Livro: Fundamentos inabaláveis
Capítulo 8: Projeto inteligente
No capítulo 8 (Projeto
Inteligente) do livro Fundamentos
inabaláveis, os autores Norman Geisler e Peter Bocchino trazem a questão
bastante polêmica da origem do universo e da vida. Durante este capítulo, os
autores procuram apresentar, de maneira honesta e didática, as principais
teorias científicas que tratam da origem do cosmos, entre as quais aquelas que
intentam atrelar a Ciência à religião. Todavia, ao longo do texto, os autores
deixam clara a sua posição criacionista, bem como a sua predileção pelo modelo
progressivo de projeto inteligente das origens.
Com
base na tese defendida pelos autores, uma das possibilidades de abordagem do
capítulo é aquela que estabelece que o mesmo está apoiado em dois elementos de
sustentação: a ordem criada e o Criador.
De
posse destas informações, após a leitura do capítulo oito do livro e com a
ajuda dos conhecimentos teológicos e filosóficos adquiridos ao longo do curso
de Teologia, responda: é possível provar
a existência de Deus? Se sim, justifique sua resposta procurando fundamentar
seus argumentos na relação criatura x
Criador.
RESPOSTA
Sim, é possível provar a existência de Deus! Mas permita,
primeiro, que eu estabeleça minhas premissas e mostre as bases de minha
argumentação.
Logo no introito do oitavo capítulo de Fundamentos inabaláveis, chamou-me a
atenção a epígrafe de Gênesis 1:1:
“No Princípio criou Deus os céus e a terra”. Temos, aqui, logo no primeiro
verso da Bíblia, a afirmação do Criador (Deus) e da criação (tempo = “Princípio”, “céus” e
“terra”). É daqui que partimos para postular a defesa da existência de Deus
através da observação da ordem criada.
Os autores não se preocupam muito em provar a existência
de Deus, pois este não é o objetivo dos mesmos, mas, mesmo assim, creio que
isto seja uma demanda premente e inevitável, que surge com a leitura do livro.
Na p. 177, vemos os autores afirmarem que é irrefragável a existência de uma
“causa inteligente” (l. 3). Esta afirmação faz rolar a pedra-de-avalanche capaz
de orientar toda a nossa resposta. Ainda no primeiro parágrafo, o autor fixa as
bases comprobatórias iniciais que sustentam sua tese ao longo do texto:
“Os princípios da causalidade e da uniformidade,
a lei da complexidade especificada e
a teoria da ciência da informação nos
mostram que a primeira forma de vida deve ter tido uma causa inteligente.
Ademais, a ciência operacional
demonstrou que as mutações não podem produzir nenhuma nova informação
necessária para produzir inovação biológica. Além disso, as evidências observáveis confirmam que há
limitações naturais à mudança genética que dá suporte à microevolução, mas não há nenhuma evidência (científica,
paleontológica nem nenhuma outra) que dê suporte à declaração de que a
microevolução possa ser extrapolada para o nível da macroevolução. A paleontologia
confirma que o aparecimento abrupto das primeiras formas de vida (...) se deveu
a uma curta e rápida explosão global de vida. Desse ponto em diante, a
paleontologia também confirma que todas as outras novas formas de vida aparecem
muito abruptamente como mostra o registro fóssil.” [p. 177 – grifo nosso]
Evidências, teorias e hipóteses...
Isto pode ser questionado, mas princípios e leis são imutáveis. E os autores
falam de uma lei que nos chama a atenção, a lei da complexidade especificada. De modo geral, a complexidade
irredutível afirma que há estruturas biológicas que não poderiam ter evoluído
de um estado mais simples – mais a frente, veremos como a filosofia tomista
pode ajudar a provar isto. Uma célula, por exemplo, é composta de centenas de
máquinas moleculares complexas. Sem elas, a célula não funcionaria. Por isso, a
célula é irredutivelmente complexa: ela não pode ter evoluído de um estado mais
simples, porque não funcionaria em um estado mais simples, e a seleção natural
só pode optar por características que já estejam funcionando. Behe dá o exemplo
de uma ratoeira, que costuma ter cinco partes: uma base de madeira para
sustentar o dispositivo, um martelo metálico para atingir o camundongo, uma
mola para acionar o martelo, uma lingueta para soltar a mola e uma barra
metálica que prende o martelo. Sem uma dessas partes, o dispositivo é inútil.
