segunda-feira, 12 de maio de 2014

Os Desigrejados - Augustus Nicodemus

Série TEÓLOGOS DE SUCESSO: Karl Rahner





De http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Rahner



Karl Rahner (Friburgo em Brisgóvia, 5 de março de 1904Innsbruck, 30 de março de 1984) foi um sacerdote católico jesuíta de origem germânica e um dos mais influentes teólogos do século XX. Participou como teólogo do Concílio Vaticano II. Criou a revista Concilium. Escreveu mais de 800 artigos e ensaios.

Biografia

Rahner estudou filosofia durante o noviciado de Pullach, entre 1924 e 1927. Concluiu os estudos de teologia em Valkenburg em 1933. Entre 1937 e 1964 lecionou teologia dogmática em Innsbruck. A seguir, foi professor na Faculdade de Filosofia da Universidade de Munique.
Rahner foi ordenado sacerdote em 1932. Karl Rahner nasceu em 5 de março de 1904 em Friburg, mais precisamente em Brisgóvia, faleceu em Innsbruck em 30 de março de 1984. Acabou estudando filosofia no noviciado de Pullach no período de 1924 a 1927, e depois teologia em Valkenburg de 1929 a 1933. Foi aluno de Heidegger em Friburgo. Logo foi ordenado sacerdote em 1932. Em seu trabalho infatigável além de ser professor de teologia dogmática em Innsbruck de 1937 a 1964 ano que veio a suceder Romano Guardini na Faculdade de Filosofia da Universidade de Munique.

Série TEÓLOGOS DE SUCESSO: Walter Kasper





Biografia

Kasper fez estudos no ginásio de Ehingen an der Donau em 1952, após realizou estudos de filosofia em Tubinga e Mônaco, que concluiu em 1956, foi ordenado presbítero em 6 de abril de 1957 na diocese de Rottenburgo.
Em 1961 obtém o doutoramento na Faculdade Teológica de Tubinga. Durante três anos foi assistente de Leo Scheffczyk e de Hans Küng. Em 1964 recebe a habilitação para ensinar teologia dogmática na Universidade de Münster e em 1970 para a Eberhard-Karls-Universität die Tubinga. Foi nomeado para presidir a Faculdade Teológica de Münster. A partir de 1983 é professor visitante da Universidade Católica da América em Washington D.C.
Em 1985 Kasper é nomeado secretário especial do sínodo extraordinário e se torna membro da Comissão Teológica Internacional. Foi nomeado Bispo da Diocese de Rottenburg-Stuttgart em 17 de abril de 1989. A ordenação episcopal decorreu a 17 de junho desse ano por Oskar Saier e teve como co-ordenantes o bispo de Mogúncia, Karl Lehmann e Franz Josef Kuhnle, bispo auxiliar de Rottenburg-Stuttgart.1 Kasper adotou o lema episcopal "Veritatem in caritate".
Kasper veio a ser presidente da comissão para a Igreja Universal e vice-presidente da comissão para a fé da Conferência Episcopal da Alemanha.
Em 1994 Kasper foi nomeado co-presidente da Comissão Internacional para o Diálogo Luterano-Católico e , em 16 de março de 1999, Secretário do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, razão pela qual, em 31 de maio de 1999 renunciou ao governo da diocese de Rottenburgo-Stuttgart.
Em 21 de fevereiro de 2001 foi elevado a cardeal, com o título de cardeal-diácono de Ognissanti in Via Appia Nuova.
Teólogo profundo, Kasper escreveu vários livros. Em 1993 e 2001 publicou a terceira edição do léxico para a teologia e para a Igreja. Em 3 de março de 2001 torna-se presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
No dia 1 de julho de 2010 o Papa Bento XVI aceitou o seu pedido de renúncia, por limite de idade, do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
No consistório ordinário público de 21 de fevereiro de 2011, o Papa Bento XVI elevou-o à ordem de cardeal-presbítero.

Referências

  1. Catholic Hierarchy. Página visitada em 18 de março de 2013.

Série TEÓLOGOS DE SUCESSO: Wolfhart Pannenberg






Wolfhart Pannenberg

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 
Wolfhart Pannenberg (2 de Outubro de 1928, em Estetino, Polónia) é um teólogo cristão Alemão.

Vida e ponto de vista

Pannenberg foi batizado como um bebê na Igreja Evangélica Luterana, mas não teve praticamente nenhum contato com a Igreja nos seus primeiros anos. Com cerca de dezasseis, no entanto, ele teve uma intensa experiência religiosa a qual ele chamou mais tarde de sua "experiência de iluminação". Buscando a compreender esta experiência, ele começou a pesquisar através das obras de grandes filósofos e pensadores religiosos. O seu professor de literatura da Escola Secundária, que tinha sido uma parte da Igreja Confessante durante a Segunda Guerra Mundial, encorajou-o a considerar seriamente o cristianismo, o que resultou na "conversão intelectual" de Pannenberg, na qual se concluiu que o Cristianismo era a melhor opção religiosa disponível. E isto o implusionou em sua carreira como teólogo.
A parte central da carreira teólogica de Pannenberg foi sua defesa da teologia como uma rigorosa disciplina acadêmica, uma capacidade de interação com a filosofia crítica, a história e as ciências naturais.
Pannenberg é talvez mais conhecido pelo seu livro: Jesus: Deus e Homem, no qual ele constrói uma Cristologia "por baixo", ou seja, a sua dogmática decorre de uma análise crítica da vida de Jesus de Nazaré. Ele, correspondentemente, rejeita a formulação tradicional da cristologia das "duas naturezas" pontualizada no Concílio de Calcedónia, preferindo ver a pessoa de Cristo à luz da vida de Jesus e de modo particular da sua ressurreição. Este foco sobre a ressurreição de Cristo como a chave da identidade levou Pannenberg a defender a sua historicidade.

Artigos do Pannenberg em Português

1. Como Pensar Sobre o Secularismo
2. Deveríamos Apoiar o Casamento Homossexual?
3. Teologia Sistemática. 3 Volumes ed. Academia Cristã e ed. paulus

Livros de Pannenberg (Como publicados em Inglês)

  • 1968. Jesus: God and Man. Philadelphia: Westminster Press.
  • 1969. Basic Questions in Theology. Westminster Press
  • 1969. Theology and the Kingdom of God. Westminster Press.
  • 1970. What Is Man? Philadelphia: Fortress Press.
  • 1972. The Apostles' Creed in Light of Today's Questions. Westminster Press.
  • 1977. Faith and Reality. Westminster Press.
  • 1988-1994. Systematic Theology. T & T Clark

Literatura Secundária

Série FILOSOFIA: Personalismo





Personalismo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O personalismo foi um movimento associado ao Humanismo e não ligado a partido político, idealizado por Emmanuel Mounier, após a crise de 1929 da Europa e divulgado por uma revista chamada “Esprit”, com a intenção de identificar a verdade em toda a circunstância e acreditava que o problema das estruturas sociais era econômico e moral e a saída para isso era na teorização e na construção de uma “comunidade de pessoas”. O personalismo foi posteriormente adoptado pela Democracia Cristã e influenciou fortemente o Papa João Paulo II e, consequentemente, muitos católicos.
A idéia central do pensamento personalista é a idéia de pessoa na sua inobjetibilidade (o homem não consiste num simples conjunto de matéria), inviolabilidade, liberdade, criatividade e responsabilidade, de pessoa com alma encarnada em um corpo, situada na história e constitutivamente comunitária.

Algumas normas personalistas de Mounier

  1. Uma posição de independência em relação aos partidos e agrupamentos constituídos, faz-se necessária para uma nova avaliação das diversas perspectivas (sem ser anárquico ou apolítico).
  2. A simples afirmação dos valores do espírito pode ser enganosa quando não acompanhada de rigorosa delimitação da atividade e dos seus meios.
  3. A tendência a confusão é o primeiro inimigo de um pensamento de ampla perspectiva. Portanto toda questão deve ser bem estudada já que há uma estreita relação entre o espiritual e o material.
  4. Para a investigação temos que nos libertar de qualquer priori doutrinário e estejamos pronto para tudo, inclusive a mudar de direção para manter-se fiel a realidade e ao próprio espírito.
  5. Ser revolucionário não é o remédio já que não significa a revisão dos valores, das estruturas ou das classes dirigentes.

Ver: http://blog.cancaonova.com/seminario/o-que-e-o-personalismo/ 

Série TEÓLOGOS DE SUCESSO: Jon Sobrino




Jon Sobrino

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Jon Sobrino (Barcelona, 27 de dezembro de 1938) é um sacerdote e teólogo jesuíta que vive em San Salvador, importante expoente da Teologia da Libertação.

