sociedade pela criação e educação das pessoas e, por conseguinte, torna-a a única responsável por tudo, e não apenas por aquilo que é socialmente aceitável. Mas, ao final, David Lyon adverte para escravidão do ser humano ao pecado original e propõe uma outra perspectiva sociológica, que contempla o homem como “imagem” de Deus, inicialmente, e, após a Queda, como subproduto de Deus e do pecado. Por isto, explica o autor, o homem é capaz de fazer o bem e o mal, influenciar e ser influenciado pela sociedade etc. Portanto, para David Lyon, as ações do homem no meio são resultado dos seguintes fatores: os fatos e imposições micro e macrossociais e a realidade espiritual individual e coletiva do homem; fatores que não deixam de observar a vontade racional do indivíduo.


V – Estatísticas e salvação

No capítulo 5, Estatística e salvação, ressalta a religião como um fenômeno social, à luz da Sociologia. “Essa abordagem leva o pesquisador a observar manifestações de crença religiosa, ou então a aderir a um grupo religioso e analisá-lo.” (p. 75). Esta postura pode ser muito criticada por alguns cristãos, mas, afirma o autor, dentro das igrejas algo muito parecido ocorre. Enquanto os funcionalistas enxergam os efeitos da religião na sociedade, os marxistas não reconhecem nela mérito algum. Os sociólogos cristãos, contudo, devem “se expressar na afirmação de que existe uma religião ‘verdadeira’ manifesta em sociedade ...” (p. 75). Devem observar e apontar os erros da igreja, para, então, corrigi-los (p. 78).
“O sociólogo vai além da simples pesquisa estatística, com suas limitadas conclusões, e diz algo a respeito das funções sociais da religião. Ritos e cerimônias de passagem mostram como a sociedade está permeada pela religião. Mas o valor da religião nos estudos sociológicos foi questionado graças à ênfase positivista nas ciências sociais (p. 80).
À página 81, ele diz:

“As fórmulas sagradas e os rituais da religião são repetidos em tempos de crise, a fim de que o mundo (ou nossa percepção de mundo) não fuja do nosso controle. Para construírem um quadro da realidade para si mesmas, as pessoas necessitam de um sistema de crença; e a religião desempenha um papel decisivo, tanto na manutenção como na construção dessa realidade. Esse edifício, uma vez construído e solidificado, servirá de refúgio contra os graves e constantes problemas da vida. As crises que mais agudamente se sentem, segundo eles, são a anomia e a morte.”

Este quadro pode levar o indivíduo a criar uma religião para si como remédio a uma opressão. Marx postulou que a religião é utópica e consequência da separação de classes, portanto, é necessário abolir a religião, é um requisito para a felicidade humana. O autor, todavia, diz que é inviável aplicar a visão marxista a todas as situações, pois as religiões criadas nada mais são do que simulacros da verdadeira religião, que é obra de Deus.


VI – As questões dos anos 90

No capítulo 6, Lyon situa a sociedade na contemporaneidade da década de 90, época da feitura do livro. O que se pode concluir é que os muitos avanços tecnológicos não puderam e não podem “superar as velhas desigualdades e os relacionamentos fragmentados das sociedades industriais capitalistas.” (p. 88). No mais, a sociedade, de um modo geral, vive um momento de transferência da modernidade para a pós-modernidade. Mutações ocorrem nas variegadas esferas sociais, econômicas, políticas etc. “A ordem é seguir os princípios de administração em lugar de um código de ética ou de um compromisso com a justiça e a saúde” (p. 90).
Em face disto, o cristão deve colaborar para o entendimento social com amor e subserviência a Deus, pautando todas as suas ações e pensamentos na vontade soberana de Deus e a igreja precisa resistir às ondas de mudanças impostas pelo mundo que corroem a moral cristã.


VII – Sociologia Cristã

No capítulo 7, intitulado Sociologia Cristã, o autor afirma a urgência de se desenvolver uma sociologia cristã que tome a bíblia como lastro. Deve-se acrescentar, no entanto, além da bíblia, a história, a ética e a moral cristãs, que vão para além da bíblia. Mas o cristão não deve se eximir de seu pensamento sociológico, se este estiver em sintonia com o cristianismo. Não deve correr de sua responsabilidade social (como “sal da terra” e “luz do mundo”). Precisa orar e denunciar os erros ou inadequações sócio-políticas. Deve conservar seu έθος, éthos, costume, hábito e, por extensão de sentido, caráter, isto é seus hábitos que, de tão repetitivos e comuns ao seu modus operandi, espelham seu caráter. À página 100, Lyon deixa o ensinamento cristão do apóstolo Pedro:

Estejam sempre prontos para responder a qualquer pessoa que pedir que expliquem a fé que vocês têm. Porém façam isso com delicadeza e respeito. Tenham sempre a consciência limpa. Assim, quando forem insultados, os que falarem mal da boa conduta de vocês como seguidores de Cristo, ficarão envergonhados.”



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

LYON, David. O cristão e a Sociologia. Silêda Silva Steuernagel (trad.). ABU Editora. São Paulo, 1996.