sábado, 4 de outubro de 2014

Deus existe: uma pergunta ou uma resposta

De: http://ensaiodemestre.blogspot.com.br/2012/11/deus-existe-uma-pergunta-ou-uma-resposta.html

SEXTA-FEIRA, 16 DE NOVEMBRO DE 2012


***Introdução***

"Ninguém afirma: 'Deus não existe', sem antes ter desejado que Ele não exista" - Joseph de Maistre, escritor esotérico do final do século XVIII.

Sim, sou católico apostólico romano. Sim, tenho humanos defeitos, que por vezes,  me afastam de deveres meus. Sim, existem fatos e pessoas que contribuíram para a mácula que existe na terrena história da Santa e Madre Igreja Católica. Sim, nem todos aceitam minha convicção religiosa. Mas antes de tudo o que mais possa ser dito, minha resposta a essa pergunta: SIM, acredito, sempre acreditarei no Deus que a todos pode salvar, bem como na Igreja por Ele instituída...


Mas... Seria o católico, o cristão ou o ser humano aquele que fica incrédulo com posturas como a da imagem acima? Posturas essas que levam a constatar a ignorância, a rebeldia, a cegueira das gerações futuras, a falta de vínculo destas gerações com a Verdade...


Tenho certeza de que quase todos que lerem isso irão me perguntar: "E daí Diogo, a opção foi dela, não sua, o que você tem a ver com isso?". É fato: livre arbítrio é um direito que Deus nos dá. E é esse mesmo livre arbítrio que me incentiva livremente as perguntas: que liberdade é essa que não me dá o conhecimento? Que liberdade é essa que não me dá a imortalidade, tornando tudo nessa vida passageiro? Que liberdade é essa que rejeita toda uma lógica, daquilo que é a Criação que veio do nada? Como atribuir ao átomo, ao aleatório, toda uma beleza que vemos brilhar em nosso mundo, presente na natureza, na imponência dos elementos, na renovação de tudo, na marca que temos desde nascidos, e que desperta a busca intensa do coração, fomentando a família e a sociedade civilizada... e se quisermos saber de tudo isso, como negar algo superior, que nos impulsiona, que nos tangencia no transcedental, que alimenta o espírito, que por nos conhecer como nos conhecemos, é infinitamente capaz de nos orientar nessa breve jornada em seio terrestre...  

Confesso que foi difícil para mim escrever essa postagem, e pensei muitas vezes antes de publicá-la. Motivos: não sou teólogo e muito menos paciente (um defeito que assumo, é verdade...). Por isso, não pretendi ser sábio, apenas ser informativo, e se possível, reflexivo. Nessa postagem, lerão palavras minhas, de várias fontes (SS Bento XVI, outros Romanos Pontífices, santos (em especial São Tomás de Aquino), estudiosos (inclusive ateus, agnósticos e esotéricos!!!), além de algumas alegorias...). É pessoal o que eu digo: um pouco parecido com Santo Inácio de Loyola, necessito ouvir, falar, estudar, entender, ensinar, refletir, abrir caminhos... confirmar!!!

Ao fim, espero alcançar meu objetivo: motivar (se possível!!!) o encontro com o Amor que nos criou, revelar esse Amor como sendo vigor da caminhada nessa vida, e por fim, revelar que esse Amor é o próprio Deus... Fico no aguardo de quaisquer comentários respeitosos, ainda que divergentes...




****Conceituando religião****


Sem conceituar religião, seria vazio buscar entender qualquer conceito de Deus, como já o fez São Tomás de Aquino. E afinal, o que é religião?


Não existe unanimidade acerca da etimologia da palavra "religião". As mais populares foram dadas possivelmente por Cícero e Lactâncio. Cícero era escritor romano pagão do século I a.c., e afirmou que a palavra viria do termo "relegere", que significa "recolher", "juntar", "agregar". Caracterizaria o fato de deixar "Deus ser Deus", sem o colocar em perspectiva de desejos e interesses pessoais. Nesse conceito, ficam diferenciados os religiosos (que aceitam Deus e seus desígnios) dos supersticiosos (que buscam Deus em troca de favores). Quase quatro séculos depois, Lactâncio, também escritor (mas cristão) lançou outro conceito: "religião" viria do verbo "religare", que significa "religar, ligar de novo", estabelecer nova comunicação. Nesse sentido, seria a atitude de piedade, adoração e devoção, que novamente reúne os homens a Deus...


Em qualquer desses conceitos (e de outros possíveis), pode-se entender a religião como sendo um relacionamento entre o homem e Deus (ou a divindade, ou o sobrenatural..., segundo o credo de cada um). E como em todo relacionamento, é necessário que se esteja pronto para falar e ouvir. E se o homem não pode (ou pior, não quernão se interessa em) ouvir o que Deus tem a lhe dizer, mas só em falar?


Há um provérbio bíblico que diz: "para os corações que não querem ouvir a Deus, Deus pode de repente, parar de falar". 


Seria o caso do ateísmo?




***A Igreja Cristã Católica e outras religiões***



Na plenitude dos tempos, uma Virgem de Nazaré recebe a mensagem do Anjo em nome do Altíssimo. O Verbo Divino se fez Homem, e habitou entre nós!!! E com o crescimento da Igreja por Ele prometida e fundada, bem como através de sua redentora Morte, tesouros de expressão grega serão citados para melhor (e mais perfeitamente) exprimir a existência de Deus, da moral, do direito, da lógica, da civilidade, da esperança na vida futura, do sacrifício voluntário, da caridade com o próximo, e entre outros pontos mais, do amor de Deus pela sua Criação e a Salvação por Ele prometida. Os apóstolos Pedro, líder escolhido pelo Salvador, e Paulo, escolhido para difundir o Evangelho entre os pagãos, serão fortes pilares nessa grandiosa história. De Anunciador, o Salvador se torna Anunciado. Firmava-se assim a Igreja de Jesus Cristo, a Igreja Cristã, a Santa e Madre Igreja Católica, o Cristianismo!