Biografia

Entrou para a Companhia de Jesus em 1956 e desde 1957 pertence à Província da América Central. Reside em San Salvador, capital de El Salvador, país que adotou como sua pátria. Foi ordenado sacerdote em 1969.
Em 1963, concluiu a licenciatura em Filosofia e Letras na Universidade Saint Louis, nos Estados Unidos. Dois anos depois, concluiu o mestrado em Engenharia nessa mesma Universidade. Recebeu o doutorado em Teologia em 1975 na Hochschule Sankt Georgen em Frankfurt, Alemanha, com a tese intitulada Significado da cruz e ressurreição de Jesus nas cristologias sistemáticas de W.Pannenberg e J. Moltmann.1 Recebeu também o título de doutor honoris causa de nove universidades, dentre elas a Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, a Universidade de Santa Clara, na Califórnia (Estados Unidos) e a Universidade Saint Louis.2 Sua formação teológica foi fortemente influenciada pelo Concílio Vaticano II e pela Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em Medellín em 1968.
Sua obra teológica é uma contribuição à Cristologia a partir da realidade da América Latina. seu primeiro livro, publicado em 1976, foi Cristologia a partir da América Latina: esboço a partir do seguimento do Jesus histórico, que o insere entre os teólogos da libertação.
Durante a ditadura militar salvadorenha, Sobrino escapou de ser assassinado no massacre à comunidade jesuíta ocorrido em 16 de novembro de 1989 quando um grupo paramilitar entrou na Universidade Centroamericana, onde era professor, e assassinou seis jesuítas, a cozinheira e sua filha. Sobrino não estava na casa por estar substituindo Leonardo Boff em um curso de Cristologia na Tailândia.
Atualmente é responsável pelo Centro de Pastoral Dom Oscar Romero, diretor da Revista Latinoamericana de Teologia e do informativo Cartas a las Iglesias, além de ser membro do comitê editorial da Revista Internacional de Teologia Concilium.
Em 2006 a Congregação para a Doutrina da Fé publicou uma Notificação sobre duas obras de sua autoria: Jesucristo liberador. Lectura histórico-teológica de Jesús de Nazaret (Madrid, 1991) e La fe en Jesucristo. Ensayo desde las víctimas (San Salvador, 1999).3

Obras

  • Resurrección de la verdadera Iglesia. Los pobres, lugar teológico de la eclesiología, 1984.
  • Jesús en América Latina. Su significado para la fe y la cristología, 1985,
  • Liberación con espíritu. Apuntes para una nueva espiritualidad, 1985. (Geist, der befreit: Anstösse zu einer neuen Spiritualität, 1989).
  • Compañeros de Jesús. El asesinato-martirio de los jesuitas salvadoreños, 1989.
  • Sterben muss, wer an Götzen rührt: das Zeugnis der ermordeten Jesuiten in San Salvador: Fakten und Überlegungen, 1990.
  • Jesucristo liberador. Lectura histórico-teológica de Jesús de Nazaret (1991)
  • Santo Domingo 1992. IV. Generalversammlung der Lateinamerikanischen Bischofskonferenzen. Werden - Verlauf - Wertung, 1993.
  • Befreiungstheologie als intellectus amoris (con Martin Maier), 1994.
  • Mysterium Liberationis. Grundbegriffe der Theologie der Befreiung (con Ignacio Ellacuría), 1995/1996.
  • Qué queda de la Teología de la Liberación?, 1997.
  • La Iglesia samaritana y el Principio-Misericordia, 1998.
  • La fe en Jesucristo: ensayo desde las víctimas, 1999.
  • Fuera de los pobres no hay salvación: pequeños ensayos utópico-proféticos, 2007.

Obras em português

  • Cristologia a partir da América Latina. Petrópolis: Vozes, 1983.
  • Voz dos sem voz: a palavra profética de D. Oscar Romero (em co-autoria). São Paulo: Paulinas, 1987.
  • Espiritualidade da libertação: estrutura e conteúdos. São Paulo: Loyola, 1992, ISBN 9788515006809
  • Solidários pelo reino (em co-autoria com Juan Hernandez Pico). São Paulo: Loyola, 1992, ISBN 9788515005932
  • Jesus, o Libertador. I - A História de Jesus de Nazaré. Petrópolis: Vozes, 1994, 392 p. ISBN 85-326-0980-5
  • A fé em Jesus Cristo: ensaio a partir das vítimas. Petrópolis: Vozes, 2001, ISBN 8532623948
  • Fora dos pobres não há salvação: pequenos ensaios utópico-proféticos. São Paulo: Paulinas, 2008, ISBN 978-85-356-2173-0

Prêmios

  • Doutor Honoris Causa pelo Instituto de Direitos Humanos Pedro Arrupe e da Faculdade de Direito da Universidade de Deusto, na Espanha, em 20094 .

Ver também

A respeito de Sobrino, confira:

Referências

  1. BOMBONATTO, Vera. (julho/agosto 2007). "O compromisso de descer da cruz os pobres" (PDF). Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura 3 (12): 6. São Paulo: Paulinas. ISSN 1809-2888. Página visitada em 17 de julho de 2010.
  2. "Sobrino returns to SLU after 15 years" (PDF) (em inglês). Universitas 33 (1): 4. Saint Louis: Saint Louis University. Página visitada em 17 de julho de 2010.
  3. Notificação. Congregação para a Doutrina da Fé (26 de novembro de 2006). Página visitada em 31 de outubro de 2011.
  4. Jon Sobrino, doutor 'honoris causa' pela Universidade de Deusto, página do Instituto Humanitas, Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Ligações externas


Série TEÓLOGOS DE SUCESSO: Juan Luiz Ruiz de la Peña









Juan Luis Ruiz de la Peña ( Vegadeo , Asturias , 01 de outubro de 1937 - 27 de setembro de 1996 ) foi um teólogo espanhol , irmão de professores Juan Ignacio e Alvaro Ruiz de la Peña.

Biografia

Com a eclosão da Guerra Civil , sua família, católico e conservador partiu de Oviedo , a oeste das Astúrias, em busca de refúgio. Na conclusão da guerra, Juan Luis realizado o ensino médio no Colégio Hispania, Oviedo. Em janeiro de 1954, ele entrou para o Seminário de Oviedo e foi ordenado sacerdote em 1961. Posteriormente, continuou seus estudos em Roma, na Universidade Gregoriana , onde foi professor na jesuíta Juan Alfaro . Ele também estudou no Pontifício Instituto de Música Sacra , com especialização em piano e órgão.
Ele foi nomeado professor de Escatologia , dando aulas de Antropologia Teológica e Teologia da Criação e iniciou um diálogo com a filosofia marxista . Em 1964 foi nomeado professor de teologia sistemática no Seminário de Oviedo. Ele ensinou 1971-1976 na Faculdade de Teologia do Norte , e foi professor de Antropologia Teológica e Escatologia na Universidade Pontifícia de Salamanca . Ele foi professor visitante na Universidade de Comillas e membro do Instituto de Estudos Religiosos da Universidade de Oviedo . Ele foi um dos fundadores da edição espanhola da revista Communio. International Journal of Theology .

Obras

  • Teologia da Criação
  • A criação de Páscoa
  • O dom de Deus
  • Imagem de Deus
  • O homem e sua morte. Teológico Current Anthropology (1971)
  • A outra dimensão. Christian Escatologia (1975)
  • Morte e humanista do marxismo (1978)
  • O sentido último (1980)
  • Crise e defesa da fé 

Entrevista com Monsenhor Ladaria




De http://www.30giorni.it/articoli_id_19031_l6.htm

VATICANO
Extraído do número 08 - 2008

ENCONTROS. O novo secretário da Congregação para a Doutrina da Fé

Um jesuíta no ex-Santo Ofício


Depois de dois salesianos, foi chamado um filho de Santo Inácio para ocupar o cargo número dois da primeira entre as Congregações da Cúria Romana. Entrevista com o arcebispo Luis Francisco Ladaria Ferrer

Entrevista com Luis Francisco Ladaria Ferrer de Gianni Cardinale

      Depois de dois salesianos, a Congregação para a Doutrina da Fé tem um jesuíta como novo secretário. Com efeito, a 9 de julho Bento XVI nomeou como número dois do dicastério que dirigiu de 1981 a 2005 o espanhol Luis Francisco Ladaria Ferrer, 64 anos, originário de Manacor, a segunda cidade, depois de Palma, da ilha de Maiorca nas Baleares.
      Ladaria assume o lugar do salesiano Angelo Amato, promovido a prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, o qual, por sua vez, sucedera um outro filho de Dom Bosco, o então arcebispo Tarcisio Bertone, que na qualidade de cardeal Secretário de Estado, consagrou bispo monsenhor Ladaria na Basílica de São João de Latrão no dia 26 de julho passado.
      30Dias encontrou o novo secretário no Palácio do Santo Ofício, no regresso de suas férias, passadas na maior parte do tempo em sua terra natal. À constatação de que não estava bronzeado, monsenhor Ladaria responde sorrindo: “Depende do fato que gosto muito do mar, mas bem menos do sol...”. Antes de começar a entrevista, falando de suas origens, Ladaria nos explica que, mesmo que sua família esteja há muitas gerações estabelecida nas ilhas Baleares, talvez seus antepassados fossem provenientes do antigo Reino de Nápoles, e mais precisamente do Golfo de Policastro. Mas as conveniências terminam aqui. E começamos a entrevista.

