domingo, 20 de janeiro de 2013

A bíblia, Jerônimo e a maçã.

Foi a maçã o fruto proibido?
Texto: Joalsemar Araujo

Foi a maçã o fruto proibido?

Entrou em cartaz em 12 de novembro em São Paulo o espetáculo "A Culpa é da Maçã" no Núcleo Experimental de Teatro Contemporâneo. A peça, escrita e dirigida por Ronaldo Tasso, traz uma versão cômica da história de Eva e do fruto proibido propondo-se a analisar o destino da mulher e sua culpa pelo pecado original. A atriz Suzana Apelbaum protagoniza Eva em três histórias atuais com emoções, distúrbios e tensões contracenando apenas com uma enorme ampulheta que marcará o tempo divino concedido à Eva.

A peça dá ensejo a uma antiga pergunta: teria sido a maçã o fruto proibido relatado em Gênesis?

O relato bíblico da criação do homem, do jardim do Éden e da queda (Gênesis capítulos 2 e 3) menciona apenas fruto sem especificar qual seria. Por que então esse fruto foi identificado com a maçã?

Durante séculos os teólogos judeus e cristãos procuraram identificar o mal fadado fruto. Nessa tentativa as principais frutas “candidatas” foram: a uva, figo e a maçã.
Na tradição judaica, predominou, dentre outras, a identificação com a uva e o figo. Segundo essa tradição, Eva comeu e utilizou a uva para fazer vinho, que então serviu ao companheiro. Outra vertente afirma que foi o figo. Após comerem o fruto da Árvore, Adão e Eva se conscientizam que estão nus: a vergonha veio ao mundo através do pecado. Eles produzem roupas a partir das folhas da figueira. Alguns sábios judeus explicam que essas roupas foram feitas com as folhas da árvore do fruto proibido, no caso, então, o figo. Ambas as frutas são usadas nas festas judaicas e simbolizariam o que a Cabala [1]chama de “Tikun”, retificação espiritual, onde a mesma fruta que foi consumida em pecado é usada em um ato de santificação quando o homem santifica o mundo físico, utilizando seus elementos com propósito sagrado.

A maçã na tradição judaica é o símbolo da casa e família, do otimismo por um futuro mais glorioso, da tenacidade do espírito e determinação judaica. Tem um lugar de honra na mesa de Rosh Hashaná, como um precursor de boas coisas e de um ano bom e doce para todos.

Na Bíblia a macieira e seu fruto [2] são citados em Provérbios 25.11; Cantares 2.3; 7.8 e 8.5; Joel 1.12. A Bíblia refere-se a cidades e pessoas que tiveram seus nomes (Tapua, na versão de João Ferreira de Almeida) ligados à maçã conforme o significado etimológico: Josué 12.17; Josué 15.34, 53; Josué 16.8; Josué 17.7,8; 1Crônicas 2.43

Na tradição cristã, embora levasse em consideração a uva e o figo, predominou a identificação do fruto proibido com a maçã principalmente a partir do século XIII. As razões para a identificação são as seguintes: Segundo o Rabino Berel Wein “existe uma fonte judaica que diz que a maçã seria uma fruta fatal, citada no Midrash [3], porém esta não possui o peso de uma autoridade, como a declaração no Talmud [4]. O mundo cristão, por razões desconhecidas, adotou a visão deste Midrash e tudo o que diz respeito à arte, história e tradição religiosas nos últimos 1,500 anos dão à maçã um nome ruim.”[5]

Uma das razões desconhecidas do Rabino Wein para que a maçã fosse associada ao fruto proibido é a tradução do texto hebraico de Gênesis 2.17 para o latim (“de ligno autem scientiae boni et mali”) feita pelo célebre biblista Jerônimo (347-420 d.C.), autor da tradução bíblica latina conhecida como Vulgata. Em latim as palavras “maçã” e “mal” são homônimas : “malum”. Assim o Lignus Mali, árvore do mal, passa a ser árvore da maçã. Some-se a isso o uso da maçã em várias culturas pagãs que existiram conjuntamente com as tradições cristãs medievais que associavam a maçã à cultos da fertilidade, à magia, à felicidade, à lugares fabulosos, ao conhecimento... Por força dessas tradições a partir do século XIII a maçã fixou-se no imaginário comum como o fruto proibido, símbolo do prazer pecaminoso, da tentação.