Portanto, uma ratoeira é irredutivelmente complexa.
Em biologia, Behe considera o flagelo bacteriano um
sistema irredutivelmente complexo. A comunidade científica responde à
complexidade irredutível dizendo que, embora seja verdade que a seleção natural
só pode optar por características que já estejam em funcionamento, essas não
têm que estar em sua forma atual. É possível que elas estivessem desempenhando
outras funções quando foram escolhidas como vantajosas para sua função atual.
No exemplo da ratoeira, os cientistas ressaltam que, se
removermos a lingueta e a barra metálica, teremos um prendedor de gravata. Se
removermos a mola, teremos uma argola de chaveiro. Eles também alegam que a
ciência já descobriu que um grupo de proteínas que compõe os flagelos
bacterianos é usado por determinadas bactérias para uma função completamente
diferente. Ele age como um tipo de "bomba molecular" na membrana
bacteriana.
O biólogo Kenneth Miller afirma: "A questão que a
ciência há muito compreendeu é que as peças de máquinas ditas irredutivelmente
complexas podem ter funções distintas, mas ainda assim úteis. A evolução gera
máquinas bioquímicas complexas ao copiar, modificar e combinar proteínas
previamente usadas para outras funções" (BENTO XVI, 1927).
Deste modo, ao longo de todo o capítulo, os autores
procuram assentar sua exposição em cima destas bases comprobatórias científicas. Acho que devemos enaltecer o
esforço destes autores em defender o criacionismo de modo inovador, incomum e,
não obstante, perfeitamente coerente com as Escrituras. É uma verdadeira
teodiceia positivista! Mas, ainda assim, parece-nos que a exposição dos
autores, no capítulo oito, apesar de atender ao objetivo proposto, solicita uma
complementação, uma explicação suplementar que elucide melhor e assente
definitivamente as bases probatórias da existência de Deus. Não há como ler
este capítulo e não ser instigado a inquirir se há Deus, se é preciso que Deus
exista, se é possível provar tal existência, se as coisas que vemos são
realmente obra de uma Inteligência Superior e se é possível conhecer as
características desse Ser superior. Acredito que, aqui, podemos fazer uso dos
conhecimentos filosóficos e teológicos que adquirimos ao longo do curso de
Teologia para, terminantemente, provar a existência de Deus! E julgo poder
fazer isto, partindo da observação da ordem criada, de suas leis biológicas, da
filosofia peripatética, tomista, socrática e platônica.
Malgrado, durante a leitura,
possamos ver expressões como “Todas as evidências mostram” (p.178, l. 5),
“Pretendemos mostrar que do ponto de vista comprobatório” (p. 178, l.12),
“queremos apenas mostrar que o modelo de projeto é cientificamente sólido”
etc., sabemos que, de modo algum, os autores menosprezam os argumentos
filosóficos, ou as vias probatórias da existência de Deus, como se depreende do
fragmento abaixo, extraído da p. 180:
“Somos obrigados a
concluir que a vida humana, como a vemos, só pode ser explicada como resultado
direto de um ato especial de criação tal como registrado nos primeiros
capítulos do livro de Gênesis (sic)”
Neste textículo, vê-se, implicitamente, que é mister uma explicação
científica das origens que abra espaço, também, para a análise metafísica dos
fatos, e é aqui que entram a Filosofia e a Teologia.
Passemos, então, às provas
metafísicas da existência de Deus, a fim de fornecer um material suplementar à
leitura do capítulo oito e estabelecer uma relação de causa x efeito entre Deus
e a criação.
Segundo o professor Orlando Fedeli, há duas coisas que não
podem ser provadas: o que é evidente
(pois é “vidente”, óbvio,
truisticamente notável e, portanto, dispensa o esforço racional) e o mistério (pois é insondável e, assim,
não pode ser analisado racionalmente); seja como for, em ambos os casos,
qualquer esforço racional é impotente ou impossível. Assim, por exemplo, quando
viajamos de avião, comemos uma fruta ou lemos este capítulo, lidamos com entes
concretos e evidentes, pois podem ser
vistos ou tangídos. Ora, Deus não pode ser visto nem tangido, portanto Deus
não é evidente. Outrossim, se conseguirmos provar racionalmente a existência de
Deus, ele também não será um mistério e, portanto, estaríamos provando deveras
a sua existência.