Bento XVI recebe monsenhor Ladaria Ferrer em Castel Gandolfo, dia 10 de setembro de 2008 [© Osservatore Romano]
Bento XVI recebe monsenhor Ladaria Ferrer em Castel Gandolfo, dia 10 de setembro de 2008 [© Osservatore Romano]
Excelência, como nasceu a sua vocação e por que escolheu a Companhia de Jesus?
LUIS FRANCISCO LADARIA FERRER: Talvez a palavra “escolheu” não seja correta. Não fui eu a escolher, mas vi uma estrada na minha frente me encaminhei. Uma estrada, a da vocação, que comecei a ver quando freqüentei o Colégio dos Jesuítas em Palma de Maiorca e, mais tarde, durante os estudos de Jurisprudência em Madri. Eu estudava Direito e me dava conta de que não era o que eu queria. Queria ser sacerdote e a Companhia de Jesus, que eu tinha conhecido, me agradava. Portanto foi um caminho aberto à minha frente e ao qual me dirigi com naturalidade.
A sua família era muito religiosa?
LADARIA FERRER: Sim.
Há alguma figura de sacerdote que o impressionou particularmente?
LADARIA FERRER: Certamente, tenho sempre em mente o rosto dos padres do Colégio que freqüentei, o antiqüíssimo Colégio de Monte Sion, fundado em 1561; mas foi todo o ambiente, o ar que se respirava, que me levou a dedicar tudo ao Senhor.
O senhor fez seus votos religiosos em 1968. Quais são as suas recordações daquele ano tão agitado, ao menos fora da Espanha?
LADARIA FERRER: Também na Espanha foi um ano agitado. Mas eu fiz meus votos tranqüilamente, sem dar muita importância àquelas agitações. Eu gostava de estudar e estudava.
O senhor nunca teve o fascínio de 1968?
LADARIA FERRER: Bem, creio que todos fomos de algum modo condicionados pelos acontecimentos de 1968, mas no meu caso não de modo especial.
Quem foram seus professores?
LADARIA FERRER: Com muito prazer recordo o nome de alguns. Em Frankfurt, na Alemanha, onde estudei Teologia, tive como professor padre Grillmeier, que mais tarde se tornaria cardeal, e era um grande estudioso de Dogmática; padre Otto Semmelroth e padre Herman Josef Sieben, no início de sua carreira acadêmica e que mais tarde se tornaria um dos melhores especialistas no mundo da idéia conciliar. Em Roma me formei com padre Antonio Orbe, grande patrólogo, e tive como professores os padres Juan Alfaro e Zoltan Alszeghy.
O senhor estudou também na Alemanha. Nunca encontrou o professor Ratzinger?
LADARIA FERRER: Pessoalmente não. Mas conheci os seus escritos. Em particular a Introdução ao cristianismo que era a sua obra mais conhecida, mas também o seu livro sobre o povo de Deus. Recordo que na nossa faculdade circulavam até apostilas dos cursos do então professor Ratzinger.
E quando conheceu pessoalmente o atual Pontífice?
LADARIA FERRER: Em 1992, quando entrei para a Comissão Teológica Internacional. Recordo com prazer as discussões aprofundadas que se faziam sobre o tema das relações entre cristianismo e as outras religiões. As intervenções do cardeal Ratzinger eram sempre muito precisas e profundas e a discussão era sempre de alto nível. O trabalho desta Comissão é muito interessante seja pelos temas tratados, sempre de grande importância, seja pela atmosfera internacional, e católica, que ali se respira.
O senhor participou da redação da Dominus Iesus?
LADARIA FERRER: Não.
A sua tese de graduação na Universidade Gregoriana foi sobre Santo Hilário de Poitiers. Por que esta escolha e o que o fascinou neste santo?
LADARIA FERRER: O tema me foi proposto pelo padre Orbe que estudava este Padre da Igreja. Tive sorte porque não havia muita bibliografia sobre Santo Hilário, assim pude me dedicar melhor lendo diretamente os seus textos originais. Na época, Santo Hilário não tinha sido muito estudado, mais tarde, principalmente na França, apareceram muitas obras sobre ele e muitas traduções. Todavia, é a demonstração de que a era patrística na Igreja latina não começa com Santo Agostinho, que aliás conhecia, e muitas vezes citava, Santo Hilário.
Qual é a atualidade de Santo Hilário?
LADARIA FERRER: Não devemos nos preocupar em encontrar a atualidade nos Padres da Igreja. Devemos lê-los e aproveitá-los para podermos nos aproximar melhor da pureza da mensagem evangélica, de Jesus, e este é um valor permanente mais do que ligado à atualidade, que pela sua natureza é mutável, muda a cada minuto. Os Padres da Igreja são uma fonte que brota em uma época mais próxima à apostólica. É isso que os torna sempre atuais.
Padre Orbe era especialista em Santo Irineu e em gnosticismo...
LADARIA FERRER: De fato, era um dos maiores especialistas sobre o assunto. Escreveu muitos livros sobre esses temas, para dizer a verdade muitas vezes complicados, pois a matéria é difícil.
Por muitos anos o senhor foi professor na Gregoriana e também vice-reitor. O que aprendeu em todos estes anos?
LADARIA FERRER: O fato de ter sido vice-reitor por oito anos não é muito importante. O que conta é o ensinamento, a orientação das teses. A Gregoriana ensinou-me a viver em um ambiente internacional, com estudantes provenientes de mais de cem países, de várias línguas, raças e culturas. Todas unidas pelo amor ao estudo, mas principalmente ao Senhor e à Sua Igreja. Em uma verdadeira Universidade não só os alunos aprendem com os professores, mas acontece também o inverso. E eu aprendi muito com meus estudantes.
Quando a sua nomeação tornou-se pública, John Allen Jr. do National Catholic Repórter, reuniu algumas opiniões sobre o senhor dadas pelos seus colegas. Alguns o definiram como uma pessoa gentil e cordial...
LADARIA FERRER: Posso dizer que tento ser assim, mas são os outros que devem dizer se consigo isso...
Há também os que o definiram como conservador moderado e teologicamente centrista. O senhor se reconhece nestas definições?
LADARIA FERRER: Devo dizer que não me agradam os extremismos, nem progressistas, nem tradicionalistas. Acredito que exista uma via mediana, que é a percorrida pela maioria dos professores de Teologia aqui em Roma e na Igreja em geral, que me parece seja a via certa a ser seguida mesmo se cada um de nós tenha as suas peculiaridades, porque, graças a Deus, não nos repetimos, não somos clones.
No mundo tradicionalista a sua nomeação não agradou. Na Espanha o teólogo padre José Maria Iraburu acusou a sua obra Teologia do pecado original e da graça de não estar em conformidade com a doutrina da Igreja, enquanto que a revista Sì sì No no chegou até mesmo a escrever que o seu livro Antropologia teológica “está completamente alheio à tradição dogmática católica”. O senhor se preocupa com essas opiniões?
LADARIA FERRER: Todos são livres para criticar e dar juízos que quiserem. Se o senhor me pergunta se estou preocupado posso dizer que essas opiniões não me preocupam tanto. Por outro lado, se fui nomeado para este dicastério, presumo que minhas obras não mereçam estas opiniões.
O senhor obteve uma certa notoriedade quando a Comissão Teológica publicou o documento sobre a salvação das crianças mortas antes do batismo. Na obra, o Limbo foi definitivamente colocado fora do magistério?
LADARIA FERRER: A Comissão Teológica Internacional não tem o poder de colocar nada e ninguém para fora. Mesmo sendo formada por teólogos nomeados pelo Papa e não privados, as suas conclusões não têm valor magisterial. O documento em questão confirma que a doutrina do Limbo, que por séculos foi majoritária e dominante na reflexão teológica, nunca foi definida dogmaticamente e portanto nunca fez parte do magistério infalível. E que todavia quem quiser continuar a falar de Limbo não será por este motivo que se encontra fora da Igreja Católica. Depois disso podemos dizer que, a Comissão Teológica, considerando em conjunto os dados revelados e a vontade salvífica universal de Deus e a mediação universal de Cristo, escreveu que há vias mais adequadas para enfrentar a questão do destino das crianças mortas sem terem recebido o batismo, para as quais não se pode excluir uma esperança de salvação. Na verdade essas conclusões não são novas, nasceram perto da época do Concílio, mas recolhem os frutos de um consenso teológico atualmente muito amplo.
O que o senhor sente por ser o primeiro jesuíta a ter este encargo?
LADARIA FERRER: Devo dizer que não me coloquei este problema. Mesmo se, parece, nenhum jesuíta tenha ocupado antes este encargo. Creio que o Santo Padre me tenha escolhido não por ser jesuíta, mas por ser a pessoa mais adequada.
Monsenhor Ladaria Ferrer [© Osservatore Romano]
Monsenhor Ladaria Ferrer [© Osservatore Romano]
Como o senhor soube da sua nomeação?
LADARIA FERRER: Foi um fato muito surpreendente. Nunca pensei que teria este destino. E não só eu, pois meu nome nunca tinha sido citado pelos jornais... Até que na noite de 24 de junho me falaram que a Santa Sé pensava em dar-me este encargo. Da minha parte expus a minha situação de espírito respeito a esta perspectiva e disse que de qualquer modo me submeteria à decisão do Santo Padre.
Como jesuíta teve que pedir permissão também para o prepósito geral?
LADARIA FERRER: Sim, nós jesuítas temos o voto que impede receber encargos episcopais a não ser por obediência. E o prepósito geral disse-me que devia aceitar a vontade do Papa.
Adolfo Nicolás, prepósito geral dos Jesuítas desde janeiro, é espanhol como o senhor. O senhor o conhece bem?
LADARIA FERRER: Tinha ouvido falar dele, conhecia-o de nome, mas não pessoalmente. Encontrei-o pela primeira vez apenas no dia da sua eleição em 20 de janeiro. Depois fui visitá-lo pela questão da minha nomeação.
Um outro jesuíta espanhol muito conhecido é Antonio Martínez Camino que, como auxiliar de Madri, tornou-se o primeiro seguidor de Santo Inácio a ser bispo em terra espanhola. O senhor o conhece?
LADARIA FERRER: Certamente. Foi meu aluno e portanto conheço-o bem. E somos bons amigos.
O senhor mora em Roma desde 1979. O que pensa da Espanha de hoje? O senhor se reconhece nela?
LADARIA FERRER: Sem dúvida a Espanha mudou muito: na ordem política, religiosa, cultura, econômica. Porém, quando volto ao meu país para descansar não me dedico a grandes questões doutrinais ou políticas. Reencontro minha família, meus amigos, reencontro o meu ambiente, e o meu ambiente de sempre não mudou muito.
Recentemente o seu superior, o cardeal Levada, quando estava na Espanha para uma Conferência, manifestou sua dor pelas providências anunciadas pelo governo Zapatero com relação à ampliação do direito ao aborto...
LADARIA FERRER: De fato, com relação aos temas éticos, a Espanha vai à deriva de modo preocupante.
Além dos livros de teologia o senhor tem algum hobby?
LADARIA FERRER: Gosto de ouvir música. Clássica de preferência. Johann Sebastian Bach em particular, mas sem desprezar os outros.
Paixões esportivas?
LADARIA FERRER: Não, acompanho alguns grandes eventos, mas de muito longe.
O senhor, junto com o cardeal Levada foram recebidos pelo Papa em Castel Gandolfo no dia 10 de setembro. Foi a primeira audiência como secretário da Congregação. O que pode nos dizer sobre o encontro?
LADARIA FERRER: Foi uma bela experiência. O Santo Padre, como sempre, foi muito acolhedor e gentil.
Quais são as principais questões que a Congregação deve enfrentar?
LADARIA FERRER: Posso dizer que a nossa Congregação dedica-se a promover e tutelar a fé católica. Primeiro promover e depois, se necessário, tutelar. Mas não posso entrar em detalhes. A nossa Congregação move-se sempre com discrição e fala exclusivamente através de atos.

