quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Qual é o Poder da Oração? Miguel A A Sampaio

QUAL É O PODER DA ORAÇÃO?

[Tiago 5.16] Confessai, portanto, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. A súplica de um justo pode muito na sua atuação” (ARA).
[James 5.16]
“`εξομολοχεισθε άλλήλοις τά παραπτώματα, Καί εϋχεσθε ΄θπερ άλλήλων όπως
Confessar uns aos outros a transgressão, e orem uns pelos outros para que sejam                         
ίαθητε πολύ ιοχύει δέησις δικαίου ένεργουμένη[1](TRStephanus).
curadas, muito pode a súplica do justo operando eficaz.

INTRODUÇÃO

Para este texto analisaremos a oração de acordo com a última frase do versículo acima. Faremos uso de vários aparatos, sejam textuais ou léxicos, debaixo das leis exegéticas, e sob a visão de que a Escritura, Palavra de Deus, é infalível.
A grande questão a ser abordada é o efeito. Qual é o resultado produzido pela oração? Ela possui algum poder? Algumas questões serão respondidas outras ficarão em aberto, porém o principal é ouvir a voz do Espírito Santo que além de Autor das Escrituras, também é o melhor intérprete da mesma.
Separamos em três partes, a primeira fala do tipo de oração apontado por Tiago, a segunda explica o tipo de pessoa que realiza tal oração, e por último o tipo de resultado alcançado por todo esse processo.

1.                  A Súplica – δέησις

A oração será a palavra chave do texto de Tiago. Ele vai dizer sobre oração intercessora, oração dos Presbíteros, oração da fé, etc. E apoiando isso, várias versões traduziram essa palavra como oração: NVI, ARC, VIVA, NTLH e CATÓLICA. Contudo na (ARA) a palavra é SÚPLICA. Mas qual será a tradução correta? E por que ora utilizam oração, e ora súplica?
[2]A palavra utilizada no texto original é: δέησις (substantivo), = uma petição, em oração, pedido e súplica. É substantivo de δέομαι (verbo) = suplicar, mendigar (como uma pessoa que se curva). E também é a forma média de δέω (verbo primário) = amarrar, preso, ligado, atado. Corroborando com o [3]dicionário Almeida quanto ao significado de oração:
“Uma aproximação da pessoa a Deus por meio de palavras ou do pensamento, em particular ou em público”.
Sendo assim como súplica é um tipo de oração, podemos utilizar aqui o mesmo significado, como uma ligação direta com Deus através dos pensamentos, uma elevação do espírito até o seu trono, literalmente uma ligadura que une o homem com o seu Deus. Precisamos derrubar essa tradição de que a oração é apenas uma mera petição, onde o indivíduo coloca suas queixas, como se fosse o (SAC) “sistema de atendimento ao cliente”, ou até o “PROCON”.  Enquanto que deveria ser um diálogo, puro e sincero e que o resultado desejado fosse sempre uma maior aproximação com o seu Criador.
Portanto, vamos utilizar o significado mais aproximado do sentido da palavra: Súplica, como sendo, um pedido humilhante, encurvando-se como se pedisse esmola, colocando o homem no seu local de direito que é abaixo de Deus, mostrando a sua total dependência em Cristo, e refutando já inicialmente que no homem não existem quaisquer poderes, partindo de si mesmo. Não existe sucesso na oração de um homem que não se curva e não se humilha perante o Rei dos Reis. 
Podemos demonstrar como exemplo (Ef 6.18)com toda a oração e súplica orando em todo tempo no Espírito e, para o mesmo fim, vigiando com toda a perseverança e súplica, por todos os santos” (ARA).
Aqui o autor se utiliza de duas palavras diferentes (προσευχηες ‘proseukies’ καί ‘kai’ δεσεως ‘deseos’), respectivamente (Oração e súplica). Portanto existe sim diferença de oração para súplica, podemos dizer que súplica é um tipo de oração, mas não que são iguais. No [4]dicionário de português (Aurélio), os significados das duas são:

Oração = s.f. Prece sob a forma de meditação; reza. / Curta prece litúrgica enunciada nas horas canônicas e na missa. / Discurso; sermão; fala.
Súplica = s.f. Oração feita com insistência e submissão; prece, rogativa: Deus ouviu minha súplica. / Pedido, memorial em que se solicita favor, graça ou esmola.