Foram os filósofos gregos que deram
as primeiras provas. Parmênides
provou a unicidade ou univocidade do Ser (Deus), isto é, não
podem haver dois ou mais deuses. Não pretendemos, agora, dar maiores detalhes
sobre isto.
A primeira prova da existência de Deus vem de Aristóteles e é a prova do movimento, mas não o movimento físico apenas, senão também
toda e qualquer mudança. Há coisas que mudam! Muitas e muitas! Muitos são os
tipos de mudança: mudança de cor, de conhecimento, de textura, de tempo, de
espaço, de tamanho, de clima etc. Tudo isto leva-nos a crer que tudo muda. Ledo
engano! Aristóteles diz que há três coisas que NÃO mudam. A verdade
não muda: 1 + 1 =2, sempre! A Lei da Gravidade não muda! Ácido sulfúrico foi, é
e sempre será corrosivo para nós! Uma vacina ou remédio que cura uma doença
cura e sempre curará aquela doença! O quadrado da hipotenusa sempre será igual
à soma dos quadrados dos catetos (a²=b²+c²). A soma dos ângulos internos de um
triângulo sempre será igual a 180°! Ou seja, a verdade não muda! O que foi verdade ontem, é verdade hoje e será
amanhã, e isto depõe contra o tolo relativismo pós-moderno que assola a
humanidade hoje com a chamada ditadura do relativismo! Se se admite que tudo
muda ou pode mudar, então a afirmação de que tudo muda ou pode mudar pode
também mudar e, portanto, também é relativa. Disparate lógico! O bem também não muda! O que era crime,
no tempo de Moisés, também é crime hoje, mesmo que as leis mudem, a moralidade
dos atos possui característica perene. O assassinato, o aborto, enfim, sempre
serão crimes, mesmo que toda a humanidade diga que não! Por fim, a terceira e última coisa que não muda é a
beleza. Um quadro magistralmente pintado sempre será belo. Uma mulher bela
sempre será bela; ela pode morrer, mas aquela beleza que possuía jamais deixará
de ser bela. Uma obra de arquitetura bela sempre será bela, ainda que um
terremoto a destrua. O Templo de Herodes sempre será belo, mesmo não existindo
há quase 2.000 anos! Deus é a Verdade, o Bem e a Beleza por antonomásia, ainda
que para um ateu, pois o conceito de Deus, sua definição semântica, precisa
afirmar tais características, isto é, faz parte da essência de Deus ser a Verdade,
o Bem e a Beleza absolutos!
Se, por um lado, Deus possui estas três qualidades e, por
definição, não pode deixar de possuí-las, pois, se assim ocorresse, Ele
deixaria de ser Deus, por outro, na ordem criada, podemos facilmente perceber
que as características sim mudam! Por exemplo, se estou com uma camisa preta,
posso mudar para uma amarela; posso pintá-la de azul etc.; se estou, agora,
indo, posso, daqui a pouco, voltar etc. Portanto, as qualidades que existem de
fato são, por Aristóteles, chamadas de qualidades
em ato. Se uma lâmpada está acesa, está acesa em ato; se uma porta está
fechada, está fechada em ato, e assim por diante. Mas, da mesma forma, as
qualidades que não existem de fato, mas podem passar a existir, são chamadas de
qualidades em potência. Então,
aquela lâmpada que está acesa em ato, está apagada em potência; aquela porta
que está fechada em ato, está aberta em potência etc. Deste modo, prova-se que
os entes mudam, e que, nestes seres, pode haver qualidades em ato e qualidades
em potência. Mas nada muda sozinho! Para que a camisa amarela passasse a ser
azul, foi preciso que a tinta azul em ato passasse esta qualidade em ato para a
camisa amarela azul em potência; para que a lâmpada acesa em ato e apagada em
potência passasse a ficar apagada em ato e acesa em potência, foi preciso que
alguém apertasse o interruptor; para que a porta fechada em ato e aberta em
potência abrisse, foi preciso uma força externa, um agente externo (talvez uma
pessoa querendo entrar...). Destarte, conclui-se que, no ser que muda, a potência precede o ato, mas, na mudança, o ato tem
que existir antes da potência! Vemos, na natureza, uma série enorme de
mudanças. Vemos os entes mudarem. Mas, antes de um ente mudar, isto é adquirir
uma nova qualidade, ele já tinha a potência para aquela qualidade, pois só pode
haver uma qualidade em ato, se existiu, antes, uma potência referente naquele
ser. Por exemplo, a água pode ser evaporada, congelada, comprimida, aquecida,
resfriada etc., mas não pode ser queimada. Por quê? Porque ela não tem potência
para ser queimada.