Resenha sobre a Antropologia Teológica de Ladária


 Bento XVI recebe monsenhor Ladaria Ferrer em Castel Gandolfo, dia 10 de setembro de 2008 [© Osservatore Romano]
Monsenhor Ladaria Ferrer [© Osservatore Romano]





Vejamos, antes de adentrarmos a visão antropológica-teológica de Luis Ladária, uma célere introdução, à guisa de exposição didática, aos principais conceitos da Antroplogia mediante o estudo, outrora, feito por nós, alunos de Antropologia Cultural e Teológica por ocasião da leitura do livro de Luiz Gonzaga de Mello[1]
O componente verbal pode ser analisado em três dimensões: a) do ponto de vista objetivo; b) do ponto de vista subjetivo e c) do ponto de vista da utilidade. Na teoria, há duas partes distintas a considerar:
Classe I: material experimental;
                 I a: nexo lógico;
                 I b: nexo não lógico.
Classe II:  material não experimental;
                  I a: nexo lógico;
                  I b: nexo não lógico.
Podemos ter, do ponto de vista objetivo, a teoria em si, sem levar em consideração quem a produziu ou quem as escolhe, se são úteis ou não.
Em ciências humanas, não são objetos de estudo apenas as ações concretas, mas também as verbalizações e as intenções do sujeito do estudo.
Para Pareto, a ciência deve criar teorias lógico-experimentais. Segundo ele, também, a utilização de verbalização como forma de defesa dos próprios interesses ou dos interesses de classe é uma forma de derivação. Acredita que o homem age do concreto para o abstrato e não o inverso.
Um fato comprovado é o suficiente para destruir uma teoria, pois eles não estão sujeitos às leis e às teorias científicas; ao contrário, estas devem estar baseadas nos fatos.
Nossa exposição levará em conta os três níveis de análises consideradas por Pareto: o objetivo, o subjetivo e o de utilidade.
Considere-se as contribuições greco-romanas para a formação da antropologia. De certo, ela foi gigantesca e nunca convenientemente avaliada. Além desses povos, os assírios, sumérios, babilônicos, egípcios, fenícios e hindus deram contribuição. Dos greco-romanos, Heródoto, Sócrates, Platão, Aristóteles, Hipócrates, Lucrécio, César, Tácito, Galeno e Marco Aurélio são nomes eminentes. Da Idade Média, os grandes nomes são Santo Agostinho, Avicena e Averróis. Da Idade Moderna, o grande nome foi Bacon. A verdade é que todas as épocas dão uma contribuição significativa à antropologia contemporânea. Ademais, como veremos mais a frente, a maior contribuição não poderia vir de outra ciência senão da Teologia, a rainha das ciências, que submete até mesmo a Filosofia.
Para a antropologia, os fatos mais significativos foram: grande desenvolvimento da antropologia cultural; sistematização da antropologia física e o surgimento da arqueologia e da pré-história. As variadas formulações sobre a sociedade e a cultura surgidas na Europa, nos séculos XVIII e XIX, convergem para três objetivos comuns, quais sejam: origens, idade e mudança.
O desenvolvimento da antropologia cultural deveu-se principalmente às grandes descobertas marítimas. Durante o século XVI a Europa foi invadida por escritos e crônicas a respeito dos povos, até então, desconhecidos (os chamados povos exóticos). No século XVIII, todos se lançaram à tarefa de conhecer tudo a respeito do homem, pondo em prática aquela crença de que ao homem competia traçar seus próprios caminhos. O termo antropologia em sua acepção mais ampla é claramente empregado desde o final do século XVIII. O termo etnografia é empregado no início do século XIX.
Mercier divide a Antropologia. O Período de Convergência e o Período de Construção estão dentro de um só por ele considerado “ambições”.
As variadas formulações sobre a sociedade e a cultura surgidas na Europa, nos séculos XVIII e XIX, convergem para três objetivos comuns, quais sejam: origens, idade e mudança. Outro fato importante desse período foi o surgimento de várias revistas e numerosas associações científicas.
O terceiro período foi o de Construção que é uma simples continuação do segundo. Os fenômenos assumem apenas uma intensidade mais efetiva. O número de associações que são criadas, então, cresce vertiginosamente. O que diferencia este período do anterior foi o aparecimento da obra clássica de Charles Darwin – A origem das Espécies, em 1859. Nasce então, a moderna antropologia.
Por fim, o Período de Crítica, que teve início em 1900 e se dá até hoje e que é o período mais fecundo da antropologia. Cânones foram criticados e novas abordagens propostas. Houve um avanço em ciências paralelas. Os meios de comunicação progrediram muito, permitindo assim, uma divulgação e comunicação de ideias mais eficientes. A educação foi mais democratizada. O movimento universitário cresceu. A própria antropologia passou a ser disciplina obrigatória em muitas universidades. Em suma, esse período se apresenta em ebulição. Muito se espera dos estudos nos países do Terceiro Mundo.
Os estudos antropológicos são deveras salutares para o aprendizado e a condução acadêmica na área teológica, pois dispõem para nós um ferramentário teórico e epistemológico muito rico que devem ser postos em prática no labor teológico.
            Uma vez que já recapitulamos um pouco do que aprendemos com Gonzaga de Mello e também com o professor da disciplina pertinente, a saber, Luis Guatura, passemos uma rápida biografia de Ladária, o autor do livro que estamos resenhando.
Luis Francisco Ladaria Ferrer nasceu em Manacor em 19 de abril de 1944. É um teólogo jesuíta espanhol, professor da Universidade Gregoriana de Roma e nomeado pelo papa Bento XVI secretário da Congregação para a Doutrina da Fé (a herdeira direta do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição). Foi sagrado arcebispo em 26 de julho de 2008. É uma das maiores referências teológicas da Cúria Romana. Cursou Direito pela Universidade Complutense de Madri, graduando-se em 1966. Neste mesmo ano ingressou na Companhia de Jesus. Fez seus estudos de Filosofia e Teologia na Universidade Pontifícia Comillas (Madri) e na escola de Filosofia e Teologia São Jorge, em Main, Alemanha. Emitiu os votos religiosos em 1968. Foi ordenado sacerdote no dia 25 de julho de 1973. Doutorou-se em Teologia no ano de 1975 pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, especializando-se em Antropologia Teológica. Ainda em 1975, tornou-se professor de teologia dogmática na Universidade Pontifícia Comillas. Em 1984 passou a lecionar na Universidade Gregoriana, onde foi vice-reitor (1986-1994). Entre 1992 a 1997 atuou como membro da Comissão Teológica Internacional. Desde março de 2004 é o secretário desta Comissão. Em 1995, foi nomeado consultor da Congregação para a Doutrina da Fé. Em julho de 2008 foi nomeado secretário da Congregação para Doutrina da Fé e elevado à condição de Arcebispo Titular de Tibica.
Seus livros principais, em português:

    Introdução à Antropologia Teológica, Edições Loyola, São Paulo, 1998.
    História dos dogmas 2 - O homem e sua salvação, em co-autoria, Edições Loyola, 2003.
    O Deus Vivo e Verdadeiro: o Mistério da Trindade, Edições Loyola, São Paulo, 2005.
Isto posto, resta-nos começar a nossa resenha. E o faremos com a preocupação de que o leitor nos entenda e possa, se isto for possível, ter ao alcance uma exposição da antropologia de Ladária que lhe permita conhecer o cerne da sua mensagem sem precisar sequer abrir seus livros.
Pois bem. Iniciemos pelas áreas de estudo do homem em seus diversificados aspectos. As áreas para se tratar do homem são várias: filosofia, psicologia, medicina, sociologia etc. A antropologia é uma delas. O termo “Antropologia” torna-se, em muitos casos, um termo equívoco. É evidente que a palavra nos remete ao homem, nos mostra que ele é o objeto material para se estudar Antropologia. Mas é importante enfatizar do que o homem é em sua relação com o Deus Uno e Trino revelado em Cristo. Ao mesmo tempo, indica-nos pelo menos em linhas gerais, o método que precisamos seguir para alcançar o objetivo: o estudo da revelação cristã.
Perceba que Ladária caminha de modo didático, pedagógico, mas, simultaneamente, profundo, pois, de pronto, afirma a relação homem-Deus como sendo o pilar de sustentação de toda a Antropologia. Todavia, esta abordagem, temos que ser honestos, não recebe acolhimento nas esferas acadêmicas seculares.
Mas voltemos à revelação cristã.
Jesus Cristo é, com efeito, o revelador do Pai. Quando, na teologia cristã, se fala de revelação, é Deus que se dá a conhecer. Aliás, é sempre Ele que dá o primeiro passo no relacionamento com o homem. A própria revelação cristã, que nos fala de Jesus Cristo como Filho encarnado e de nosso encontro com Ele na fé, pressupõe um conhecimento e uma experiência o que significa ser o homem um sujeito livre e responsável por si mesmo. A salvação vem pela Graça a todos, mas cabe também ao homem sua participação, seu passo em direção a Deus: a fé comprovada pelas obras.
A revelação de Deus, personificada em Jesus Cristo e que Paulo chamará de mistérion, apresenta-se a nós de formas articuladas, não simplesmente de um modo global e superficial em que não se dá a possibilidade de distinguir aspectos e pontos de vista. Pelo contrário, para ter uma visão completa do homem do ponto de vista da fé cristã, é preciso distinguir entre os aspectos fundamentais de nossa referência a Deus. Ou seja, aprioristicamente, o ser humano se define pela sua relação com Deus: todos são criaturas; se alguns se convertem a Jesus Cristo, estes mesmos passam a ser também filhos de Deus; assim, também se tornam irmãos em relação àqueles que também se tornaram filhos.
O estudo do homem do ponto de vista da revelação divina, articulado do modo que expusemos brevemente, constitui o objeto fundamental da Antropologia Teológica.
Também a Escatologia se relaciona com a Antropologia Teológica. É o estado de plenitude da humanidade agraciada por Deus. É preciso, outrossim, evidenciar os laços que ela tem com a Cristologia e a Eclesiologia.
A Antropologia Teológica, pelo menos em suas noções fundamentais, foi abordada na sistemática medieval em relação com a criação.

