Olá,
irmãos, estive com a professora tirando algumas dúvidas. Se eu não estiver
enganado, abaixo, segue o tutorial para a execução do trabalho pedido.
Bons
estudos! (Καλή μελέτες;)
TUTORIAL DO TRABALHO
LÍNGUA PORTUGUESA 2
Para os alunos do primeiro e do segundo
períodos da faculdade de Teologia da FAECAD, noturno.
Por Alan Francisco de Souza Lemos, bacharel
em línguas grega e portuguesa e literaturas grega e brasileira, aluno da FAECAD
Proposta
Analisar criticamente o soneto Amor e crença, publicado em 1901 em Poemas esquecidos, segundo a metodologia
ensinada em sala nas últimas aulas: RECENSIO, COLLATIO e EMENDATIO.
Minha explicação
A -
Definição aplicada de recensio,
collatio e emendatio
Recensio - palavra
aparentada do latim recensionis,
revisão.
Collatio - palavra
aparentada do latim collationis,
colação, comparação.
Emendatio -
palavra aparentada do latim emendationis,
emenda, melhoria
B
- Execução
Em aula, já sublinhamos as palavras
que possuem necessariamente implicação bíblica, isto é, só destacamos aquelas
cujo significado remete à esfera religiosa.
Nesta etapa, o que se está fazendo é a recensio. Deve-se atentar para o contexto.
Agora, pede-se fazer a collatio e a emendatio.
Na collatio, quer-se identificar as relações de parentesco existentes
entre as palavras pré-selecionadas da edição de 1901 com as mesmas da última
edição, 2013. É mister procurar, na “internet”, a edição mais recente. Se
houver discrepâncias, erros ou alterações, dever-se-á proceder a emendatio.
Na emendatio, quer-se explicitar, em notas de rodapé (que, para efeito
didático, pode-se, aqui, comparar com “emendas” ou “remendos”), as conclusões
ou informações as quais o aluno deseja colocar no trabalho, relativas aos erros
ou alterações encontradas no exame ou comparação feita (examinatio).
Bem... isto foi o que eu entendi.
Mas, assim como vocês, nunca havia visto ou estudado o assunto. Posso
perfeitamente estar equivocado. Mas foi o que pude fazer por vocês... kkkk...
Não obstante, abaixo, segue um ótimo
texto introdutório de um prócer da Ecdótica no Brasil. Leiam como texto de
apoio. É curtinho...
SOBRE
O CONCEITO DE CRÍTICA TEXTUAL
Leodegário
A. de Azevedo Filho (UERJ e UFRJ)
Crítica Textual é, essencialmente, a atividade
filológica de um grupo mais amplos de atividades definido como Ecdótica.
Na verdade, a Ecdótica trata de todo o processo de
preparação e realização da edição de um texto, inclusive por meio de processos
mecânicos, que incluem também a preparação desse material para a publicação.
Nesta palestra, o que nos ocupará será apenas essa
parte preparatória para uma edição crítica, que é diferente da mecânica, da
diplomática, da semidiplomática etc., tratando de cada uma das etapas desse
trabalho.
Sabe-se que há quatro tipos de edição: edição
mecânica, edição diplomática, edição diplomático-interpretativa e edição
crítica, por nós já estudados no livro Base teórica de crítica textual.
Como disciplina integrante da Ecdótica, no que se
refere à técnica de editar um texto, a crítica textual – também chamada crítica
verbal –, seria dessa ciência o seu núcleo essencial ou especificamente
filológico, voltado para o estabelecimento de um texto e não para a totalidade
dos problemas que envolvem a técnica e a arte editorial. Sendo assim, entre
Crítica Textual e Ecdótica, logo se pode indicar uma relação de inclusão.
Com efeito, do ponto de vista da lógica simbólica,
não se trata de uma relação de identidade – como alguns supõem – e muito menos
de uma relação de exclusão ou mesmo de simples intersecção. Trata-se,
efetivamente, de uma relação de inclusão, pois tudo o que é crítica textual se
integra na Ecdótica, mas o campo de ação desta última vai além da crítica
textual propriamente dita.