Das raízes abraâmicas (filhos do Patriarca Abraão) surgiu o Judaísmo (de onde surgiria o Cristianismo), legislado por Moisés e Elias, e também fortalecido por Davi e Ezequias, mas que pôde se identificar como religião somente através de Neemias e Esdras, após o cativeiro neobabilônico do século VI a.c. A ascensão e expansão do Cristianismo intensificou a Diáspora ("dispersão") dos judeus pelo mundo, onde até o século XX, não teriam estes mais nação, mas constituiriam religião, baseada na Torá e no Talmude. O Islamismo ("Submissão"), também de raízes abraâmicas, seguiu paralelos com o Judaísmo e o Cristianismo, sendo muitos personagens bíblicos identificados com a tradição islâmica: Abraão (Ibraim); Moisés (Musa); Jesus Cristo (Isa); Maria Santíssima (Míriam)... No século VII d.c. surgiria o legislador islâmico, o mercador Maomé, que declara encontrar o anjo Gabriel, e sob seus dizeres redigir o Alcorão, que seria a mensagem final de Deus para o homem. O Hinduísmo, tido como a religião mais antiga do mundo, mescla conceitos monoteístas, politeístas e até panteístas, através da crença na Alma Universal ("Brâman"), orientada para um mundo de castas discriminatórias, sem credo específico, organização, fundação ou legislação. Um texto escrito em sânscrito é tido como o "Evangelho" hindu: o "Baghavad Gita" (o Canto do Bem Aventurado). E houve ainda inúmeras correntes religiosas que se espalharam mundialmente...


Não quis elaborar histórico das religiões, bem como não quis exaltar as virtudes do Cristianismo, mas tão somente mostrar que antes mesmo da definição formal de "religião", o homem sempre revelou, através da História, uma busca interior. Não por soluções mágicas, não por pronto-socorro humano, mas por respostas, por aprendizado, por sabedoria, por certeza, por afirmação, por identidade...



***Visão Histórica A.C.***


De início, notemos: questionamentos 
existem "em cerne" há milênios, acerca do sobrenatural e do poder concedido as autoridades religiosas... Mas os primeiros debates públicos universais (e empíricos) conhecidos sobre o assunto surgiram na Antiguidade Grega...

No Século V a.c, Heráclito afirmou acreditar somente no redutível a natureza material, logo o mundo excluía a interferência de entidades superiores. Demócrito (século V a.c) julgou os átomos, o vazio e o movimento como eternos, geradores de lógica, verdade e moral, descartando a presença de "deuses". Epicuro (século IV a.c) via no encontro dos átomos a origem das coisas, e o "ateísmo" explicava a criação do mundo, a felicidade humana. Lucrécio (século I a.c) escreveu que "deuses" são inúteis frente ao sistema materialista, fato já manifestado por Demócrito e Epicuro. Da obra de Lucrécio, contemplamos a pré-história das idéias modernas, como o protestantismo, o evolucionismo, o iluminismo, o casal socialismo-comunismo, o ateísmo, o ceticismo...



À esquerda, Heráclito, que só acreditava no que era redutível a natureza material. A direita, Sócrates, que décadas depois, orientou a percepção do indivíduo a encontrar a "Causa das Causas", ou seja, Deus.  

Sócrates (século V a.c.), Platão e Aristóteles (século IV a.c.) refutaram tais idéias. Sócrates buscava fundamentar o bem, a virtude e a justiça. Investigava a essência desses valores para avaliar a realidade empírica. Sócrates contribuiu para a percepção interior do indivíduo, e entendia que auto-conhecimento significava conhecer a Deus (é sabido que em seu leito de morte, pediu que a "Causa das Causas" tivesse pena dele...). Aluno de Sócrates, Platão ampliou esses estudos, rebateu argumentos filosóficos materialistas sobre a indolência e o "clientelismo" de Deus. Propôs Deus como o "Primeiro Motor Imaterial". Já Aristóteles (aluno de Platão e futuro mestre de Alexandre, o Grande) define Deus como o Ser Eterno, Sumo Bem, dono da vida e eternidade, primeira Causa, Forma e Idéia. Através da lógica aristotélica, se argumenta por hierarquia a existência de Deus, onde na gradação da perfeição, existirá sempre um ser absolutamente perfeito. Esse ser, sumamente perfeito, só poderá ser Deus (fundamento confirmado cerca de 1500 anos depois por São Tomás de Aquino, na quarta Via Tomista).

Note-se que a discussão (antes de Cristo) sobre o assunto era filosófica, ainda não caracterizava uma postura moral, civilizacional, precisa, unificada e plenamente espiritual do homem. Não havia o caráter místico, vivificado pelos judeus e perenizado pelos cristãos. Este fenômeno ocorria em outras religiões e culturas contemporâneas da Antiguidade Clássica, como o Islamismo (ainda não oficialmente instituído) e o Hinduísmo...



***Visão Histórica D.C.***



Já na era Cristã, baseados em discurso ontológico (ou seja, na existência e natureza dos seres e entes, em questão de metafísica), São Anselmo, São Boaventura, Isaac Newton, Renée Descartes, Gottfried Leibniz, dentre outros, afirmavam que em realidade, existe um ser que não se imagina outro Maior, sendo esse ser o próprio Deus (semelhante ao proposto por Aristóteles). 


Foi porém nas provas de São Tomás de Aquino (padroeiro dos universitários), redigidas em sua magistral "Suma Teológica", que utilizando conceitos de lógica, expressou de forma racional provas da existência de Deus... Será assunto mais à frente...


****"Oficialização" do "ateísmo"****


Embora não possa ser definida uma data formal histórica do termo "ateísmo", é possível se afirmar que os primeiros ateus publicamente conhecidos sejam do século XVIII: o Barão d'Holbach e David Hume, filósofos contemporâneos de época. O Barão foi membro da corrente iluminista francesa, cuja maior obra foi "O Sistema da Natureza", de 1770. Já Hume, da escola iluminista inglesa, declarou ser impossível provar a existência de Deus, dado que existência é matéria de fato (ele não devia conhecer matemática ou razão)Esses e outros nomes (Locke, Montesquieu, Diderot, D'Alembert, Rousseau, entre outros mais) dariam cores vivas ao que hoje conhecemos por Iluminismo. Já no século XIX,Sigmund Freud argumentou que Deus e outras crenças religiosas são invenções humanas, criadas para atender necessidades psicológicas e emocionais... 


Mas foi Ludwig Feuerbach, contemporâneo de Freud, que mais assombrou em seus argumentos: declarou que a crença em Deus é uma"alienação", que o problema fundamental não era a existência de Deus, mas o futuro do homem, que deveria tomar a consciência de que seu único Deus é o próprio homem. Baseado na obra de Feuerbach, Karl Marx concluiu que a crença em Deus tem funções sociais utilizadas para"oprimir os pobres". Marx declarou que "a religião é o ópio dos povos", e a salvação estaria na terra, não em Deus. Assim, deveria o povo abandonar a alienação da religião, e fazer reinar a justiça social. Importante mencionar: não há recusa da moral e dos valores, mas do auxílio da Providência Divina. Colaborador direto de Marx, Friedrich Engels irá ignorar solenemente a Filosofia Antiga, fundamenta na existência da natureza a sobrevivência humana, e que fora da natureza e dos homens, nada mais há. Estavam lançados os pilares do Socialismo e do Comunismo.