O Concílio Vaticano II, como se sabe, não dedicou nenhum documento expressamente ao homem. Mas também é claro que a Constituição Pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo contemporâneo nos oferece, sobretudo no início, uma válida síntese antropológica; com efeito, já em GS 3 somos informados de que o ponto central da exposição será “o homem considerado em sua unidade e totalidade, corpo e alma, coração e consciência, inteligência e vontade”. Ou seja, é uma celebração ao homem, mas não da mesma forma que fizeram os renascentistas humanistas da Europa pós-medieval. Estes enalteceram a liberdade humana de tal maneira que um resultado disto foi a secularização social humana, o agnosticismo e o ateísmo pós-moderno. Ao contrário, a Gaudium et Spes enaltece o homem como um hólos dependente de Deus, livre, sim, mas nas mãos do Eterno.
Contudo, o mais importante não é o tratamento da matéria antropológica restrita; pelo contrário, a própria abundância de questões a estudar pode alertar contra sínteses apressadas demais; trata-se, antes de tudo da consciência de que é possível agregar em torno do homem, como objeto fundamental, uma série de conteúdos e disciplinas teológicas ou não, até agora, dispersas. Não obstante, também, mesmo partindo dessa convicção, estudos parciais podem e devem ser realizados. Parece que, pelo menos, alguns planos de estudo de faculdades teológicas procuram unir as matérias antropológicas segundo uma certa unidade, ao lado de outros núcleos fundamentais da dogmática, núcleo cristológico-trinitário e núcleo eclesiológico-sacramental. A FAECAD, por exemplo, o faz atrelando a Antropologia Cultural à Antropologia Teológica.
Querendo fazer um breve balanço da situação concreta da antropologia como disciplina teológica hoje, partindo do programa traçado, pode-se verificar que a integração da “antropologia teológica” não é nem uniforme nem universal.
O mundo que nos circunda é também criatura de Deus, e o homem acha-se inserido neste mundo, é parte do cosmos, não está nele como um hóspede em casa estranha. O homem é uma criatura entre as criaturas, mesmo se neste mundo criado ele tenha uma evidente centralidade. É uma criatura particular, sem dúvida, mas a particularidade, embora a determine, de modo algum limita a condição de criatura. A reflexão sobre a criação, que diz respeito às noções de Deus e de homem, ajuda-nos a compreender o que somos e a contemplar uma dimensão fundamental e nossa existência, de nosso ser no mundo.
Embora o Novo Testamento (NT), à primeira vista, não mencione diretamente a noção mesma ou o fato da criação (certamente, o NT considera estabelecido que tudo foi criado por Deus), esta tem importância decisiva para se compreender o significado universal de Jesus. A mensagem dos escritores do NT a cerca do tema que nos interessa não é tanto que Deus criou tudo quanto que esse Deus criador é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que tudo fez mediante seu filho.
Os primeiros padres escritores eclesiásticos, sobretudo os apologistas e os alexandrinos, viram a função cósmica de Cristo num sentido semelhante. Em diálogo com a mentalidade filosófica de seu tempo, esses padres consideraram o mundo algo harmônico, um cosmos, presidido pelo Lógos, a razão; por isso, o mundo não é algo caótico, mas ordenado.  Por isso os cristãos são aqueles que conhecem e seguem o Logos. A fé abre-nos, portanto, o caminho para a reta razão; na fé, descobrimos o verdadeiro sentido do mundo e das coisas.
Se Jesus Cristo nos reconciliou com Deus e somos criação Sua, Jesus Cristo é personagem sine qua non poderíamos dizer um “a” sobre antropologia. A mediação de Cristo foi afirmada no NT. Também a intervenção do Espírito logo foi realçada. Assim, por exemplo, diz Atenágoras: “afirmamos a Deus mediante cujo Verbo tudo foi feito e por cujo Espírito tudo é mantido”. Também, nos antigos concílios ecumênicos, foi ressaltada a distinção das funções. Nicéia, Constantinopla etc. A teologia dos últimos anos insistiu particularmente no nexo intrínseco entre a Trindade e a criação. Não à toa é que Ladaria também se especializou em Trinitariologia ou Teologia Trinitária.
Aliás, os interesses acadêmicos de Ladaria concentram-se em três áreas principais. Em primeiro lugar, a teologia patrística, com a sua tese doutoral El Espíritu Santo en San Hilario de Poitiers (1977), e outra obra entitulada El Espíritu en Clemente Alejandrino: estudio teológico-antropológico (1980). Em segundo lugar, a antropologia teológica, com as obras Antropología Teológica (1987), Introducción a la Antropología Teológica (1993) e Teología del pecado original y de la gracia (1993). Em terceiro lugar, a teologia trinitaria, com as publicações El Dios vivo y verdadero: el misterio de la Trinidad (1998) e La Trinidad, misterio de comunión (2002). Tem tratado de diversos outros temas em livros, artigos e conferências.[2]
Voltemos agora nossa atenção para o objeto central da antropologia teológica. “Quem é o homem, para que nele penses, e o ser humano, para que dele te ocupes?” (Sl 8,5). Já o salmista se interroga sobre a grandeza humana em sua fragilidade, o mistério e o paradoxo que impressionaram os pensadores de todos os tempos; basta mencionar Santo Agostinho e Pascal. O Concílio Vaticano II diz que a origem e a natureza do homem é uma questão não-resolvida, da qual ninguém pode escapar principalmente nos momentos mais importantes da vida (GS21). E essa questão sobre o homem não é apenas um problema ou um enigma, mas constitui também, em termos estritos, um mistério, reflexo do mistério de Deus (GS22; 1Co 15:51; Ef 3:3,4,9; 5:32; Cl 1:26,27; 4:3; Ap 17:5 e outras).
Em sua obra Introducción a la Antropología Teológica, Ladaria reconhece que a reflexão teológica sobre o ser humano necessita como base os dados e as intuições antropológicas que provêem da filosofía, da psicologia, da medicina, da sociologia, etc. Precisa que sua abordagem do tema da antropologia consiste numa contemplação destes conteúdos desde o ponto de vista do que é o ser humano na sua relação com o Deus uno e trino revelado em Cristo, através do estudo da revelação cristã.[3]
A afirmação sobre a criação do homem à imagem e semelhança de Deus encontra-se, como se sabe, no documento sacerdotal (P) (Gn 1:26-27). Contudo, o que mais foi dito na fonte javista já prepara as afirmações desses dois versículos do primeiro capítulo: o homem, formado por Deus a partir do pó da terra, recebe a vida de Deus; deve trabalhar o jardim, dá o nome aos animais que estão ao seu serviço, precisa de companhia adequada à sua condição.
A criação é um acontecimento entre Deus e o homem; o homem, cada homem, foi criado para existir em relação com Deus; nisso, consistirá sua condição de imagem (na concepção moral).
É importante recordar que, ao tratarmos do tema do pecado, estamos refletindo sobre a realidade do “homem pecador”, a qual está inserida numa história de pecado que, segundo os princípios bíblicos, tem início no princípio da humanidade (Gn 1-3) e se estende por toda a humanidade. Deste modo, a história da igreja se ocupou em marcar a sua reflexão acerca do pecado unindo-se à doutrina do “pecado original”, realçando o primeiro pecado “configurado” na história e, ao mesmo tempo, discutindo seus efeitos auferidos sobre cada ser humano. Atualmente, a doutrina do pecado original tem seu sentido mais amplo ao ser compreendido sob a ótica do princípio da solidariedade dos homens em Cristo, vendo o lado negativo e desobediente do ser humano e sua relação com a bondade misericordiosa de Deus (Graça). Esta razão, entre outras, ajuda a compreender o tema do pecado original com um acentuado aspecto teológico e cristológico, tal como com a soteriologia, ressaltando o valor histórico dos primeiros capítulos de Gênesis e a profunda relação com o aspecto salvífico oferecido por Jesus (Rm 5:12-21 – salvação vem pela graça mediante a fé justificada em Cristo e provada pelas obras (fórmula salvífica)).
Sendo assim, a descrição inicial de Gênesis nos ajuda a compreender que há “um ato pecaminoso no início que determina, de certo modo, o destino posterior dos homens; há uma espécie de concatenação de pecados e de consequências do pecado, que nos mostra que o mal não vem de Deus, mas, aprioristicamente, de Satã, e, aposterioristicamente, do homem”. Portanto, podemos concluir que “o pecado gera pecado; o homem é integralmente responsável por seu destino sobre a terra” (Luis F. LADARIA, Introdução à Antropologia Teológica, 1998, p. 87). Isto quer mostrar que o pecado primeiro que entrou no mundo expressa a força do pecado, arrastando todos os homens e alertando que cada um peca pessoalmente. Assim, à luz do pensamento de Paulo no trecho aos Romanos (5,12-21), pela desobediência de um (Adão), todos são constituídos pecadores; do mesmo modo, pela obediência de um (Cristo), todos são constituídos justos. A força do pecado (partindo de Adão) está em todos, estabelecendo-se como algo prévio em nossas opções pessoais. 
Historicamente, após as fundamentações testamentárias, a escola pelagiana – julgando Adão como um mau exemplo – será fortemente questionada por Agostinho, o qual exercerá sadia e resoluta posição frente à controvérsia herética. Tanto os apontamentos agostinianos, como os escritos paulinos, muito ajudarão os concílios (sobremaneira o de Trento) a elaborarem a doutrina do pecado original em perfeita evidência com a função salvífica de Jesus Cristo. É válido, neste sentido, lembrar que, após a crise pelagiana, Lutero será o próximo a questionar a validade do batismo e a receber a doutrina oficial do Concílio de Trento com os cânones acerca do decreto “de peccato originali”, o qual constitui a declaração magisterial de mais alto nível e mais completa sobre o assunto. 
Uma explicação terminológica! Quando se usa o termo “pecado original” é apenas uma analogia em relação ao pecado pessoal. O uso do termo “pecado” num sentido unívoco levou, no passado, a dificuldades insuperáveis, quando se quis, por exemplo, determinar em que sentido o pecado original é voluntário, sendo a voluntariedade um elemento essencial na noção de pecado pessoal. Da mesma forma, ao falarmos de pecado original, a teologia tradicional insiste em registrar a distinção entre o chamado “pecado original originante” e o “pecado original originado”. O primeiro é o pecado cometido no início da história, que deu origem ao mal em que agora vivemos e que experimentamos; o segundo são exatamente essas conseqüências negativas do pecado em nós, nossa situação de isolamento em relação a Deus que tem no pecado “originante” sua causa e seu fundamento. (cf. op.cit., p.93).
Além das diversas anotações, que muito nos ajudam a compreender que o pecado original deve ser lido sob diferentes posturas, paira uma “dúvida eterna” entre grande parte dos teólogos: “De que modo podemos compreender o pecado de Adão e como ele se reproduz?”. Sem querer uma obrigação maior sobre tal assunto, basta lembrar que, em algum momento, a história de pecado teve o seu início, e, como lembra Ladária, sua universalidade parece não admitir outra explicação do que a de situar esse momento nos inícios da história humana, permitindo-nos compreender que há um princípio da misericórdia de Deus, oferecida pela salvação deixada por Jesus. O pecado não é mais forte que Cristo! 
Por isso, a teologia do pecado original não poderá ser analisada numa visão parcial da situação da humanidade diante de Deus. Mesmo sendo difícil falar dos efeitos do pecado original, resta-nos, do ponto de vista moral, recordar que um assunto dogmático tão profundo questiona a liberdade do ser humano (fragilizada pela concupiscência), o qual se sente tolido para seguir, fácil e espontaneamente, os impulsos do Espírito. Portanto, o pecado original deve ser lido e entendido na plena visão do plano original entre Deus e a humanidade, aguardando o lugar definitivo na consumação escatológica.
A Vida e a ação de Jesus mostram, claramente, que a salvação que Ele realiza em nome de Deus não é tirar-nos de nossa humanidade, mas, antes, tirar-nos daquilo que nos impede de sermos humanos. É nesse sentido que podemos entender, por exemplos, os relatos evangélicos que narram as curas e os exorcismos operados por Jesus: são gestos salvadores que devolvem às pessoas a plena capacidade de humanidade.
Desse modo, fica mais fácil entender que a salvação não é apenas conserto da natureza corrompida pelo pecado, mas muito mais que isso, ela é dom, acréscimo, dádiva, graça, excesso, abundância. Não se trata de refazer o que o humano foi mais de dar realização plena às suas potencialidades, isto é, fazer com que o humano seja aquilo que é chamado a ser. Por isso, a salvação aponta muito mais para o futuro que para o passado, para o que podemos ser e seremos muito mais que para o que fomos.
Na teologia e no pensamento moderno, insiste-se no fato de que o homem não tem uma alma e um corpo, mas é alma e corpo. E, na medida em que ambos são corpo e alma do homem, ele é uno: essa unidade deveria ser o aspecto principal. Somente a partir dela é possível a distinção desses dois aspectos ou dimensões, momentos, nunca partes, de seu ser. O homem é corpo, ou seja, existe no espaço e no tempo, é parte deste cosmos, encaminha-se para a morte; sua alma transcende os condicionamentos deste mundo, é imortal, e, em última análise, tudo isso tem sentido porque o homem é ser para Deus, é relacionado radicalmente a Ele. Há, no homem, uma dimensão irredutível ao material e ao mundano, ontologicamente distinta da realidade corporal. A fé cristã mantém esta concepção como algo a que não se pode renunciar, porque só assim pode ter sentido a concepção do homem criado à imagem de Deus, chamado à comunhão com Deus em cristo e à conformidade com o ressuscitado.
É preciso uma nova compreensão antropológica que se baseie, inclusive, em Jesus de Nazaré, que, para a nossa fé, é revelador do ser de Deus, mas também do ser humano. Com efeito, é Jesus que nos revela o que é o humano, ou para dizer de outra maneira, o que significa ser humano neste mundo. A compreensão do ser da humanidade, neste sentido, não parte de minha experiência de humanidade, uma experiência fragmentada e incompleta, mas sim da vida de Jesus, o novo Adão, isto é, o fundador da nova humanidade e, por isso, revelador do ser humano.
O autor constata que o ser humano é, ao mesmo tempo, o destinatário da revelação e seu objeto. Deixa para a Teologia Fundamental a reflexão sobre a pessoa como destinatária da revelação, e concentra-se na questão do ser humano como seu objeto propriamente. Sublinha o texto da GS 22 que explica que Cristo, ao nos revelar o Pai e o seu amor, também revela ao ser humano o próprio ser humano e lhe dá a conhecer sua altíssima vocação. Se lhe dá a conhecer sua identidade última e mais profunda, e o fim a que está chamado: a comunhão de vida com o próprio Deus uno e trino. Pressupõe que este destino coincide fundamentalmente com o ser do humano, que o plenifica interiormente. Para Ladaria, esta revelação salvífica justifica a pretensão do cristianismo de oferecer uma visão original do ser humano desde a fé, assim como o título da disciplina “Antropologia Teológica”.[4]
Claro que a formulação antropológica da teologia deve levar em conta os avanços da ciência, sobretudo as chamadas ciências humanas, que ajudam a compreender o significado da humanidade. Hoje, existem múltiplas antropologias, isto é, formas de compreensão do significado do humano no mundo. A antropologia neoliberal, que afirma que o ser humano é o consumo, não é a única antropologia possível nos dias de hoje, e por isso pode ser questionada. Existem, também, as antropologias indígenas que afirmam que o ser humano se realiza na festa e na dança, e não no sucesso ou no consumo.
Mas o discurso antropológico da Teologia não pode ser simplesmente funcionalista ou ideológico. Tem de ser teológico, o que significa partir da Revelação. É mister colocar a questão antropológica aos pés de Jesus e dele aprender o que significa a humanidade que partilhamos. Não posso escolher uma antropologia segundo minhas convicções ou vontades pessoais, mas sim ver qual ou quais antropologias resistem à critica de Jesus.
Claro que as ciências humanas podem ajudar-nos a compreender o que Jesus nos revela sobre nossa humanidade, e assim auxiliar-nos a distinguir aquilo que constrói o humano daquilo que não o constrói. Mas o cristão não perde de vista que a Revelação, de Deus e do humano, vem de Jesus. Aqui, desnecessário dizê-lo, reside toda a importância da Cristologia: o cruzamento da história de Deus com a história humana, indicando o caminho da salvação.