Esses três significados indicados aqui, insistência, submissão e esmola, resumem perfeitamente o que Tiago queria dizer, como também o próprio Jesus sempre ensinava: perseverança (Lc 11.10); e humildade (Mt 11.29). Entretanto a pesar de utilizarmos aqui a súplica para nossa análise, podemos inferir que o tema, que está relacionado ao poder de tal súplica, poderá também ser utilizado em qualquer outro “tipo de oração” ou sinônimo da mesma.


2.                  Do Justo – δικαίου

Quando nos deparamos com este termo, conhecemos então, o mundo da “justificação”, a mesma palavra utilizada por Paulo no livro de Romanos, no qual ele sintetiza “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela Fé sem as obras da lei” (ARA) (Rm 3.28); “πίστει δικαιουσθαι ‘pístei dikaioústhai’”, “Justificado por (pela) fé”.
E aqui na carta de Tiago, observaremos uma constante utilização desse radical δίκη (díki) s. f. “Processo, julgamento, Justiça, etc.”. E o interessante é que Tiago vai usá-lo tanto para Deus quanto ao homem. Vejamos alguns exemplos no quadro abaixo:
Ref.
Grego
Transliteração
Tradução
Sintaxe
Tg 1.20,23/ 3.18
Δικαιοσυνην (s)
Dikaiosunen (s)
Justiça
Sub. Em ref. À Justificação.
Τg 2.24
Δικαιουται
Dikaioútai
Justiça
V. pres. Ind. Meio ou passiva.
Tg 5.6
Τόν δικαίον
Ton dikaíon
“o” Justo
Adj. Acusativo masc. Singular.
Tg 5.16
Δικαίου
Dikaíou
(do) justo
Adj. Genitivo masc. Singular.

2.1         O Porquê do δικαίου?

Este é o nosso termo, que é utilizado por Tiago, e tendo já conhecido as outras variações, vejamos agora, a influência desta.
Δικαίου ‘dikaíou’- Adj-GMS (Adjetivo – [6]Genitivo Masculino Singular).
O termo utilizado na Bíblia, para adjetivar: Justo. Vejamos o que o [7]léxico tem a dizer sobre ela:

δικαίου Rm 5.7 At 7.52 (a vinda do justo); Mt 23.35 (Abel, o Justo); Mt 47.24 (sou inocente “Pilatos”);
δίκαιος, αία, ον aplicado aos cidadãos modelo no mundo greco-romano. Reto, justo, correto, honesto; guardador da lei; honesto, bom, direito (Mt 1.19). De Deus e Cristo justo, reto, equânime (2 Tm 4.8); de Jesus justo, inocente (Lc 23.47).

Todas essas variações, oriunda de um mesmo radical: δική (dikí) = processo, julgamento, causa e justiça (Divina). Ε Tiago entendeu muito bem a questão da justificação, apesar de alguns dizerem o contrário, que ele não andava em acordo com Paulo, por causa de Tiago fazer referência as “obras” e enfatizar que a fé sozinha não é suficiente: (Tg 2.24) “Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé”. (ARA). Este versículo está em contraponto com: (Rm 3.28) “concluímos, pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei”. (ARA).
Obviamente que este assunto deve ser tratado com bastante cuidado e paciência. Contudo o exemplo que citamos não pode por si só afirmar que Tiago era contrario a doutrina da Justificação, pelo contrário em nenhum momento ele descarta a “justificação pela fé”, mas ele diz: “... e não somente pela fé”, e o tema central desse texto é: (Tg 2.17,26) “... a fé sem obras é morta”. Aqui o autor devidamente inspirado pelo Espírito Santo, é claro, derruba qualquer “pseudo-ociosidade” no que se refere à justificação. Conclui-se que os dois caminham juntos, ligados e unidos um depende do outro, é óbvio que existe uma ordem e ela deve ser respeitada: A Justificação ocorre pela Fé e tendo as obras como um “termômetro” para identificar esse indivíduo agora totalmente Justificado por Cristo. Por isso, podemos afirmar que toda vez em que Tiago utiliza o radical δική (dikí), referindo-se ao homem. Ele sabe que esse justo, é o homem regenerado, totalmente transformado pelo Espírito Santo e justificado por Cristo.
Parcialmente podemos afirmar que o Pastor Tiago escreveu a respeito da “súplica do justo (alguém que fora justificado por Cristo, mediante a fé e confirmada pelas obras)”. Portanto não podemos dizer: “de um justo”, mas sim “do Justo”, pois podemos confundir como a súplica de “qualquer pessoa” ou até “qualquer justo”, e como vimos no original, não existe nenhum artigo, porém na tradução coloca-se um artigo indefinido, enquanto que na verdade o genitivo da ideia de posse, inferindo assim o artigo definido, “a súplica do justo...”.