Essas idéias, encadeadas, trariam turbulência à Europa, a Ásia e a América Latina nos séculos XVIII, XIX e XX: primeiro, a Revolução Francesa, inspirada nos filósofos do Iluminismo, que causou danos permanentes a Igreja e a Nobreza Real, garantindo poderes a burguesia, semeando assim em torno da riqueza o Liberalismo Econômico, que geraria oCapitalismo, e fomentaria o Comunismo. Além dessa, houve as unificações alemã e italiana (nessa época, chegaram ao fim os tradicionais Estados Pontifícios), além de outras revoltas em muitas nações, em que se notabilizou a "Primavera dos Povos" (1848), decorrida em vários estados europeus. No século XX, o fervor comunista (já consolidado) semeou conflitos sangrentos: a Revolução Russa, a Guerra Civil Espanhola, a Revolução Chinesa, a Revolução Cubana. Em meio a outras revoltas, guerras e golpes de Estado em inúmeras nações, seria fomentado no Ocidente, de forma definitiva, a separação entre o Estado de Direito e a Religião (o laicismo)...

Observando esse quadro, não são poucos os culpados desse processo catastrófico: a corrupção humana, a injustiça social, os modelos políticos posteriores (como o Imperialismo, que resultou na Primeira Grande Guerra, em sofrimento na Ásia, e causador de danos talvez humanamente irreparáveis ao continente africano...). Mas note-se nessa gradação de horrores, o ápice que o Comunismo representou: mais que negação, ocorreu a exclusão de Deus da sociedade!!! Um absurdo tão expandido e difundido (e porque não dizer, ele próprio deturpado; vejam os "socialistas cristãos"...), que após as agitações nas classes operárias e agrícolas, após as revoltas "culturais" e estudantis do fim dos anos 60 em todo o mundo, após massacres e genocídios diversos, e mesmo após o declínio do Comunismo, um ceticismo total assolou a humanidade: cada um deve viver da melhor forma possível, conforme sua consciência, cada vez menos preocupado com o próximo, em "liberdade"...

Nessa situação, nessa Torre de Babel, fincada num enorme desvirtuamento de valores, chegamos aos nossos dias...



***Uma posição católica sobre ciência e religião***


Como estamos num blog, as palavras que escrevo agora, oriundas de discurso do atual Romano Pontífice, são apenas resumo da resposta a dúvida de um jovem romano, em 6 de Abril de 2006, durante encontro de preparação para a XXI Jornada Mundial da Juventude, acerca do seguinte tema: "O que fazer para harmonizar Ciência e Fé?". 

Com a palavra, vivamente e felizmente reinante, SS Bento XVI:

"A convicção de Galileu era de que a matemática é uma linguagem do Criador. E o que é a matemática? Uma abstração humana, cuja pureza não existe, mas se realizando sempre de um modo aproximado. Mas essa invenção é a chave para compreender a natureza, que é estruturada dessa forma. Dessa abstração, pode-se trabalhar com a natureza, e colocá-la a nosso serviço. A razão subjetiva (intelecto humano) e a razão objetiva (estrutura da realidade) são idênticas. E vemos que é uma "razão" que une ambas!!! Da mesma forma, é a ciência que possibilita trabalhar com as energias da natureza, o que supõe uma estrutura confiável dessa matéria. Logo, coincidem uma racionalidade subjetiva e uma racionalidade objetiva. Mas são realidades que embora não-físicas, aparecem em nosso mundo. E quanto mais instrumentalizamos o mundo pela nossa inteligência, mais se manifesta o plano da Criação. Então eis a questão: ou Deus existe, e é a Razão Criadora, o princípio de tudo, ou ele não existe, e assim prioriza-se que todos os fatores decorrentes da vida são aleatórios, marginais, irracionais. E quando se prioriza a razão, essa é a Razão criadora do amor, amor esse que é Deus".

Sobre estas últimas linhas, refleti de forma pessoal acerca de alguns aspectos, que apresento a seguir:
  • Seria aleatória a anatomia do ser humano? Então (embora exceções em aberração existam), por que é do ser humano ter um coração, dois pulmões, duas pernas, dois olhos, um órgão sexual, dois pés, entre outros? Se fosse um processo aleatório, isento de ordem ou perfeição, porque não existem seres humanos com três ou quatro pulmões, quatro ou seis pernas, sete ou cinco dedos, dois ou três cérebros...
  • Seremos vindos de microrganismos evoluídos, aleatoriamente combinados (conforme proposto por Charles Darwin)? Se sim, porque não temos condições de combater doenças já conhecidas, uma vez que sendo estes microrganismos aleatórios, algum ser humano no mundo pode ter em seu sangue a cura do câncer, por exemplo? Ou de uma Aids? Mais: se estamos diante de um processo aleatório, como não vemos leões que saibam falar, peixes que vivam fora d'água, cavalos com alto QI...
  • É aleatório a forma de crescimento das plantas? Então porque não temos árvores cujas folhas crescem na terra? Porque praticamente todas as árvores e plantas não-rasteiras tem caule? Porque a raiz não pode crescer fora do solo?... 
Em meu coração, me revelo: na minha ignorância, quanto mais eu vivo, mais certeza eu tenho acerca das respostas às minhas perguntas: o processo da vida, da Criação, tem um Criador que estabeleceu uma ordem, uma ordem de perfeição. Um Criador que realizou essa obra com amor!!!

Estamos a ponto de falar das "Vias Tomistas", mas os argumentos de São Tomás são muitas vezes origem da lógica matemática, o que justifica a apresentação de alguns tópicos antes.



***Provas por meio de lógica matemática***


Prova Direta

É quando deseja-se provar que PQ (ou seja, se a afirmação P é verdade, então a afirmação Q também é verdade). A construção dessa prova inclui uma cadeia de declarações R1, R2,..., Rn, sobre duas afirmações P e Q, de tal forma que:



Exemplo: 

P: n é um número inteiro ímpar.


Q: né um número inteiro ímpar.



P→ Q?


Prova: Por definição, um número n é dito ímpar se:


Logo, se Q for verdade:


Ou seja, teremos Rn tal que o termo geral de m é:


E por fim:

que pela expressão, equivale a um número ímpar, como queríamos demonstrar (CQD). 

Logo, P→ Q!!!

Provas Indiretas

É quando se deseja provar que se ~P (ou seja, a negação de P) ocorre, o mesmo vale para Q.

Essa prova pode se dar de duas formas:

1º Contrapositiva - se PQ , então a negação ~Q~P também é válida.

Exemplo: 

P:  Um triângulo X é equilátero;
Q:  O triângulo X é isósceles.

Então temos que:

~Q: O triângulo X não é isósceles;
~P:  O triângulo X não é equilátero.

[(PQ) → (~Q~P)]?