Como o senso comum tem grande força, faz-se necessário esclarecer, em síntese, que a identificação do fruto proibido com a maçã não deriva da Bíblia nem da tradição judaica sendo antes tal identificação formada a partir da ambigüidade da tradução do texto bíblico hebraico para o latim somado à tradições pagãs coexistentes com o cristianismo medieval.

Evidentemente, não é impossível que o tal fruto tenha sido a maçã. Mas, principal da narrativa bíblica é a mensagem do livre-arbítrio, das mentiras de Satanás (“a serpente antiga”, Apocalipse 12.9; 20.2), da sedução do pecado, da perda de comunhão com Deus, a principal tragédia ocorrida no Éden.

Alegoricamente falando, muitos frutos aparecem na nossa jornada de vida prometendo-nos coisas agradáveis, sensações tremendas, liberdade, plenitude de vida. Como Adão e Eva concentramo-nos na única coisas proibida e esquecemos que temos um jardim com tantas coisas aprazíveis. Longe de ser mero simbolismo, o fruto proibido é um alerta para nãoesquecermos que aquilo que temos em Deus é melhor do que aquilo que ele nos proíbe. 
Notas:[1] CABALA: Do hebraico qabbalah, 'tradição', também aplicado à interpretação do Velho Testamento, pelo latim medieval, cabbala. Os judeus utilizam na língua portuguesa a grafia e pronúncia “Cabalá”. A Cabala é um tratado filosófico-religioso hebraico, que pretende resumir uma religião secreta que se supõe haver coexistido com a religião popular dos hebreus. Oconteúdo desse tratado trata, particularmente da decifração de um sentido secreto da Bíblia e uma teoria e um simbolismo dos números e das letras.

[2] MACIEIRA, MAÇÃ: no hebraico “tappuach” palavra associada à exalação de agradável odor. Alguns estudiosos questionam se o texto bíblico se refere à fruta que conhecemos como maçã ou à outra fruta, porém prevalece oentendimento tradicional. No mundo bíblico a macieira era uma planta rara eassociada ao prazer, ao bem-estar e à realeza.

[3] MIDRASH: em hebraico, significa interpretar ou aprofundar. É uma forma narrativa criada por volta do século I a.C. na Palestina pelo judeus. Esta forma narrativa desenvolveu-se através da tradição oral até ter a sua primeira compilação apenas por volta do ano 500 d.C. no livro Midrash Rabbah.Existem dois tipos de midrash: o halacá e o hagadá. O midrash halacá explica e comenta, atualizando as leis judaicas. O midrash hagadá amplia histórias bíblicas enfeitando-as com dados verdadeiros, legendários ou fantásticos.

[4] TALMUD: Doutrina e jurisprudência da lei mosaica, com explicações dostextos jurídicos do Pentateuco, e a Mishná, i. e., a jurisprudência elaboradapelos comentadores entre o III e o VI séculos. Vem do hebraico talmud Torah, estudo da Torá.

[5] WEIN, Rabino Berel. Maçãs e Mel: Descobrindo as origens tradicionais e o significado de uma das comidas mais famosas de Rosh Hashaná.


REFERÊNCIAS:
CASELLA, Cláudia. Afinal, qual era o fruto proibido?Disponível em: http://www.claudiacasella.blog.br/?p=118
DJMAL, Tev. Revisitando o Jardim do Éden. Disponível em: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=713&p=3
FOLHA ONLINE. Comédia aborda a culpa da mulher pelo pecado original.
Disponível em: http://guia.folha.com.br/teatro/ult10053u466972.shtml
MIDRASH. Artigo da Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Midrash
MORAES, Gerson Leite. Paul Ricoeur: uma hermenêutica enriquecida. In: Último Andar, Caderno de Pesquisas da Religião, nº 13. Disponível em: www.pucsp.br/ultimoandar/download/Ultimo_Andar
STADELMANN, Luis I. J. Cântico dos cânticos. Edições Loyola, 1993. Disponível em: http://books.google.com.br
WEIN, Rabino Berel. Maçãs e Mel: Descobrindo as origens tradicionais e o significado de uma das comidas mais famosas de Rosh Hashaná. Disponível em: http://www.aishbrasil.com.br/new/artigo_maca_mel.asp

ZIERER, Adriana. Significados medievais da maçã: fruto proibido, fonte do conhecimento, ilha Paradisíaca. In: Revista Mirabilia nº 1. Disponível em: http://www.revistamirabilia.com/Numeros/Num1/maca.htm.