Pois bem, todavia, fica a pergunta: se existe uma cadeia enorme de mudanças no cosmo, esta cadeia é finita
ou infinita? Analisemos. A) Se esta
série de movimentos fosse infinita, ela não teria princípio. Não haveria
primeira mudança, nem segunda, nem terceira, já que o infinito não tem começo
nem fim. Não haveria mudança nenhuma! Ora, como já vimos, há coisas que
mudam, portanto a série de movimentos
tem que ser finita! B) Se esta série
de movimentos fosse infinita, ela não seria divisível em partes, fases ou
momentos, pois o infinito não é divisível (∞/0 = ∞, ∞/2 = ∞, ∞/ 1000 = ∞,
∞/1.452.123 = ∞ ...); mas a sequencia de
movimentos está dividida, pois é composta de momentos, logo ela tem que ser
finita! C) Se esta série de
movimentos fosse infinita, cada movimento começaria por potência que passa para
ato, mas o mudar exige, como vimos, primeiramente, o ato; assim, é preciso que
haja um ser que possua tal ou qual qualidade em ato para passar esta qualidade
para um outro ser que a possua em potência; portanto, a série de movimentos tem que ser finita! É preciso que haja um ser
imóvel e incausado e que seja ato absoluto.
À p. 181, os autores apresentam o que eles chamam de Big-bang da cosmologia e Big-bang da biologia molecular. Quanto
ao primeiro, concerne à origem do universo, quanto ao segundo, à origem da
vida.
“Com base na segunda
lei da termodinâmica e nos princípios da causalidade e da uniformidade
(analogia), considera-se o universo espaço-tempo finito e consequentemente
causado por uma entidade não-causada e poderosamente infinita e eterna.
(...)
Com base nos
princípios da causalidade e da uniformidade, na lei da complexidade
especificada e na ciência da teoria da informação, descobrimos que a primeira
forma de vida precisou de uma Causa inteligente. Esta Causa projetou todas as
coisa vivas para serem capazes de mudança microevolutivas limitadas que lhes
permitem adaptar-se a amboentes variados. Portanto, podemos acrescentar o
atributo da inteligência a esse Ser não-causado e infinitamente poderoso.
Se a série de movimentos é finita, existe um primeiro
ser. Mas como ele é? Ele precisa ter todas as qualidades em ato, porque, se ele
tivesse alguma qualidade em potência, ele mudaria. E teria que mudar com a
força de outro ser anterior. Mas o primeiro não tem anterior (pois, assim, não
seria mais o primeiro), logo, o primeiro ser tem que ter todas as qualidades em
grau absoluto. Ele não pode mudar. Por isto, Deus disse a Moisés: “Eu sou
aquele que é (sou)” (Êxodo 3:14). Não
disse “aquele que foi” ou “será”. Os seres humanos, podem ser e deixar de ser:
podem ser e deixarem de ser bons; ter ou deixarem de ter a beleza; estar ou
deixarem de estar na verdade. Mas Deus não! Para Deus não existe mudança, pois
ele não muda. Assim, Ele não está
sujeito ao tempo, já que o tempo é um movimento constante, é a duração da
mudança. Por isto, Jesus disse que, antes de Abraão ser ele é (João 8:58); isto porque Ele é eterno, já
que não possui potência. O eterno é um agora fixado, enquanto o tempo (a vida) é
um agora que se desloca; se se desloca, move-se, se se move, não é imutável,
portanto é necessário que Deus, que é imutável, não esteja no tempo. Por isso,
Jesus disse ao ladrão: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23:43), pois, para Deus, não há
passado nem futuro. Deus é o Ser
Absoluto, Perfeito, Imutável (Oséias 11:9) e que possui todas as qualidades em
ato. Não possui matéria, pois toda matéria tem potência, logo é espírito.