Prova: Pela proposição P, o triângulo X é equilátero, isso é, tem três lados de mesma medida. Por consequência, X tem pelo menos dois lados iguais(o que caracteriza o triângulo isósceles!!!). Portanto, PQ.  Por outro lado, se ele não é isósceles (~Q), ele não tem pelo menos dois lados iguais, e assim, nem três, o que nega que ele seja equilátero(~P). Portanto, ~Q~P.

Logo, (PQ) → (~Q~P)!!!

2º Contradição - se PQ é verdadeira, então a negação P~Q leva a uma contradição.


Exemplo:

P: Existe um número infinito de números primos.
~Q: Existe um número finito de números primos, digamos n números primos.

Prova: Se a quantidade de números primos é finita, existem "n" números primos (divisíveis por ele próprio e pela unidade).

Suponhamos a seqüência abaixo, em que x é o produto de todos os primos antes de x acrescidos da unidade, isto é:



Notemos que n é ordem do máximo número primo suposto, excluindo-se é claro, todos os não primos desse produto. O produto p1.p2.....pn só será divisível por algum desses primos. Assim, dividir x pelos primos do termo resulta em resto 1, e x não é divisível por nenhum primo anterior. Demonstra-se assim que o próprio x é primo (apenas divisível por ele e pela unidade). É uma contradição da proposição inicial de que existem nnúmeros primos, e assim, Q está errada, podendo existir infinitos números primos.

Logo, P→~Q!!!

Modus Ponens

Prova pela forma válida de argumento, dentro de uma premissa condicional. É realizada uma afirmação, segundo a premissa, confirma-se a validade do antecedente, e assim, conclui-se que o consequente também é verdadeiro.

Exemplo:

1ª Se faltar luz, não poderemos trabalhar;
P: Faltou luz;
2ª Não podemos trabalhar.

Modus Tollens 


Se assemelha ao Modus Ponens, mas a premissa condicional não se realiza. Assim, pouco se sabe da conseqüência:

Exemplo:


1ª Se faltar luz, não poderemos trabalhar;
P: Não faltou luz;
2ª Eu não fiz faltar luz.

Falácia


É uma forma de afirmação inválida para o argumento. Pode ocorrer pelo antecedente ou pelo consequente.

Exemplo pelo antecedente:

1ª: Se Pelé for catarinense, Pelé é brasileiro;
P: Pelé não é catarinense.
2ª: Pelé não é brasileiro.  

Exemplo pelo conseqüente:

1ª: Se Pelé é brasileiro, Pelé é catarinense;
P: Pelé é brasileiro.
2ª: Pelé é catarinense.  

Indução Matemática 


É um método de prova matemática usado para demonstrar a verdade de um número infinito de proposições.


Exemplo: 

Seja uma sequência infinita de números naturais diferentes de zero, isto é, N={1,2,3...,n}.

Então:

Prova: Por indução, tomemos o valor n=1. Nesse caso:



A indução consiste em provar que a afirmativa é verdadeira para todo n=k (k também natural). Se for verdadeira, também valerá para n=k-1 (k-1 também natural).

Sob estas condições, temos o trabalho algébrico a seguir:

























CQD!!!

A expressão acima significa que se P(k-1) é verdade, também é verdade P(k). Em nível de notação matemática:  P(k-1) → P(k).


Passemos enfim a falar das célebres "Vias Tomistas".



**** Introduzindo "As Vias Tomistas"****




No início de suas cinco Vias, São Tomás de Aquino já propunha uma questão: a existência de Deus é verdade de evidência imediata? Uma proposição, para o sábio santo, tinhas dois modos: 

1) em si mesma e para nós Se tantos são conhecidos o "atributo" (ou predicado) quanto o está incluso no "atribuído" (sujeito)Ex: Na proposição "a flor é uma planta", o predicado "uma planta" está incluso no sujeito "flor". Assim, ela está evidente em si mesma e para nós.

2) em si mesma, mas não em relação a nós  - Se o sujeito ou o predicado não tem natureza conhecida, a proposição será evidente em si mesma, mas não para todos nósEx: "O vácuo é inodoro". É uma afirmativa evidente em si mesma, mas evidente apenas para quem conhece o sujeito ("Vácuo") ou o predicado ("Inodoro").

Sob essas prerrogativas, estamos no segundo modo de evidência imediata: A proposição "Deus existe" é evidente em si mesma, pois predicado e sujeito se identificam, sendo Deus o próprio sujeito. Porém, com relação a nós, uma vez que desconhecemos a natureza divina, ela não é evidente.

Portanto, a existência de Deus pode ser demonstrada, mas não de forma imediata. São Tomás ensina que há dois tipos de demonstração:
  • "Propter Quid" (devido a que) - Baseia-se em conhecer (ou ver) a causa, para saber (ou entender) o efeito. Exemplo: uma pessoa vai ao médico e relata uma série de sintomas. O médico supõe doenças relacionadas aos sintomas, e relaciona os exames para confirmar a enfermidade.
  • "Quia" (porque) - Baseia-se em saber (ou entender) o efeito, para conhecer (ou ver) a causa. Exemplo:  se num fogão de cozinha, com todas os bocais apagados, esbarra-se em uma panela e queima-se uma parte do corpo, é porque a panela foi muito aquecida pouco antes.
Ou seja, se conseguimos ver mais o efeito que sua causa, também pelo efeito podemos conhecer a causa. Ocorre certas semelhanças entre estes. Logo, a existência de Deus não é evidente para nós, mas ela é demonstrável pelos efeitos conhecidos.


***Suma Teológica I de São Tomás de Aquino - "As Vias Tomistas"***


Iª Via - Prova do movimento

Toda a vida está sujeita a mudanças visíveis, porém diferentes. Substanciais, como quando queimamos uma folha, que vira cinzas. Causadas, como quando pintamos de amarelo uma parede que estava verde. Quantitativas, como na ebulição da água, virando vapor.

Podemos então distinguir fatos nessas mudanças:
  • As qualidades já existentes nelas. Nesse caso, essas qualidades são vistas "Em Ato";
  • As qualidades que podem vir a existir. Essas caracterizam algo que não está "Em Ato", mas que em possível mudança, são ditas "Em Potência";    
Suponhamos uma parede pintada de branco. Ela "Em Ato" está branca, mas "em Potência" está em qualquer outra cor, azul por exemplo. Ela porém passará a estar azul em "Em Ato" se for assim pintada, podendo passar a estar "Em Potência" em qualquer outra cor (branco por exemplo). A passagem de "Em Potência" para "Em Ato" é chamada demudança ou movimento.