Dos períodos grego, alexandrino e romano aos nossos
dias, bem ou mal sustentando-se na idade Média, a Crítica Textual chega ao
Renascimento, passando pelo Maneirismo e pelo Barroco, em sua marcha para o
Neo-classicismo, Romantismo, Realismo, Parnasianismo e Simbolismo, até chegar
ao método renovador de lachmann, de que foram dissidentes D. Quentin, ainda que
parcialmente, e Bédier, este último já em nítida posição divergente. Na
verdade, em Lachmann e em Bédier é que se encontram os dois pontos de partida
da Crítica Textual de nossos dias, por isso mesmo divida em duas grandes
correntes modernas: a neolachmanniana dos críticos alemães e italianos e a
neobedieriana dos críticos franceses. Tanto numa como noutra, a edição crítica
é tida como operação inteiramente indispensável à perfeita compreensão de um
texto, com segura base filológica, pois a Filologia é a ciência que se
volta,deliberadamente, para a análise e compreensão dos textos, no caso
recorrendo a critérios que melhor possam aproximar um texto à última vontade
consciente de seu autor.
São etapas de uma edição: a) Recensio; b) Collatio; c) Eliminatio
codicum descriptorum; d) Classificação estemática da tradição
manuscrita, se houver, e da tradição impressa (textos não eliminados após a examinatio);
e) Interpretatio; f) Emendatio; g) Constitutio
textus, ápos a Interpretatio e a Selectio; h) Apresentação
crítica do texto reconstituído; e i) Aparato crítico de variantes.
Segundo a metodologia decorrente da teoria
neolachmaniano, a recensio (levantamento de todo os dados
relacionados com o texto a ser editado) é o primeiro momento de uma edição
crítica, tendo como finalidade, com base na collatio, o exame
atento das relações de parentesco ou relações estemáticas dos códices
existentes para a eliminatio dos que sejam, comprovadamente
simples cópias sem valor autônomo, a não ser que tenham alguma utilidade para o
estabelecimento crítico do texto.
A emendatio, depois de competente interpretatio,
é a etapa seguinte e deve obedecer a determinados princípios, pois não se
emenda o que não for comprovadamente erro (daí a importância da interpretatio).
E também da teoria dos erros, como demonstra Paul Maas. Erro ou deslize
evidente, além de gritante contra-senso, decorrente de ultracorreção.
Quando se corrige um texto com base na lição
majoritária dos manuscritos encadeados num stemma codicum, fala-se
em emmendatio ope codicum, centrada no princípio do predomínio
numérico das variantes e no cálculo estatístico das probabilidades. Ao
contrário da emendatio ope conjectura (divinatio), que se
fundamenta em hipóteses e que vai depender, muitas vezes, do simples intuição
do editor em face das condições lingüísticas e culturais da época em que o
texto foi produzido, a emedatio ope codicum, é claro, tem maior aceitação
científica.
Observe-se ainda que, na etapa da recensio (fechada
ou aberta), a Crítica Textual moderna tem seguido alguns preceitos gerais,
herdados da tradição clássica, embora todos apresentem históricas exceções.
Indiquemos os principais: a) lectio antiquior potior; b) lectio
difficilior potior; c) lectio plurium codicum potior; d) lectio
melioris codicis potior;e) lectio brevior potior; e f) lectio
quae alterius originem explicat potior. Tudo isso, é claro, na procura
da melhor lição: lectio melior potior.
No que se refere a emendas conjecturais, desde logo
diga-se que não devem ser feitas sem que se esgotem os recursos subsidiários
oferecidos pela Diplomática, pela Codicologia, pela Paleografia, pela
Escriptologia e pela Grafemática. Também a formação lingüística, filológica e
teórico-literária do editor vai importar, aliada, naturalmente, ao critério do usus
scribendi do autor e da época, além do permanente apelo aos princípios
gerais da psicologia da cópia. Em síntese, os filólogos clássicos geralmente
indicam cinco etapas para a crítica conjectural: a) interpungere, ou
seja, pontuar adequadamente o texto; b) mutare, ou seja, corrigir a
troca de letras, responsável pela troca de palavras sem, qualquer sentido no
contexto frasal; c) transponere, dispor as palavras em outra
ordem, mais coerente com o sentido do texto e com a língua e com o estilo do
autor, corrigindo-se assim possíveis alterações de copistas inovadores ou
invasores do texto alheio; d) delere, ou seja, apagar ou
suprimir palavras que aparecem no texto por evidentes interpolações de
copistas; e) supplere, ou seja, completar possíveis lacunas no
texto, geralmente motivadas por pequenos saltos ou manifesto descuido de
copistas ou até do próprio autor.