3.                  Ενεργουμένη – Operando eficaz

Essa palavra terá uma responsabilidade dupla: Ela vai fechar o nosso entendimento geral e específico. Primeiro precisamos entender qual significado dessa palavra para o nosso contexto:

ένεργέω —1. Trabalhar, estar trabalhando, operar, ser efetivo at Mc 6.14; Gl 2.8; Ef 2.2. το θέλειν και το έ. α vontade e a ação Fp 2.13b. Méd. trabalhar Rm 7.5; 2 Co 4.12; Ef 3.20; 1 Ts 2.13; tornar-se efetivo 2 Co 1.6. δέησις έ. Poder efetivo Tg 5.16.—2. Trabalhar, produzir, efetuar 1 Co 12.6; Ef 1.11; 2.2; Fp 2.13a.
ενέργεια, ας, ή operação, atividade Cl 2.12; 2 Ts 2.9. Manifestação. Ef 1.19; 3.7; 4.16; Cl 1.29; poder Fp 3.21 έ. Πλάνης influência enganosa 2 Ts 2.11 .* [energia]
Este termo é utilizado pelo menos duas vezes no texto grego: (Gl 5.6) “Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé que opera pelo amor” e a outra, é o próprio versículo de (Tg 5.16), nos dois casos são usadas: verbo - presente meio passiva - nominativo singular feminino. Que indica uma energização eficaz, estar trabalhando, o ser ativo e eficiente, corretamente, energizar, trabalhar em uma situação que traz de um estágio (ponto) para o próximo, como uma energizante corrente elétrica num fio, trazendo-a para uma lâmpada de luz brilhante.
O Strong vai dizer que: “Em (Tiago 5:16) energizado não tem a força de um adjetivo, mas dá a razão pela qual a oração de um justo tem sucesso exterior, como sendo devida ao fato de que ele exibe a sua atividade (de obras) (para o interior).
Para explicar melhor como chegamos a esse significado, citaremos um trecho de um artigo: Effective prayer: (James 5.16-17) de [8]Peter Kirk:
“Então eu posso aplicar a conclusão a que cheguei no meu BBB post, e que é apoiado por J. Armitage Robinson, como ligados a em um comentário no BBB por Tony Papa. Esta conclusão é que o passivo de energeo, como os encontrados aqui, implica um agente divino ou sobre-humana e pode ser entendido como algo como "ser colocado em operação." A implicação disso para Tiago 5:16 é que a oração que ele tem em mente é posto em funcionamento por Deus, que ele é o único que faz com que seja eficaz”.
“Assim, eu venho até preferindo a leitura marginal ESV, mas com "efetiva" deve ser entendido como "posto em prática por Deus." A oração, mesmo que de uma pessoa justa, não é poderosa, simplesmente porque da forma de palavras, mas apenas como Deus trabalha por ele e torna eficaz. E desde energeo no Novo Testamento é muitas vezes ligada com operação de milagres, certamente este versículo implica que Deus intervém sobrenaturalmente, milagrosamente, para colocar nossas orações em vigor”.
Esta perícope está em acordo com a versão (King James, 1900) “Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. A oração eficaz fervorosa de um justo pode muito” (James 5.16). Portanto unindo a citação com esta versão, entendemos que, o efeito produzido não vem por causa do justo que a realiza, nem tão pouco pela insistência ou perseverança, mas sim porque “Deus está operando a súplica fervorosa do justo”, e Ele (Deus) está operando de maneira eficaz. Claro que não queremos descartar a insistência ou perseverança na oração, mas queremos dizer, que não é essa atitude que garante a atuação, mas a oração do justo ao Justo faz com que “o” Justo opere de forma eficaz, derrubando assim qualquer evidência de que esse texto apoia a confissão positiva ou o poder das palavras.