Mudança ou movimento é pois a passagem de potência (P) de uma qualidade qualquer X para a posse daquela qualidade em Ato (A). Em formulação matemática:

Assim, tudo o que muda é movido por outro. Move-se o que estava em "potência de qualidade" para uma "qualidade em ato". E para ser motor desse processo, é preciso ter a qualidade em ato (Ex: o pintor com a tinta azul para pintar a parede).

Tudo o que muda é mudado por outro. Tudo o que se move é movido por outroE eis a questão: se um ser S1 que move está em Ato, este pode ser movido por outro ser S2 também em Ato, que pode ser movido por outro ser S3 também em Ato, e assim sucessivamente, gerando uma seqüência observável.

De fato, existem mudanças e movimentos universais que se dão no espaço e no tempo de forma sequencial (rotação e órbita planetárias, trajetória de cometas...). Igualmente na natureza, temos as sequências de cadeias alimentares (o roedor é alimento para a cobra, que por sua vez, é alimento para o gavião...).

Eis a pergunta: dada uma sequência, ela é definida ou indefinida?

Como já mencionado, tudo é movido ou mudado por outro. Se fosse indefinida, não haveria ser inicial das mudanças. Ou seja, se não houvesse um primeiro motor, não haveria o segundo, o terceiro... ou seja, supor não haver um primeiro motor, é o mesmo que dizer que o movimento não existe!!! Assim, uma seqüência não pode ser infinita.

De fato, tempo e espaço são mensuráveisnão ocorrem no infinito. O universo é material, assim sendo, entende-se o universo comofinito, pois a matéria é mensurável. Ou seja, o universo teve princípio, e terá fim.


Uma seqüência não é infinita, e o primeiro motor não pode ser movido, pois não há outro antes. Assim, esse motor não tem "POTÊNCIA", pois se tivesse, ele seria movido por um anterior. Assim, o primeiro motor só tem ATO.


Este motor é Deus. Aquele que é ATO puro, ATO sem nenhuma potência passiva. É o ser que é ATO puro, não pode usar o verbo"ser" no futuro ou no passado. Deus é portanto, ATO puro. É o ser que não muda. Ele é aquele que é. Por isso, a verdade não muda, o dogma não muda, a moral não evolui, o bem não evolui...


Agora entendemos o porquê de na Bíblia, quando Moisés perguntou a Deus qual era o seu nome, Deus lhe responder: "Eu sou aquele que é" (aquele que não muda, que é ato puro). Também Jesus Cristo ao discutir com os fariseus lhes disse: "Antes que Abraão fosse, eu sou".E os judeus pegaram pedras para matá-lo porque dizendo "eu sou", Ele se dizia Deus (a mais pura verdade). 

IIª Via - Prova pela causalidade eficiente

Toda causa é anterior a seu efeito. Não há coisa alguma que seja causa de si mesma.


Por exemplo: o resfriado é causado pela chuva, que é causada pela evaporação, que é causada pelo calor, que é causado pelo Sol. Assim, existem causas que se concatenam às outras, formando uma série subordinativa, da primeira, passando pelas intermediárias, até a última. São as "causas eficientes"

Desse modo, em causas eficientes, ao se eliminar uma causa, se elimina o efeito junto. Assim, em causas eficientes, se a primeira não ocorre, não irá ocorrer a última.

Se a série de causas concatenadas fosse indefinida, não existiria causa eficiente primeira, nem intermediárias, nem última, ou seja, nada existiria. Uma vez que existem efeitos de causas diversas, isto é evidentemente falso!!! Logo, uma série de causas eficientes tem que ser definida. Existe assim, uma causa primeira que tudo causou, e que não foi causada.

Deus é a causa das causas não causadas. E foi declarada pelo filósofo grego Sócrates, que antes da morte declarou:"Causa das causas, tem pena de mim"


Não debaterei aqui, mas eis como se desfazem certas ilusões: a ciência materialista cria uma contradição: ela concede que tudo tem causa, mas nega que haja uma "causa do universo"Já o marxismo, cria outra contradição: se Deus não existe, é transferida para a matéria as qualidades da Causa Primeira, afirmando assim que a matéria é eterna, infinita e onipotente. Resumindo: para o marxismo, a matéria é a causa das causas não causada(interessante ver que essa mesma se deteriora com o tempo...).
IIIª Via - Prova pela contingência

Para explicar melhor essa prova, definamos:


Contingente (ou possível): é o que pode ser ou não ser, isto é, não se sabe de que forma ocorre.


Necessário: é tudo o que obedece as leis naturais, ou seja, só pode ocorrer da forma como é.

Com relação aos seres, contingente é o ser com possibilidade de existir ou não existir. E na natureza, para esses seres, ou eles deixam de existir, ou começam a existir. Mas o que pode não existir, é impossível ter existido sempre.

Assim, seres que podem não existir, tiveram pelo menos um tempo em que não existiam. E se todos os seres que vemos na natureza têm a probabilidade de não existir, em algum tempo nenhum deles existia. Mas se nada existia, nada existiria hoje, dado que o que não existe não pode passar a existir por si mesmo (como seres humanos, plantas, animais...). É assim errado dizer que nada existia. 


Esse fato reclama a existência de um ser necessário (não-contingente). E se esse ser existe, ele é necessário para dar existência aos demais seres. Este ser necessário ou tem em si mesmo a razão de sua existência ou tem essa razão de outro. E essa segunda (a razão de outro) se revela impossível, pois contradiz o que foi comprovado na primeira via tomista (o Ato precede a Potência!!!).


Logo, este ser tem a razão de sua necessidade em si mesmo. Ele é ocausador da existência dos demais seres. Esse único serabsolutamente necessário tem que ter existido sempre. Nele, a existência se identifica com a essência. Ele é o ser necessário, através do qual todos os seres existem. Este ser necessário é Deus.



IVª Via - Prova pelos graus de perfeição dos entes

Talvez a mais simples e óbvia das Vias. De fato, sem muito esforço, podemos observar um nível de gradação nas características, não só dos seres: Existem homens mais nobres que outros. Existem mulheres mais bonitas do que outras. Dizemos que um lugar é mais imponente do que outro. Que um quadro no museu é mais chamativo que outro...

É nítido que seres possuem qualidades em diversos níveis. Sem querer fazer brincadeira de uma assunto tão sério, mas um exemplo simples. Eu digo que Roberta é mais bela que Fernanda. Nessa proposição, há três termos: Roberta, Fernanda e Beleza, da qual Roberta está mais próxima que Fernanda. Ou seja: só se pode dizer que algo é mais que algo, com relação a uma certa perfeição, conforme seja maior a proximidade, participação, ou semelhança com o máximo dessa perfeição.