As freiras, o câncer e os anticoncepcionais.

Editora Globo


Estudo diz que freiras deveriam usar anticoncepcional


A bula Humanae Vitae, publicada pelo papa Paulo VI, em 1968, oficializou a posição da Igreja católica contra o uso de contraceptivos. Mas liberou os remédios que previnam doenças graves, mesmo que evitem filhos. Agora, um estudo publicado na revista médica The Lancet pede que a Igreja autorize as 95 milhões de freiras do mundo a tomar pílula para diminuir cânceres femininos. Estudos anteriores já haviam demonstrado que as religiosas têm até o dobro de chance de morrer de tumores na mama, ovário ou útero. Mulheres que não engravidam menstruam e ovulam mais vezes ao longo da vida, o que está relacionado à maior incidência desses tipos de câncer. O uso de anticoncepcionais interromperia esses ciclos, reduzindo em até 60% a chance de tumores. Será que o papa vai deixar?


http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI291066-17933,00-ESTUDO+DIZ+QUE+FREIRAS+DEVERIAM+USAR+ANTICONCEPCIONAL.html

domingo, 13 de janeiro de 2013

WIKIBÍBLIA


Quem escreveu a bíblia?

Algoritmo prova que a bíblia foi um trabalho coletivo

por Alexandre Rodrigues

Editora Globo
Desde o início dos modernos estudos da Bíblia, no século 18, especialistas duvidam que alguns de seus importantes textos tenham sido escritos somente por uma pessoa. Um algoritmo criado por cientistas israelenses agora mostra que eles tinham razão. O software usa informações coletadas por especialistas durante séculos para reconhecer padrões (como o uso hebreu para expressões como “se”, “e” e “mas” e seus sinônimos em certa época) e separar o texto em blocos escritos por diferentes pessoas.

Com a técnica, já confirmou que o Pentateuco (que reúne os 5 primeiros livros do Velho Testamento) teve vários autores. E que o Li­vro de Isaías não foi escrito somente pelo profeta, mas também por um colaborador, que assumiu a obra a partir do capítulo 33. Até então, os estudiosos desconfiavam que isso havia sido feito no capítulo 39.

Os fins do algoritmo não são somente religiosos. “Poderá ser usado para determinar casos de plágio ou identificar autores anônimos de determinados textos”, diz o coordenador da pesquisa, Nachum Dershowitz, da Universidade Blavatnik School of Computer Science, em Tel Aviv. 
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últimos comentários

  • Kars
     | RJ | Rio de Janeiro | 05/10/2012

    A Bíblia é mesmo "o livro"?

    Jesus morreu na India, aonde seu túmulo é conservado até hoje (Srinagar), teve um filho com Maria Madalena, sua mãe Maria morreu antes de chegar na cidade prometida e também tem um túmulo. Essa viagem de Jesus não está na Bíblia ... ou foi retirada? Porque não estudamos mais da vida "real" de Jesus? Ame Jesus, conheça sua vida e obra, seu lado humano e mortal.
  • Diogo
     | SP | Zacarias | 28/09/2012

    discordo também!

    A biblia é como qualquer livro (ou livros), uma pessoa escreveu-o para as pessoas lerem-no. E acho que sem a Biblia, talvez o mundo estivesse melhor: -Na Idade Média, Igrejas não matavam pessoas. -Várias guerras foram causadas por disputas sobre religiões, como na 2ª Guerra Mundial, onde perseguiam os judeus. -O mundo teria uma tecnologia mais avançada.
  • Lucas
     | SP | São Paulo | 25/09/2012

    discordo...

    A Biblia não atrasa a sociedade, sua falta de respeito sim.

Quem escreveu a bíblia?

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