Tais princípios da emendatio, em
seus dois momentos específicos de operar, estão ligados naturalmente à interpretatio. Na
verdade não existe nenhum método de crítica textual que se possa aplicar a
todos os autores, pois cada edição apresenta os seus problemas específicos.
Algumas vezes, a lei objetiva (ou assim chamada) do predomínio numérico das
variantes, baseada no cálculo das probabilidades, em casos de recensio fechada,
terá que ceder espaço imediato ao critério da lectio difficilior e
ao princípio dousus scribendi, do autor e da época, em casos de recensio aberta,
pois cada época e cara autor sempre apresentam características próprias, tanto
do ponto de vista da língua, como do ponto de vista do estilo. Assim, não raro,
a selectio das variantes vai oferecer ao leitor um texto bem
diverso do seu correspondente na tradição impressa corrompida.
Acrescente-se ainda que o objetivo maior de uma
edição crítica consiste em restituir um texto, tanto quanto possível, à sua
forma genuína. Em conseqüência disso o conhecimento da língua do autor e da
época em que o texto foi escrito logo se transforma em exigência preliminar. No
caso, será preciso eliminar o conjunto de alterações acumuladas durante o
processo, por vezes longo, de sua transmissão. Portanto, editar criticamente um
texto significa apresentá-lo ao leitor em sua forma possivelmente originária ou
livre de impurezas. Em outras palavras: para que se tenha uma edição crítica, é
fundamental observar-se que um texto, em sua transmissão, seja qual for o
processo, está sempre sujeito a lacunas, saltos, lapsos de revisão ou de cópia,
omissões, transposições, trocas de letras ou mesmo de palavras, inovações,
interpolações, ultracorreções, em suma, erros de toda espécie, cabendo à
Crítica Textual a análise de todas estas questões, sempre com o objetivo de
restituir o texto à sua possível forma originária.
Note-se ainda, esclarecendo-se aqui as
nomenclaturas utilizadas, que, por autógrafo (documento escrito pelo autor), se
entende um texto que exprime a vontade de quem o escreveu. Mas esse texto pode
ser copiado, chamando-se então apógrafo, em duas situações:
sem a revisão do autor, ficando assim sujeito a erros de cópia, ou sob o
controle direto do autor, à mão ou à máquina, chamando-se então idiógrafo. Portanto, original e autógrafo não
são palavras necessariamente sinônimas, já que um texto pode ser original, mas
não autógrafo, no caso de ter sido ditado pelo autor ou resultar de
uma gravação. Além disso, quando um autor resume um texto por ele já escrito,
tem-se o caso de um autógrafo, não há dúvida, mas de um autógrafo que não se
confunde com o original. Em síntese, edição original é aquela que foi preparada
rigorosamente de acordo com a vontade consciente do seu autor.
Entretanto, nem mesmo um original autógrafo exclui
a possibilidade de erros, pois nele podem ocorrer falhas motivadas por descuido
ou qualquer distração involuntária. Em tais casos, qualquer correção deve ser
devidamente justificada pelo editor, sempre à luz da coerência e do sentido do
texto, mas sem querer substituir a cultura do autor pela sua própria cultura.
Por exemplo, mesmo num original autógrafo, será sempre legítima a retificação
de datas históricas equivocadas ou de cálculos matemáticos mal feitos, como
será legítima a correção de citações erradas, feitas de memória, mas tudo isso
em forma de advertência ao leitor, pois o respeito ao texto alheio é, antes de
tudo, uma questão ética.