Portanto, ainda que de forma desconhecida, existe a Verdade absoluta, a Beleza absoluta, o Bem absoluto, a Nobreza absoluta, a Inteligência absoluta, a Sabedoria absoluta.... Se atribuímos aos seres os títulos de "o mais belo", "o mais sábio", "o mais nobre", então devemos ter o ser que caracteriza a PERFEIÇÃO ABSOLUTA, isto é, aquele que carrega em si a "perfeição das perfeições"...

Todas essas perfeições coincidem num ÚNICO ser (o "mais perfeito de todos"). Um ser que é causa de todas perfeições. E a esse ser, conjunto infinito de perfeições absolutas, chamamos de Deus.

Assim, é possível entender a ordem hierárquica do universo como reveladora de Deus, permitindo conhecer sua existência e suas perfeições. Deus, ao contemplar tudo quanto havia feito, viu que o conjunto de sua criação era "muito bom", "ótimo". E essa hierarquia é que prova porque o total é "ótimo" e não apenas "bom". Porque, além da bondade das partes, havia a ordenação hierárquica. Essa ordem torna ótimo o universo, pois a ordem revela a Sabedoria do Ordenador.

Eis porque entre os homens deve reinar a JUSTIÇA, e não a IGUALDADE, tantas vezes proclamadas pelo Iluminismo e pelo Marxismo.



Vª Via - Prova pelo governo (orientação) do mundo


Para essa prova, seguem dois exemplos:

****Os reinos reunidos****

Sejam dois reinos, R1 e R2, onde seus governantes de longa data se odeiam, gerando conflitos inúmeros. Então, surge um reino maior, R3, tão poderoso quanto ambos juntos, e que irá guerrear contra R1 e R2, para conquistar suas terras e súditos. Os reinos R1 e R2 são obrigados a se unir para enfrentar o exército mais poderoso, e após sofridas batalhas, com iguais e pesadas perdas para todos os lados, R1 e R2vencem a guerra contra R3. Eis então o que acontece: os dois reinos, antes inimigos, agora são aliados e amigos. Divergiam em muitos aspectos, mas no fim, convergiram para um fim único: o bem-estar de seus reinos. Claro que não esperavam um ataque do reino mais poderoso (R3), não desejavam a guerra nem as terríveis perdas, mas encontraram a paz, que ambos os reinos tanto necessitavam depois de anos de ódio de seus governantes...

Esse é um exemplo dentre muitos, em que mesmo na confusão, se encontra o caminho para a harmonia, um fim comum.

Agora, eis as perguntas:
  • Teriam os governantes de R1 e R2 se unido, se não fosse para combater R3?
  • Teriam formalizado a paz esses governantes, tão importante para os reinos, se essa guerra não tivesse ocorrido?           
De fato, os seres trabalham e se esmeram com um fim. No caso dos governantes de R1 e R2, eles queriam o bem-estar de suas nações, mas não esperavam se reconciliar por esse meio. Ou seja, mais que garantir a derrota do inimigo, travou-se a paz, que não viam eles, era tão necessária para o desenvolvimento de ambos os reinos. Um processo doloroso de paz que foi conduzida não pelos reis, mas por alguém muito acima dos tolos governantes de R1, R2 e mesmo de R3.

***a Regra de L'Hôpital***

Novamente da matemática, um teorema muito conhecido do Cálculo Diferencial para ilustrar...

Sejam f e g funções deriváveis (ou seja, cujo limite numérico converge a um ponto), para g(x)≠0, para todo x€R. 

Então se:


Ou



Ocorrerá que:



Ou seja, a razão entre as funções derivadas, ou resultará num número finito k (k € R), ou k=+∞ ou k=-∞.

OBS: ∞ é um índice de indeterminação do valor de x, significa que x não para de crescer (+∞) ou não para de decrescer (-∞). 

Vejamos um exemplo numérico desse teorema:


De fato, se observarmos essa função, ela não parará de crescer, pois para valores cada vez maiores de x, f(x)=xserá ainda maior. Seja também esse limite:


Ou seja, tanto f(x)=x2 quanto g(x)=7x2+3 não param de carregar a indeterminação (somente crescem). Mas justamente por isso, atendem ao pressuposto da Regra de L'Hôpital. Nesse caso para calcular o limite dessa razão de funções:


Ou seja, embora as funções separadamente não convirjam, o limite da razão da derivada dessas funções é um número real, a fração 1/7. Claro que ela poderia divergir, mas alguma transformação a mais poderia sucessivamente transformá-la em convergente, e assim, finita.

Sem efetuar essa razão, f(x) continuaria a ser uma função divergente, ou seja, seus valores nunca encontrariam um fim. O mesmo se daria com g(x). Assim, de duas divergências, foi possível obter uma convergência. Assim como os reis que se uniram para derrotar o inimigo comum.

Assim, o homem age racionalmente, outros seres não, mas todos os seres buscam um fim, uma direção. No caso dos reis, cada um teve seu intento, mas foi para um fim comum que eles foram conduzidos, sem esperar. Assim se deu com a razão dos limites das funções matemáticas, assim representadas para mostrar que poderia ser obtido um ponto comum para ambas. Assim como a flecha, que em si é cega, mas que é conduzida a um fim pelo arqueiro que a dispara. Assim como na sinuca, na qual um jogador tem um taco cego, uma bola em si cega, mas faz movimentos com o taco para dar a direção da caçapa para a bola.

Logo, aquele(es) que não possui(em) conhecimento claro do futuro, nem da importância da ordem, nem da importância da justiça, da harmonia, do bem-estar, só conseguirá(ão) encontrar um fim para tudo sendo dirigido por alguém que entende e conhece, por assim dizer, "o caminho das pedras". Assim se dá com o mundo, esteja certo ou errado, pois o homem muitas vezes se rebela contra o certo, preferindo o fácil. Nisso, lembro sempre essa frase de Mahatma Gandhi: "o bem é o único caminho que serve para a humanidade, onde encontramos tiranos e assassinos ao longo de sua História, que sempre obtêm vitórias, mas que sempre acabam caindo no fim". Um caminho único, conduzido por um ser inteligente único, que nos fará encontrar o fim de tudo...

Para ilustração final, um episódio bíblico interessante está em 2Cr 35,20-27: o rei Necao do Egito recebeu de Deus a mensagem de que deveria socorrer os assírios, antigos inimigos dos israelitas. Josias, o rei de Israel, ao saber do avanço egípcio em auxílio dos assírios, parte para batalhar contra Necao. Este diz para Josias para ele "parar de se opor a Deus". O último piedoso rei de Israel não lhe dá ouvidos, e morre no confronto de "HARMAGEDON" ("montanha de Magedo"), termo que no Apocalipse de São João, simboliza o lugar de derrota de todos os desígnios humanos em face dos desígnios de Deus. E sim: era a vontade do verdadeiro governante do mundo, o verdadeiro Senhor da História (como dito pelo profeta Naum), falando em alto e bom tom naquela batalha, onde apesar da fidelidade de Josias, este deveria ter ouvido a Deus.