Deus é simples, pois todo ser composto é decomponível e, portanto, possui
potência; ora, vimos que Deus não tem potência, logo Deus tem que ser simples. Além
disto, todo ser composto é composto por seres anteriores (assim como, num bolo
de chocolate, existem outros elementos anteriores, como o ovo e a farinha);
ora, vimos que Deus é o primeiro e necessário Ser, logo Deus é simples. Deus é
infinito, pois todo ser finito é aquele que pode aumentar e diminuir. Por
exemplo, uma cadeira pode ser mais larga ou mais estreita; uma sala pode
aumentar ou diminuir de tamanho etc. Todas as coisas que têm limite têm
potência de aumentar ou diminuir. Portanto, o finito é aquilo que tem potência
de aumentar e/ou diminuir. Vimos que Deus não tem potência, logo Deus tem que
ser infinito, pois não pode ter suas qualidades aumentadas ou diminuídas.
Apesar disto, os alunos são levados ao equívoco pelos professores que afirmam
que a numeração também é infinita. Mais uma burrice! A numeração não é
infinita, é indefinida! Números são a quantidade de elementos de um conjunto,
então, todo número, por maior que seja, pode aumentar ou diminuir uma unidade
ou ter seu valor modular alterado, logo, é finito, mesmo que também seja
indefinido! A numeração tem potência para o infinito, mas nunca chega a ser
infinito em ato. Por quê? Porque, naquilo que há potência para o absoluto e
para a perfeição, não pode haver mudança. Só há mudança nas coisas que tem
potência para o relativo e para a imperfeição. Assim, o espaço tem potência
para o infinito, mas é preciso que esta potência permaneça sempre apenas
potência, pois, no dia em que o espaço se tornasse infinito em ato, ele se
tronaria igual ou maior Àquilo que o moveu no início, Àquilo que o causou no
início; e isto feriria o princípio lógico da causalidade lembrado pelos
autores. Assim, até aqui, provamos que
Deus é Espírito, Imutável, Simples, Eterno e Infinito. Provamos, também, que
Ele é o Ser necessário.
A segunda prova da existência de Deus deriva de Sócrates e de Santo Tomás de Aquino: chama-se prova
da causalidade eficiente. É parecida com a primeira e já a expusemos de
certa forma. Vemos, na natureza, uma série de movimentos que indicam uma série
de causas e efeitos. Por exemplo, os filhos são o efeito dos pais, que são o
efeito de seus pais e assim por diante. Pergunta-se, como no raciocínio
anterior, se esta série de causas e efeitos é finita ou infinita. Se esta série
de causas e efeitos fosse infinita, não haveria primeira causa e nem primeiro
efeito, muito menos segunda causa e segundo efeito e assim por diante. Ou seja,
nada existiria. Ora, as coisas existem, logo a série de causas e efeitos
precisa ser finita. Assim, tem que haver uma causa incausada que principiou
todo o movimento. Esta causa inicial não causada chama-se Deus! Este raciocínio
simples, porém brilhante, é de Sócrates,
que disse, certa vez: “Causa das causas tem pena de mim!”
Aqui, mais uma vez, as pessoas são induzidas ao erro
quando são ensinadas que o ovo veio antes da galinha. Apesar de o senso comum
dizer que o ovo veio antes da galinha, há cientistas que afirmam que foi a
galinha que surgiu antes de botar o ovo. Pelo teoria da evolução, era
necessário um ovo com um zigoto de galinha dentro, para a galinha nascer.
Assim, o ovo com o pintinho dentro teria surgido primeiro. Já outra linha de
pesquisa acredita que o ovo da galinha é diferente dos outros ovos e só seria
feito a partir de substâncias presentes na galinha adulta, portanto, a galinha
teria aparecido antes. Se há pesquisas que dizem provar que a galinha veio
primeiro e outras que dizem que foi o ovo, como solucionar esta querela? Pela
inteligência, obviamente. O ovo é efeito da galinha, é menor que ela, em termos
qualitativos, isto é, menos evoluído. O ovo tem potência de galinha. No Gênesis, no capítulo primeiro, versículo
24, Deus cria os animais. Isto é perfeitamente coerente com a teoria do ato e
da potência de Aristóteles, pois a
galinha não tem potência pra ovo, logo ela não pode evoluir para ovo; mas o ovo
tem potência pra galinha, logo ele pode sim evoluir pra galinha; como Deus fez
todas as coisas perfeitas, primeiro teve que vir a galinha. Isto depõe contra Darwin, que coloca sempre uma causa
menor produzindo um efeito maior. Do menos não pode vir o mais!