E podemos então perguntar-nos se seria possível elaborar um modelo teológico e até mesmo filosófico da pessoa sem recorrer, por exemplo, ao conceito de "alma" enquanto entidade substancial dotada de "vida" própria, subsistente e independente do corpo. Da mesma forma se poderá perguntar se não será possível prescindir do conceito de "espírito", tomado no sentido igualmente substancial em oposição a matéria. Luis Ladaria reconhece que hoje "não poucas das críticas que de diversos pontos de vista são feitas à noção de 'alma' e às ideias de imortalidade, etc., que a acompanham, se devem às dificuldades suscitadas pela (noção de) 'substância espiritual', como distinta da matéria e constitutiva como esta do ser do homem. Talvez, estes problemas possam ser evitados, se procurarmos regressar à noção original de “espírito” na antropologia cristã. Com efeito, o espírito não é nem nas fontes bíblicas, nem nas fontes patrísticas, primariamente, uma substância espiritual que se distingue do corpo, mas sim aquela realidade divina por meio da qual Deus se comunica ao homem e o torna participante da sua própria vida. Mais do que à categoria de substância, faz-se referência à de relação, de encontro interpessoal, comunhão de vida, inserção em Jesus (cf. 1 Co 6:17); e isto não como algo que afeta apenas um aspecto do homem, mas sim como algo que eleva a uma outra dimensão todo o seu ser. Deus chama todo o homem e o homem todo, na criação realmente existente, à comunhão com ele por Cristo e no Espírito Santo. É evidente que esta chamada pessoal de comunhão, que o homem pode recusar, mas que nem por isso determina menos o seu ser, torna-se possível pela existência de uma determinada estrutura psicofísica (...) que foi precisamente desejada por Deus para tornar possível esta comunhão. Tenha-se além disso presente que este chamamento divino determina o substrato criatural profundo do homem, fá-lo ser aquilo que é. A transcendência do homem sobre o meramente mundano, a sua capacidade de superar os condicionalismos deste mundo, bem como a sua imortalidade derivam portanto do facto deste chamamento à comunhão com Deus como determinante do seu ser criatural. 'Alma' e ser do homem enquanto derivado deste convite de Deus à participação na sua vida, vêm por isso mesmo a coincidir. O ser pessoal do homem, pressuposta a sua constituição psicossomática, está constituído por esta possibilidade que se lhe oferece de entrar em comunhão com Deus. Porque este chamamento do Deus fiel e omnipotente sustém o homem não apenas nesta vida, mas também depois da morte, tem sentido falar da alma do homem como do seu 'eu' subsistente para além da morte; e não esqueçamos que o “eu” tem sentido com um “tu”. Vê-se claramente que, como em Ladaria, num novo modelo, relacional mais que substancial, conceitos tradicionais como o de "alma" e "espírito" adquirem significados radicalmente novos, mesmo que esses significados correspondam a um certo "regresso às origens" da teologia cristã
Quando o apóstolo dos gentios afirma que “se Cristo não ressuscitou então a nossa pregação é vazia e vazia também nossa fé” (I Cor. 15,14s), ele coloca nesta afirmação o pressuposto fundamental da fé cristã na ressurreição de Jesus. Na antropologia teológica de Ladária, dá-se a ideia de realização do reino de Deus, como cumprimento da salvação escatológica, e a esperança cristã se faz muito presente em sua obra.
É possível afirmar que a realização do homem como imagem e semelhança de Deus se dará somente na experiência da ressurreição definitiva. É no eschaton que o homem se realizará plenamente e o fundamento dessa realização é Jesus Cristo.
É visível e compreensível, o tema da salvação como realização plena da experiência de Deus no homem. O homem espera a realização de seu destino e, pela experiência humana situada no mundo, ele se percebe como natureza, destinado a Deus. É no sentido de desejo de realização humana como esperança que se pode falar do reino de Deus como esperança cristã e das promessas da parte de Deus já feitas a nossos pais na fé. O reino representa o revelar pleno da Criação e esta plenitude se dará na escatologia. É Deus quem promete, e deste modo, a esperança escatológica se apoia em Deus. A reflexão antropológica em escatologia pode se reconhecer com uma função limitada, pois tal realidade depende de Deus e não do ser humano. A antropologia constitui apenas um terreno sobre o qual se pode argumentar sobre uma esperança escatológica cristã com abordagem universalista, mas não está no poder humano satisfazer tal esperança, senão somente em Deus.
Ladaria assinala como dimensões fundamentais de nossa referência a Deus a chamada à filiação divina, à imagem da filiação divina de Jesus; e a nossa consistência própria como criaturas livres feitas à imagem e semelhança de Deus, chamados a viver em comunidade, e capazes de rechaçar ao nosso Criador e seus projetos. Daí enumera as três dimensões que compõem o tratado de antropologia teológica: a nossa criaturidade, a nossa condição de pecadores, e a nossa condição de “agraçados”.[5]
O autor expõe o desenvolvimento destas dimensões na dogmática ao longo da história da teologia, até os tempos pós-conciliares em que evoluiu o tratado de antropologia teológica como tal. Constata a importância da reflexão de Karl Rahner em clave do método transcendental para assentar as bases de uma renovação das até então diversas matérias teológicas numa unidade coerente, assim como o aprofundamento de Rahner na relação da antropologia com a cristologia. Reconhece a influência deste autor na teologia de Gaudium et Spes, que diante das perguntas antropológicas suscitadas das inquietudes do coração humano, oferece uma resposta cristológica. É à luz do Verbo encarnado, imagem do Deus invisível, que se esclarece o mistério do ser humano, o qual encontra em Cristo sua plena realização, seu paradigma de ser humano perfeito. Ladaria se declara partidário desta doutrina conciliar, mas não acriticamente, considerando que deve iluminar de modo decisivo todo o tratado da antropologia teológica porque contribui à sua consolidação de una forma unitária e completa.[6]
A mais importante contribuição que a teologia contemporânea ofereceu em vista de uma motivação e interpretação antropológica dos enunciados escatológicos foi apresentada por Karl Rahner. Para este, o que é fundamental para a escatologia é, de um lado, o caráter oculto do futuro cumprimento escatológico, de outro, a relacionalidade do homem, como ser histórico, a este futuro. A dimensão escatológica como condição de inteireza do homem como salvação, a escatologia como escatologia universal e individual, sendo sempre o homem indivíduo e ser que existe na comunidade.
Quando se fala de futuro, como certeza diante de um presente que se apresenta ao homem de forma ainda fragmentada, a solução para tal dificuldade é a pessoa de Jesus Cristo, pois nela já se faz presente ao homem a certeza do futuro salvífico e da realização humana; certeza que já é realidade legível em Jesus Cristo. Em Jesus toda humanidade se vê realizada no seu desejo e necessidade de salvação.
Nosso autor faz um passeio pelos diversos manuais e textos sobre a antropologia teológica que surgiram na esteira do Concilio Vaticano II, delineando suas respetivas estruturas e distribuições sistemáticas. Expõe a ordem seguida pela maioria dos autores na sequência seguinte: criação → pecado → graça. Mas há outros autores (como G. Colzani y L. Serenthà) que mudam esta ordem tradicional para começar com a inserção do ser humano em Cristo, quer dizer com a graça, antes de proceder com a historicidade do ser humano exposta em térmos que abrangem a teologia da criação e do pecado. Este novo esquema prioriza o nexo lógico sobre o cronológico dos acontecimentos. Ladaria reconhece que esta disposição das dimensões do tratado de antropologia teológica deixa transparecer o projeto de Deus com maior claridade, mesmo que avalia que segue menos a ordem da experiência humana e por conseguinte não facilita o diálogo com as pessoas que não partilham a fé cristã. Deixa que o tempo confirme se estas novas tentativas de renovação vão se tornar normativas, enquanto que suas próprias obras de antropologia teológica revelam sua opção para a ordem mais bem histórica de criação → pecado → graça . No entanto, na estrutura básica dos capítulos de Antropología Teológica procura deixar em claro a primazia da graça.
No seu livro Teología del pecado original y de la gracia, uma reelaboração da maior parte de Antropología Teológica, o autor constata que a maior tendência no ensino teológico tem sido a de agrupar as doutrinas da criação e do pecado numa primeira parte, para serem seguidas por um tratamento da graça numa segunda parte. Mesmo assim, ele segue mais bem o esquema novedoso (original) de J. L. Ruíz de la Peña, que trata da criação sob o título “antropologia teológica fundamental”, e do pecado e da graça sob o título “antropologia teológica especial”. O ponto de partida neste seu volume da chamada “antropologia teológica especial” é a oferta da graça de Deus, e segue-se uma consideração da resposta humana a esta oferta, seja de rechaço, seja de acolhida do dom oferecido[7] (fé) – por isto, insisto na fórmula que sistematizei: “a salvação vem pela Graça mediante a fé justificada em Cristo e provada pela fé”.
Em sua obra Introducción a la Antropología Teológica e em suas contribuições para a obra-coletânea sob a direção de B. Sesboüé, O homem e sua salvação (séculos V-XVII): antropologia cristã, Ladaria inclui um capítulo sobre a escatologia, na lógica de que uma abordagem da antropologia teológica completa-se com esta referência à plena realização do projeto de Deus sobre o ser humano e sobre o mundo.
Dentro desta ordem sistemática das dimensões que compõem o tratado de Antropologia Teológica, podemos constatar certas opções de conteúdo de parte de nosso autor em termos do desenvolvimento de alguns temas “clássicos” que outros autores apenas mencionam. Um exemplo é a controvérsia “de auxiliis”, e outro ainda é a sua exposição da linguagem tradicional sobre as diferentes “classes” de graça (sanante/elevante, criada/incriada, atual/habitual, etc.). Ladaria acentua o tema do “sobrenatural” e procura evitar os perigos desta hipótese ao insistir em chamar tal condição de “supracriatural”, como veremos a seguir. Combina o rigor no tratamento dos dados disponíveis na Tradição da teologia com o esforço de pensar novas formas de expressar os tesouros da fé cristã, numa linguagem mais adequada para os nossos tempos.
De modo geral, podemos afirmar que a postura de Ladaria diante de temas polêmicos costuma ser moderada, equilibrada. Apoiamos esta afirmação com vários exemplos. Em sua obra Antropología teológica, opta por uma síntese entre as interpretações aparentemente opostas de Von Rad e Westermann a respeito da relação entre as concepções de criação e da Aliança na fé do povo de Israel (cf. Gn 1-2). Para Von Rad a criação está subordinada à salvação que se exprime na Aliança, enquanto para Westermann ambas noções são independentes. Ladaria propõe que ambas as posições podem ser sustentadas simultaneamente, numa tensão criativa, e que podem ser vistas como duas manifestações distintas, mas relacionadas da ação de Deus.[8]
Nosso autor expõe a discussão escolástica sobre os motivos da encarnação, apresentando as vantagens e as limitações das respectivas escolas tomista e scotista. Situa a questão em termos da relevância que Jesus tem para nós, em lugar de numa investigação sobre os planos ocultos de Deus. Vê conveniente que se procure recolher o melhor de ambas as posturas, para chegarmos a uma compreensão correta do papel de Cristo na criação e na salvação, ordens que estão radicalmente unidas[9].
Sua apresentação da controvérsia “de auxiliis” também é equilibrada. Expõe ambos os lados da disputa, chegando a identificar o problema de fundo como o próprio modo em que tanto os dominicanos como os jesuítas apresentavam a questão. Em seus esquemas simplistas, tendiam a colocar Deus e o ser humano praticamente no mesmo nível, fazendo suas respectivas ações efetivamente concorrentes. Ladaria propõe que afirmemos tanto a primazia de Deus como a liberdade humana[10].
Ao tratar do tema do sobrenatural, o autor logra dar uma explicação lúcida de um tema complexo e controvertido, apresentando seu desenvolvimento na história assim como na reflexão de alguns teólogos contemporâneos a respeito; por exemplo, o “existencial sobrenatural” de K. Rahner. O balanço de Ladaria representa um esforço de tradução da linguagem de diversos séculos em termos mais compreensíveis para os tempos atuais. Demonstra a tensão entre a necessidade de salvar a gratuidade da salvação e certas dificuldades que surgem com a hipótese abstrata de “natureza”, resgatando elementos que ele considera valiosos através de seu próprio neologismo “supracriatural”[11].
A respeito do tema das relações entre a Antropologia e a Cristologia, nosso autor apresenta as respectivas perspectivas dos autores K. Barth, K. Rahner, W. Kasper y W. Pannenberg. Toma distância da tendência de Barth de dissolver a Antropologia na Cristologia. Sua própria síntese recolhe as luzes de Rahner e as complementa com as intuições de Kasper e Pannenberg. É receptivo ao princípio rahneriano de que a Cristologia é o começo e o fim da Antropologia, como temos visto a propósito da teologia conciliar. Afirma que a aparição de Cristo desvela o sentido da Antropologia e que efetivamente julga as pessoas, de acordo com a sua acolhida ou não dele (fé)[12].
Estas breves reflexões deixam transparecer um teólogo fiel ao ensino da Igreja e a sua docência, sólido, rigoroso e ao mesmo tempo especulativo, em busca de novas formas de comunicação da fé. Procura as metodologias que mais conduzem a este objetivo. Seus balanços e sínteses, depois de examinar os diversos lados de um debate, são bem ponderados e fundamentados.
Recentes desenvolvimentos em biologia e nas ciências cognitivas têm trazido para o domínio de estudo das ciências naturais questões que, até a bem pouco tempo, eram consideradas específicas dos domínios filosófico e científico. Trata-se das questões em volta da alma, da mente, do espírito, da consciência, etc. Até que ponto uma "naturalização" da análise destas questões põe em causa a antropologia tradicional de raiz aristotélico-tomista? O presente estudo afirma que uma tal "naturalização" corresponde à emergência de um novo paradigma, no interior do qual aqueles conceitos adquirem novos significados, já não específicos apenas da filosofia e da teologia. Por outro lado, uma tal análise não só não põe em causa outros conceitos como o de imortalidade do ser humano, mas, pelo contrário, os afirma de um modo mais adequado ao atual contexto cultural.
Ladaria reconhece que a verdade mais profunda sobre o ser humano se diz desde a oferta da amizade original com Deus, desde a chamada a entrar em comunhão com o Pai, através do Verbo encarnado, no Espírito. Interpreta o pecado original em termos da ruptura desta amizade, e a graça em termos da nova relação com Deus, que é a filiação divina.
Tem o interesse não somente de esclarecer a fé para os próprios cristãos, mas também preocupa-se pelo diálogo com as pessoas que não partilham a fé cristã. Suas aclarações sobre o ser humano enriquecem a especulação contemporânea de índole antropológica e têm a capacidade de estender pontes às filosofias personalistas e a outros campos de reflexão das ciências humanas.
Mesmo assim, parece que a antropologia de Ladaria fica no plano do ser humano “universal”, “ocidental”, um tanto abstrato. Não chega a particularidades como o condicionamento existencial da realidade da pobreza, nem investiga a relação entre a revelação de Cristo pobre e humilde e uma antropologia do pobre. Temos que recorrer a outros autores, como Jon Sobrino, em busca desta perspectiva.
Por fim, ao menos, duas perguntas precisam ser respondidas sempre: a) No contexto do diálogo interreligioso, é melhor uma abordagem antropológica desde a experiência da nossa criaturidade, ou partir da primazia da Graça?, b) Sendo a Cristologia o começo e o fim da Antropologia, de que maneira a Revelação de Cristo pobre e humilde ilumina a elaboração de uma antropologia do pobre?