Enfim, depois de tanto dissertar, o resumo final: existe um ser inteligente que dirige todas as coisas naturais a seu fim próprio. Alguém a quem muitas vezes não ouvimos, mas que dirige, governa esse mundo com amor, apesar de nossas falhas, sempre em direção a um fim. E este alguém, esse ser sapientíssimo, nós chamamos de Deus.




****Algumas perguntas (e reflexões)****


Voltemos a imagem de início dessa postagem: a moça da foto abre os braços em tom de liberdade. Sem preocupação com castigos eternos, exigências para recompensa... Ou seja, teoricamente, não deve nada a ninguém!!! Será possível ela ser "imortal"?


Uma reflexão do Dr. Orlando Fedeli, brilhante professor católico já falecido, e cuja obra inspirou em parte a essa postagem:


"Um homem que tenha uma dívida, atormentado pela mesma dívida, teria desejo de que seu credor 'não existisse', pois estaria livre da dívida."

A lógica seria a mesma para o pecado: se o pecador diante de Deus não quer deixar o pecado, o caminho mais prático é negar a sua existência. Qual seria o maior desafio então? Provar a existência de Deus, ou fazer o ateu aceitar os desígnios Dele?

Assim, devido as mazelas desse mundo, não poucas vezes as vítimas, ou mesmo os que observam são tentados a muitas perguntas: onde está Deus nessa hora? Se ele existe, posso dizer que ele é cruel? Ou impotente? Ou que "precisa" de nós? Ou simplesmente que ele não existe?


Para polemizar de vez (e se possível finalizar também), farei perguntas já feitas pela minha pessoa, e já feitas à minha pessoa, onde nem sempre pude dar a resposta devida, ainda que dura, ainda que fustigante, ainda que alguns vejam minhas respostas como ofensivas. Se for duro demais, sinto muito, mas é justamente quando somos chamados a refletir sobre o nosso real papel no mundo:


1º Por que Deus não fala diretamente comigo? 


Notemos que nem na Bíblia, grande fonte de tradição escrita inspirada, com exceção aos Santos Evangelhos, Deus não se comunica diretamente e costumeiramente com o homem. Exceção ainda aos inícios humanos, passando pelos patriarcas e profetas, mesmo os reis de Israel, mesmo os grandes heróis de Israel, e após a morte dos Apóstolos, mesmo entre os santos e mártires, são poucos os testemunhos de Deus falando com o homem... 


Sendo assim, como ele se comunica conosco de forma rotineira? Por aqueles que são enviados ("assim como o Pai me enviou, assim eu vos envio"). E mesmo através dos elementos, da natureza, das humanas palavras, da ciência e (sim, inclusive!!!) no silêncio, Deus se comunica conosco. Basta apenas que aprendamos a ouvir tanto quanto aprendemos a falar; que aprendamos a buscar tanto quanto a esperar. Que estudemos, em vez de simplesmente repetir o que nos dizem. Que reflitamos, em vez de simplesmente nos deixar influenciar...


2º Por que Deus permite tantas mazelas no mundo (fome, doenças, guerras, desemprego, violência...)?


Nesse caso, é importante, de forma fria e responsável, antes de falarmos de Deus, nos olhar no espelho, em silêncio e reflexão, acreditando ou não Nele...


De fato, vejamos: 


Destruição do Iraque. Culpa de Deus? Não, da ganância em termos econômicos e "democráticos" norte-americanos (indo contra determinações inclusive da ONU!!!), associado ao terrorismo que oprimia as minorias do país. Herança capitalista... 


Genocídio em Ruanda. Culpa de Deus? Não, da falta de diálogo e de instrução do povo local (entre as vítimas do período imperialista, que assolou o continente), associado a caótica situação de opressão econômica e social, que insuflou a maioria hutu contra a minoria tutsi, gerando um horror de proporções calamitosas. Os sistemas econômicos em voga e a cultura do continente africano colaboraram para tanto...


Opressão das mulheres nos países de maioria islâmica. Culpa de Deus? Ou da cultura tradicional isenta de misericórdia nos países islâmicos, que assim, se exime da justiça? Onde está a justiça de se apedrejar uma mulher adúltera, e o homem adúltero pagar pela liberdade? Onde está a justiça em, por causa do crime de um homem, uma mulher ser estuprada por um tribo inteira? Onde está a justiça em a mulher servir de moeda de troca no comércio? Onde está a justiça em um homem ter várias mulheres, e a mulher poder ter apenas um marido? Aos defensores do islamismo, irmãos de raiz, peço a palavra...     


Direitos humanos desrespeitados na China. Culpa de Deus? Ou do Comunismo, que dada a falta de tradição religiosa no Extremo Oriente (devemos retirar o Budismo nesse caso...), nos remete a perseguição as religiões presentes em seu território?


OBS: O Budismo deve ser visto a parte, uma vez que muitos não o contemplam como religião...


Fome nos países africanos. Deus é o culpado? Ou do passado colonial associado ao caráter econômico vigente, que retira dos países de lá toda esperança em melhora no nível de vida, endividando cada vez mais esses países, mitigando a cultura, a educação, a moral, de forma a animalizar em vez de doutrinar as pessoas? Num continente tão heterogêneo no que se refere a sua estrutura natural, aos credos, aos regimes políticos, a formação moral, não poderiam ser mais dignos de Misericórdia nossos irmãos dessa terra sofrida...


Em resumo: Deus sempre nos orienta para o caminho certo (conforme vimos na 5ª via tomista), mas se nos desviamos desse caminho, o que deveria ser uma estrada de linha reta, perfeita para nosso caminho, se transforma, a médio ou longo prazo, em uma estrada esburacada, cheia de desvios, percalços, acidentes...


3º Por que Deus permite que uma mulher, contra sua vontade, seja estuprada?


Opinião pessoal: é um ponto difícil de se falar. Motivo: seria uma postagem inteira sobre o assunto, feita com o máximo de prudência e clareza. De fato, as vertentes que originam esse crime contra o maior presente de Deus para o homem (a mulher) são inúmeras. Passará pela vulgarização do vestuário feminino público (cada vez mais insinuante). Passará pela formação desvirtuada da família, bombardeada pela mídia de forma consecutiva com programações de péssimo nível, propagadas pelos meios de comunicação. Passará pela própria educação nas escolas, menos pautada na moral e respeito, mais fincada na balbúrdia e sexualidade desenfreadas, o que não fomenta a capacidade intelectual. Passará pelas relações humanas no trabalho e vida social, pautadas em competitividade, baixa auto-estima, vulgarização do aspecto sexual e mesmo novamente no âmbito intelectual. Passará pela própria deturpação da História, onde dão vitória do sensualismo (sugiro que procurem o que vem a ser esse conceito, muitos não sabem o real sentido...) e do subjetivismo sobre a ética e o objetivismo. Passará...