A terceira prova da existência de Deus é a prova da contingência. Esta prova
mostra os conceitos de ser contingente e
ser necessário. Contingente é tudo
aquilo que existe, mas pode deixar de existir. O contingente não existia, mas
passou a existir em algum momento, mas, se não existisse, não mudaria nada Uma
casa foi construída um dia, mas, antes não existia. Ou seja, ela passou a ter a
existência que não tinha. Portanto, a existência não faz parte de sua essência.
Diferentemente de Deus, cuja essência inclui a existência, isto é Ele é um ser
necessário. Quando uma ideia (essência) de casa ganha forma (existência) pelas
mãos de um construtor, ela passa a ter existência, mas a casa em si, enquanto
ideia, já “existia” na imaginação do construtor. Assim, a casa ideada tinha
potência para existir enquanto forma, e foi preciso que o construtor – com seu
intelecto – impingisse sua qualidade de existência em ato para a casa que a
possuía apenas em potência para que a casa passasse a existir de factu, e não apenas de fictu. Então, a essência de casa foi
atualizada.
Portanto, todos os seres são contingentes, pois, um dia
passaram a existir. Isto implica que, portanto, antes de existirem em factum, existiram em fictum, ou seja, antes de terem a
existência formal, já “existiam” nalgum intelecto (já eram ideados). Logo, é
preciso que haja um Ser que tenha a existência como nota essencial e, assim,
possa idear as demais coisas por ele posteriormente criadas. Esse Ser é Deus! O
Ser Necessário cuja essência inclui a existência! Toda a ordem criada é
contingente, pois, para passarem a existir, precisaram receber a existência de
um Ser que é a existência. Nada existiria, se não houvesse o Ser necessário
sustentando todos os seres contingentes. Isto ajuda a entender o que os autores
mostram através de argumentos científicos e chamam de PROJETO INTELIGENTE. Por
isso, na página 197, eles citam Gerald Schroeder que afirma que é a ciência
moderna que tem que se acomodar à Bíblia e não o contrário.
A quarta prova da existência de Deus é de tipo
platônico: chama-se prova dos graus de
perfeição dos entes. É mais uma prova poética do que metafísica. Por
exemplo, se alguém está mais próximo de uma porta do que outra pessoa, é
preciso que existam estes três elementos: a primeira pessoa, a segunda pessoa e
a porta. Da mesma maneira, se o Rio de Janeiro é mais bonito do que Guaianases,
é preciso haver o Rio de Janeiro, Guaianases e a beleza. Assim, a primeira
pessoa está mais próxima da porta do que a outra e o Rio de Janeiro é mais belo
do que Guaianases, isto é, tem maior participação na beleza. Portanto há seres
melhores qualitativamente que outros, ou mais “perfeitos” que outros, ou
melhor, menos imperfeitos que outros. Concluindo, toda comparação de qualidades
supõe a existência da qualidade em si mesma. E, o que é muito importante aqui,
o grau de qualidade de um ser varia conforme a sua potência para receber o ato.
Deus, que é ato puro, deu suas qualidades aos seres conforme a capacidade
potencial que cada um tinha, e isto fez com que houvesse tanta diversidade
animal, vegetal etc. É fundamental ter isto em mente ao ler o capítulo oito,
pois esta conclusão apoia e embasa a explanação feita pelos autores, e prova a
existência de Deus através da observação do comportamento e das características
objetivas, concretas e visíveis das coisas criadas. Destarte, Deus fez as
coisas em com graus de qualidade variados para que nós compreendêssemos as
qualidades em si mesma! Depois da criação, as qualidades invisíveis de Deus
tornaram-se visíveis através das coisas criadas (Cf. Rm 1:20).
A quinta prova da existência de Deus vem de
Aristóteles e do aquinate mais famoso do mundo. Chama-se prova da existência de Deus pela finalidade dos entes. Ela diz que
não pode haver ordem sem ordenador. Para ilustrar esta prova, tomemos o exemplo
dado no livro A gnose de Princeton
(editora Cultrix). Imagine um jogador de billar
que precisa encaçapar a bola C batendo na bola A e tendo a bola B na frente.