Além dos possíveis erros do próprio autor, há as
variantes por ele mesmo introduzidas no texto durante a sua revisão manuscrita ou
à máquina. Com efeito, é sabido que aquele que escreve corrige e emenda o
próprio texto, em geral várias vezes, com o propósito de aperfeiçoá-lo. E tal
fato é de extrema importância não apenas para a crítica de base estilística,
mas também para a crítica genética, já que esta última permite surpreender o
autor no ato mesmo de compor. Como exemplo, citemos o confronto crítico de
originais do livro Cobra Norato com as várias edições dessa
obra feita por Raul Bopp, trabalho que ainda não se fez. No caso, vai saltar
aos olhos a extensa constelação de variantes do próprio autor, todas revestidas
de grande interesse ecdótico e estilístico, pois vêem datadas. E de grande
interesse, também para a crítica genética.
Na hipótese de ter o mesmo texto passado por várias
redações, a partir de um rascunho inicial não inutilizado pelo autor, tem-se a
chamada redação múltipla. No caso, quando há indicação de datas, a tarefa é
mais simples, pois a última cópia datada naturalmente vai prevalecer sobre as
anteriores. Difícil é quando não se pode determinar uma seqüência cronológica
precisa, ou mesmo relativa. Nesse sentido, pode até ocorrer o caso de que a
verdadeira e última vontade do autor tenha sido a de não publicar o texto,
razão porque a edição póstuma de um manuscrito é sempre um delicado problema.
Com efeito, quem pode assegurar que esteja, num determinado manuscrito
autógrafo, a última vontade consciente do autor? Algumas vezes, a versão
encontrada é ainda a primitiva – ou um simples rascunho – tendo sido interrompido
o processo de elaboração do texto com a morte do autor. Por isso mesmo, a
publicação póstuma de qualquer manuscrito autógrafo deve ser feita com muita
cautela, para que não se comprometa o próprio nome do escritor. Muitas vezes, o
melhor é não publicar o texto, sobretudo quando se trata evidente rascunho
inicial, ou então publicá-lo com muitas ressalvas. Seja como for, o trabalho de
crítica genética, que se volta para as variantes do autor, ou para o processo
de elaboração de um texto, não se confunde com as atividades específicas da
crítica reconstitutiva, sempre voltada para o estudo das variantes textuais
colhidas em manuscritos apógrafos ou em várias edições sucessivas da mesma
obra. Por exemplo, no caso específico da lírica de Camões, que não dispõe de um
autógrafo sequer, a crítica textual só pode basear-se nos manuscritos apógrafos
que foram conservados em "livros de mão" da época, pois tais
cancioneiros, em geral miscelânicos, é que deram origem – sabe deus como! – às
duas edições póstumas, impressas no século XVI: Rhythmas (1595)
e Rimas (1598), ambas corrompidas, a segunda mais que a
primeira. Isso nos mostra que, em nossos dias, se torna inteiramente
indispensável retornar à tradição manuscrita dos cancioneiros da época, onde a
lírica camoniana ficou dispersa e fragmentada, como base de qualquer edição
interpretativa ou crítica, segundo pensamos.
E assim chegamos ao conceito de edição crítica. Em
geral, tal tipo de edição se volta para obras com tradição textual divergente
ou múltipla, como é o caso da lírica de Camões. Se as edições mecânicas e as
edições diplomáticas se destinam mais a especialistas que ao grande público, as
edições diplomático-interpretativas e críticas têm um público mais amplo,
embora nem sempre especializado. Nos manuscritos da época camoniana, além das
dificuldades paleográficas e codicológicas sempre neles existentes, as
freqüente falta de pontuação, os erros de cópia, as lacunas, as inovações e
interpolações, as corruptelas, as abreviaturas e a própria grafia, com
separação de partes de um só vocábulo ou junção de vocábulos diferentes num só
conglomerado verbal, entre vários outros elementos, como as relações entre
grafemas e fonemas, dificultam enormemente a leitura do texto, gerando
confusões até em pessoas especializadas. De tudo isso e de muito mais trata uma
edição crítica, a partir de normas de transcrição textual previamente
estabelecidas.
Em conclusão, a despeito de todo o cuidado e de
todo o rigor filológico empregados na elaboração de uma edição crítica, não há
edições críticas perfeitas. Mas é a perfeição o seu objetivo maior,
incansavelmente procurado pelo editor, sem atingi-lo nunca. E vem daí o
fascínio dessa atividade humanística, pois a busca da perfeição, ainda que
inatingível, ou atingível apenas em termos relativos, em tal atividade
humanística, é que nos pode verdadeiramente enriquecer.
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