Enfim, resumindo: como já disse é uma postagem inteira sobre o assunto, quem sabe se Deus me der forças, ela não sai um dia...



4º Por que Deus permite que uma criança seja assassinada, molestada, escravizada...?

Não é tão difícil falar, mas nem por isso menos delicado o assunto....


De fato, como saber se a criancinha que nasceu em pecado, mas também com a alma em pureza, não será o próximo Nero, Domiciano, Adolf Hitler, Benito Mussolini, Josef Stálin, Idi Amin Dada, Mao Tse Tung, Saloth Sar (Pol Pot, mais conhecido), entre outros célebres criminosos? Alguns desses podem ter tido educação exemplar e serem monstros por natureza, mas a gigantesca maioria é dos que tiveram pouco amparo familiar, pouca educação, moral e ética deprimentes, nenhuma formação religiosa, poucas oportunidades de crescimento na vida...


Num ambiente em que os pais são de esquerda "light" (e assim, menos propensos a moral e a disciplina), em que os pais são viciados em drogas, em que os pais tem formação que destroça o amor ao próximo ("não vai na favela fazer vigília pascal minha filha, por que é perigoso!!!"), em que o sistema econômico se preocupa mais com o lucro que com a verdade, gerando competitividade em vez de crescimento, em que o consequente desemprego será trágico para a renda familiar, em que a lascívia vai se tornando quase corriqueira na mídia, em que os políticos são ricos ou vão ficar muito ricos, etc... a pergunta: como será o crescimento das crianças, da juventude, nesse mundo que revela a cada instante, a caminhada da humanidade rumo ao abismo?


Se não concordam, vejam os jovens das "cracolândias" (quase zumbis de ficção científica!!!), o inferno da infância nos países africanos, os filhos de políticos se preparando para serem tão "éticos" e "morais" quanto os pais, os jovens de origem pobre encontrando no crime organizado a forma de subsistência, as adolescentes se transformando em mães solteiras sem formação e apoio...


E para terminar, como diriam os irreverentes, de "chutar o pau da barraca", vem a pergunta: os que fazem essa pergunta (porque Deus deixa uma criança ser assassinada?) não serão os mesmos que defendem o aborto? Controvérsia socialista...


Enfim, muitas outras reflexões podem (e devem!!!) ser feitas, mas acredito que o papo já vai longo...




****Conclusão****


A um sacerdote católico, na Igreja de Santa Justina Mártir, em 2007, o Sumo Pontífice lembrou de um provérbio interessante:


"A queda de uma única árvore produz grande estrondo, mas o crescimento de toda uma floresta é inaudível" - SS Bento XVI.


Sim, um crime cometido contra um ser humano pode ser horrível, mas... Só com o genocídio (e martírio!!!) de cristãos nos três primeiros séculos D.C. é que se fortaleceu a Igreja... Só com mais de dois séculos a Revolução Francesa, o Liberalismo Econômico, o Capitalismo e o Comunismo revelaram o que tinham para a raça humana: desordem, injustiça e mazelas... Só com cerca de um século do laicismo e da suposta "tolerância religiosa" (mais falsidade entre amigos) foi possível descobrir a farsa de muitas seitas proselitistas, e a ingenuidade das massas aderentes... Só com um século dos horrores das guerras mundiais é que a humanidade percebeu o quanto a guerra é que constitui o verdadeiro crime...


E ainda assim, depois de tanto tempo e dor, demoramos a aprender (ou não queremos aprender!!!), revelando assim, o quão longos podem ser os tempos de Deus...

Mas isso significa que a humanidade "não presta", que tenho de me separar, discriminar ou até matar fora da justiça, quem se opõe a Deus ou ao que Ele ensina? Antes disso, lembremos que todos nós somos feitos a imagem e semelhança de Deus. Assim, o coração do homem tem origem no próprio Deus. Dele surgiu, para Ele retornará. Por isso, em Jr 31,31-34, Ele promete a Nova Aliança, onde a Lei seria lembrada não em tábuas de pedra, como os Dez Mandamentos, mas no próprio coração do homem. Foi dessa forma que Jesus Cristo instituiu a Eucaristia, a "Renovação do Sacrifício do Calvário" (cf. o infalível Concílio de Trento), para após sua salvífica Morte na Cruz, reconciliar Deus e o mundo. Assim, é no equilíbrio da Justiça e da Misericórdia que encontraremos o caminho... 

Em resumo: todos somos enviados por Deus em seus insondáveis mistérios, para realizar sua Vontade, percebamos nós ou não. Em minhas últimas palavras, eu digo a todos vocês meus irmãos (e notem, disse todos), que essa não é apenas uma manifestação de fé, ou crítica aos céticos: é um convite a se fazerem sempre essas e outras perguntas e reflexões, ao longo de suas vidas. Pois mesmo para os que não acreditam, caminhar nessa vida é destinar-se a uma missão. Não esotérica com o intuito de "topar" com alguma entidade cósmica, nem elitista com o intuito de ofender outas crenças, mas peregrina em busca da Verdade, aquela que liberta, e que ao nos libertar, um dia nos levará de volta ao encontro do Criador, da "Causa das Causas", do Primeiro Amor, que se possível, nos levará rumo a Morada Eterna, onde todos esperamos chegar um dia...

Para os que já aceitem a existência de Deus (
tão certa como o ar que respiramos, tão certa como o amanhã que se levanta...), façamos nossa parte para aceitar seus desígnios, e assim, entender o mundo, e trabalhar de fato, para mudar esse mesmo mundo para melhor. Me despeço com esta imagem, reflexo do encontro de todo ser que busca o pessoal encontro com Deus, através desse subsídio sublime: a oração!!!

Abraços para os rapazes, beijos para as meninas. E a paz esteja com todos...


Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!!! Salve Maria!!!



Fontes:

Fedeli, Orlando - "Existência de Deus" - MONTFORT Associação Culturalhttp://www.montfort.org.br/index.php?secao=cadernos&subsecao=religiao&artigo=existencia&lang=bra  - 
Online, 19/09/2013 às 12h30min.

"Reforma Agrária, fruto da Revolução Francesa-MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cartas&subsecao=politica&artigo=20040729143206 - 
Online, 19/09/2013 às 12h33min.

BENTO XVI, Papa, 1927. Perguntas e respostas. Tradução de Euclides Luiz Calloni, Cleusa Margot Wosgrau - Editora Pensamento, São Paulo, 2009. ISBN 978-85-315-1583-5.


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