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

LADARIA, Luis. Introdução à Antropologia Teológica. Edições Loyola.
______. Antropología teológica. Madrid: UPCM, 1987.
______. Introducción a la antropología teológica. Estella (Navarra): Verbo Divino, 1996.
______. Teología del pecado original y de la gracia: antropología teológica especial. Madrid: BAC, 2001.
______. “A criação do céu e da terra”; “O homem criado à imagem de Deus”; “Natural e sobrenatural”; “Fim do homem e fim dos tempos”. Em: SESBOÜÉ, B., LADARIA, L., GROSSI, V., LÉCRIVAIN P. O homem e sua salvação (séculos V-XVII): antropologia cristã. História dos dogmas, tomo 2. São Paulo: Loyola, 2003.
MELLO, Luiz Gonzaga de. Antropologia Cultural: Iniciação, Teoria e Temas. 17ª edição. Petrópolis, Editora Vozes, 2009, págs. 171-197.


[1] Mello, Luiz Gonzaga de. Antropologia Cultural: Iniciação, Teoria e Temas. Vozes. Petrópolis, 19ª edição, 2011[1982].
[3] Cf. L. LADARIA, Introducción a la antropología teológica. Estella (Navarra): Verbo Divino, 1996, p. 9-11.
[4] Cf. ibid., p. 9-11.
[5] Cf. ibid., p. 11-15.
[6] Cf. ibid., p. 15-32.
[7] Cf. L. LADARIA, Teología del pecado original y de la gracia. Madrid: BAC, 2001, p. xv-xviii.
[8] Cf. L. LADARIA, Antropología Teológica. Madrid: UPCM, 1987, p. 10-15.
[9] Cf. ibid., p. 29-31.
[10] Cf. ibid., p. 77-82.
[11] Cf. ibid., p. 141-170.
[12] Cf. L. LADARIA, Introducción a la antropología teológica, p. 70-79.