CONCLUSÃO
Agora sim, podemos entender o porquê de cada palavra traduzida do texto grego, ficando: “... muito poder tem a súplica do justo operando de maneira eficaz”.
Então afirmamos que o Pastor Tiago deixava-nos uma grande lição, dizendo que A súplica deve ser feita sim de forma fervorosa, e com fé, contudo não devemos confiar em nós mesmo, dizendo “minha oração tem poder”, ou a “oração de alguém tem poder”, por isso repito somente a oração do justo feita ao Justificador, tem poder, porque Ele está operando de maneira eficaz. Todos os apelos de Tiago para que Orem, foi explicado aqui neste versículo, e em todo o contexto geral da carta, tanto antes como depois ele irá culminar aqui:
Quando vocês forem orar: “Peça-a, porém, com fé, não duvidando; pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, que é sublevada e agitada pelo vento”. (Tg 1.6).
E não esqueçam com soberba e vanglória vocês não conseguirão nada, “Mas o irmão de condição humilde glorie-se na sua exaltação” (1.9).
E quando forem pedir não se esqueçam de dizer: “Segundo a sua própria vontade...” (1.18). Ao invés de colocarem a sua vontade na frente, pois: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites” (4.3).
           
            Pois é pra isso que serve a oração, pra fazer você exercitar sua fé, “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta. (2.26).
E guardem também seus lábios porque, “Da mesma boca procede bênção e maldição. Não convém, meus irmãos, que se faça assim. Porventura a fonte deita da mesma abertura água doce e água amargosa?” (3.10,11).
            Não esqueçam que a oração é um alívio momentâneo, mas em breve estaremos com ele para todo sempre, por isso: “Sede vós também pacientes; fortalecei os vossos corações (orando), porque a vinda do Senhor está próxima” (5.8).

            E enquanto isso, quaisquer problemas que tiverem recorram para a oração e súplica:

“Está aflito alguém entre vós? Ore...”. (5.13)
“Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem...” (5.14).
“E a oração da fé salvará o doente”. (5.15).
“... orai uns pelos outros...” (5.16)
“Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós, e orou com fervor para que não chovesse” (5.17).
“E orou outra vez e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto”. (5.18).

E por fim, fecharemos com o texto em Hebraico:
James 5:16 Hebrew Bible
... גדול כח תפלת הצדיק הקרא אל אלהים בחזקה׃
“... Grande poder oração do justo chamando a Deus com firmeza”.






BIBLIOGRAFIA


The Greek New Testament,; Textus Receptus (Stephanus 1550).STRONG, James. Dicionário Grego do Novo Testamento Strong. Anotado pela AMG.
KASCHEL, Werner. Dicionário da Bíblia de Almeida. / Werner Kaschel, Rudi Zimmer; 2ª Ed. Barueri, SP; Sociedade Bíblica do Brasil, 2005.
GINGRICH, F. Wilbur. Léxico do Novo Testamento Grego / Português; 2ª Ed. São Paulo, SP; Edições Vida Nova, 1983.
Disponível em http://biblesuite.com/greek/1342.htm e os demais termos utilizados.
Disponível em http://www.gentlewisdom.org/1681/effective-prayer-james-516-17/ . Texto postado na terça-feira de 23 de Fevereiro de 2010.




















RJ, dia 10/ de Agosto de 2013, Miguel Angelo Alves Sampaio, do Espírito Santo.
“Que o meu nome morra com o meu corpo, e o de Cristo permaneça em tudo!” (“Oração” os Arrais).



[1] Este texto e todos os demais serão retirados do: The Greek New Testament,; Textus Receptus (Stephanus 1550).
[2] STRONG, James. Dicionário Grego do Novo Testamento Strong. Anotado pela AMG.
[3] KASCHEL, Werner. Dicionário da Bíblia de Almeida, p. 120.
[4] Toda Pesquisa no dicionário Aurélio, para palavras em português estará disponível em http://www.dicionariodoaurelio.com/Oracao.html e http://www.dicionariodoaurelio.com/Suplica.html
[5] Disponível em http://biblesuite.com/greek/1342.htm e os demais termos utilizados neste quadro.
[6] Genitivo: Expressa possessão, bem como origem ou derivação. O Genitivo tem outros usos, os quais deverão ser aprendidos por observação; mas por enquanto, iremos ficar com estes dois usos principais. Ex: δουλος αποστολου γραφει – “um servo de um apóstolo escreve/está escrevendo”. Ex: λογοι αποστολων – “umas palavras de uns apóstolos”.
[8] Disponível em http://www.gentlewisdom.org/1681/effective-prayer-james-516-17/ Texto postado na terça-feira de 23 de Fevereiro de 2010.

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