Este jogador, então, pensa e calcula. Depois, bate com o taco na bola A, se
move em direção a uma parede lateral da mesa, bate em outra lateral, empurra a
bola D, que toca na bola C, que dirige-se para o interior da caçapa. Magnífica
jogada! Os autores do supracitado livro então propõem filmar esta jogada e,
posteriormente, passa-la de trás para frente. Neste segundo vídeo, o que ocorre
é a bola C saindo da caçapa, atingindo a bola D, que empurra a bola A, que bate
em duas laterais da mesa e empurra o taco, que, por fim, movimenta o braço do
jogador. Os autores, então, dizem: “Isto é impossível!”. Mas por que é
impossível? Porque todo movimento, toda mudança pressupõe um ser com intenção e
inteligência para efetuá-lo. O segundo vídeo, de trás para frente, mostra uma
bola pulando da caçapa sem que haja uma lei biológica ou um intelecto capaz de
motivar tamanha mudança. Assim, concluem os autores do livro, é claro que
existe Deus. E, deste modo, fechamos nossa exposição provando, com base na
natureza, na ordem criada, na observação do comportamento das coisas, que Deus
existe!
Ninguém inventou o meu Deus. Foi Deus quem criou tudo: o
sol, as estrelas, o mundo, os animais, as plantas, eu, você, tudo o que existe,
enfim. Ele não é apenas o meu Deus, mas também é o seu Deus, quer você o aceite
ou não. Ele é o Deus de todos, porque ele é o Único Deus. Sabe-se que toda
causa é anterior ao seu efeito. Assim sendo, por exemplo, uma planta nasce
(efeito) porque uma semente foi plantada (causa). Para uma coisa ser causa de
si mesma teria de ser anterior a si mesma. Por isso neste mundo sensível, não
há coisa alguma que seja causa de si mesma. No artigo EXISTÊNCIA DE DEUS
(http://www.montfort.org.br/cadernos/existencia.html#1) do professor Orlando
Fedeli, lemos:
"Assim, numa série
definida de causas e efeitos, o resfriado é causado pela chuva, que é causada
pela evaporação, que é causada pelo calor, que é causado pelo Sol. No mundo
sensível, as causas eficientes se concatenam às outras, formando uma série em
que umas se subordinam às outras: a primeira, causa às intermediárias e estas
causam à última. Desse modo, se for supressa uma causa, fica supresso o seu
efeito. Supressa a primeira, não haverá as intermediárias e tampouco haverá
então a última.".
"Se a série de
causas concatenadas fosse indefinida, não existiria causa eficiente primeira,
nem causas intermediárias, efeitos dela, e nada existiria. Ora, isto é
evidentemente falso, pois as coisas existem. Por conseguinte, a série de causas
eficientes tem que ser definida. Existe então uma causa primeira que tudo
causou e que não foi causada.".
"Deus é a causa
das causas não causada. Esta prova foi descoberta por Sócrates que morreu
dizendo: "Causa das causas, tem pena de mim". A negação da Causa
primeira leva à ciência materialista a contradizer a si mesma, pois ela concede
que tudo tem causa, mas nega que haja uma causa do universo.".
"O famoso físico
inglês Stephen Hawkins em sua obra "Breve História do Tempo"
reconheceu que a teoria do Big-Bang
(grande explosão que deu origem ao universo, ordenando-o e não causando
desordem, como toda explosão faz devido a Lei
da Entropia) exige um ser criador. Hawkins admitiu ainda que o universo é
feito como uma mensagem enviada para o homem. Ora, isto supõe um remetente da
mensagem...".
Geisler
e Bocchino, na p. 198, mostram a
opinião de Robert Jastrow que diz
admitir a necessidade de se crer na Bíblia,
já que as evidências astronômicas
conduzem a uma visão bíblica da origem do mundo. Diz ele: “Todos os detalhes
diferem, mas o elemento essencial dos relatos astronômico e bíblico do Gênesis
é o mesmo”.
E continua, na linha 8:
“(...) A busca dos
cientistas aos eventos passados termina no momento da criação. É um
desenvolvimento extraordinariamente estranho, inesperado por todos menos os
teólogos. Eles sempre aceitaram a palavra da Bíblia: No princípio criou Deus os céus e a terra [...] Para o cientista
que viveu pela fé no poder da razão, a história termina como um sonho ruim. Ele
escalou as montanhas da ignorância, está a ponto de conquistar o pico mais
alto. Quando chega à rocha final, é saudado por um grupo de teólogos que já
está sentado ali há séculos”.
Mas veja o que os autores da obra em
apreço vão dizer ainda na p. 198 e analise se não confere com a minha exposição
filosófica:
“Chegamos à conclusão
geral de que um Ser (Deus) não-causado, infinitamente poderoso, eterno e
inteligente existe” [l.18]
Porém, na sequência, os mesmos
autores vão dizer algo que parece repudiar o esforço filosófico como ferramenta
epistemológica:
“Isso se deu sem que
fôssemos influenciados por suposições filosóficas injustificáveis” [l. 19]
Minha intenção foi justamente
mostrar que uma boa teodiceia não só pode endossar o criacionismo (o Criador e
a criatura) como deve sempre estar presente em toda e qualquer iniciativa
científica que tenha por objetivo explicar as origens do ser humano e do cosmo.
Capítulo 11: Deus e o mal
Provamos que Deus existe, é simples, infinito, absoluto, imutável,
extemporâneo, indivisível, a Verdade, o Sumo-Bem, a Beleza, a Existência etc.
Se Deus, por definição, é o PANTOKRATOR, isto
é o TODO-PODEROSO e, como provamos, o BEM absoluto e perfeito, como explicar a
existência do mal?
RESPOSTA
Ora, se Deus é o Bem e o
Todo-poderoso, ele jamais poderia ter criado o mal. O problema é que,
geralmente, tratam o mal como se fosse um ser. Porém o mal não existe, pois na
verdade, o mal é a ausência total do bem. A primeira via de Tomás de Aquino
pode ser usada para provara isto.
Se, como vimos, há um Ser
necessário, é porque, então, há, aprioristicamente,
ao menos, um Ser. Porém, aposterioristicamente,
é truísmo que existem outros seres (ou entes, aqueles que têm o ser), como pode
ser evidenciado neste próprio ato onde eu escrevi e você está lendo; deste
modo, é evidente e, portanto, sem necessidade de prova, que eu existo e você
também, assim como muitas outras pessoas e coisas. Pois bem! Pergunta-se: nos
seres que existem, nota-se a presença do bem? Sim, é claro, pois nós mesmos
somos emissores e receptores de muitos atos de bondade, disto ninguém duvida! E
o mal, nota-se sua presença nos seres que existem? Também, pois, da mesma
forma, percebemos sua presença, por exemplo, nos atos de violência e descaso,
basta ligar a TV no noticiário do dia! Mas, se o bem e o mal existem, porque
podemos vê-los no cotidiano humano, como podemos dizer o que dissemos, no
início, que o mal não existe?!
É que o que vemos nos noticiários
policiais e tantos outros atos de violência e de maldade nada mais são do que
atos concebidos ou acalentados por mentes humanas temporária ou constantemente
esquecidas de Deus, o Sumo Bem. Pois, se, como provamos, existe Deus, e, por
definição, ele precisa ser Bom, já que, se ele não existisse e fosse sempre
bom, tudo o que vemos de bom e agradável não existiria, pois não teria sido
criado, assim também não há como Ele ter criado o mal, pois, em tese, alguma
coisa antes de ser mal em ato já era mal em potência; como Deus é o Bem em ato
e não tem potência pra mal, o mal não poderia ter vindo de Deus. Portanto o que
existem são atos de maldade e não o mal. Os atos de maldade são atos sem o bem
e não com o mal, pois os seres humanos possuem, como já vimos, o bem de modo
limitado, temporário e finito. Quando alguém comete uma maldade, é porque, naquele
momento, está sem o Bem. Por isso, devemos estar sempre meditando nas
Escrituras e aprendendo com Deus a sermos bons e termos o bem pelo maior tempo
que pudermos.
Como dizem os próprios autores no
capítulo 11, na p. 250, na l. 23, podemos considerar o mal a ausência ou a
privação daquilo que é bom...
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
BENTO XVI, Papa, 1927. Perguntas e
respostas. Tradução de Euclides Luiz Calloni, Cleusa Margot Wosgrau -
Editora Pensamento, São Paulo, 2009. ISBN 978-85-315-1583-5.
Fedeli, Orlando - "Existência de Deus" - MONTFORT
Associação Cultural http://www.montfort.org.br/index.php?secao=cadernos&subsecao=religiao&artigo=existencia&lang=bra -
Online, 04/10/2014 às 12h30min.
GEISLER, N. & BOCCHINO, P. Fundamentos inabaláveis. Vida. São Paulo, 2003.