Capítulo
Dois
A
REDENÇÃO DE CRISTO
Leitura
da Bíblia: Jo 1:14; Hb 2:14; Rm 8:3;
2 Co 5:21; Jo 3:14; 1 Pe 2:24; 1 Co 15:3; Hb 9:28; Rm 6:6; Gl 2:20; Ef
2:15; Jo 12:24, 31; 19:34; 7:39; Lc 24:26; At 13:33; Rm 8:29; Hb 2:11, 12; 1 Pe
1:3; Ef 2:6; 1 Co 15:45; 2 Co 3:17,18; Jo 20:22; Ef 1:20, 21; At 2:36; Ef 1:22,
23; At 2:33
Deus
criou o céu e a terra com o homem como o cabeça e o centro. Então o homem caiu.
Aos olhos de Deus, a queda do homem envolveu toda a criação. Para redimir essa
criação caída, Deus veio no Filho.
Redenção
não foi um pensamento posterior. Ela foi preordenada por Deus. Em 1 Pedro 1:19,
20 nos diz que o Redentor, Cristo, era preconhecido por Deus antes da fundação
do mundo. Neste versículo, "mundo" refere-se a todo o universo. Antes
da fundação do universo, Deus sabia que o homem cairia. Assim, Deus preordenou
o Filho, Cristo, para ser o Redentor. Podemos ver nisso que a redenção de Deus
não foi acidental.
Mais
adiante, Apocalipse 13:8 diz que o Cordeiro, isto é, o Redentor, Cristo, foi
imolado "desde a fundação do mundo." Desde o tempo em que a criação
veio à existência, aos olhos de Deus, Cristo, como o Cordeiro ordenado por
Deus, foi imolado. Aos nossos olhos, Cristo foi crucificado a menos de dois mil
anos atrás. Mas, à vista de Deus, Ele foi imolado desde o dia em que a criação
veio à existência, porque Deus preconhecia que Sua criação cairia.
Esses
versículos mostram que a redenção de Deus não era um pensamento posterior, mas
algo ordenado, planejado, e preparado por Deus na eternidade passada. Como
devemos valorizar este fato acerca da redenção que desfrutamos em Cristo!
DEUS
ENCARNADO
O
primeiro passo no cumprimento da redenção de Deus foi a encarnação. Foi
certamente uma coisa maravilhosa para Deus vir para dentro do homem e nascer da
humanidade por meio de uma virgem. O nosso Deus tornou-se um homem! Na criação,
Ele era o Criador. Mas embora tivesse criado todas as coisas, Ele não entrou em
nenhuma das coisas que Ele criara. Mesmo ao criar o homem, Ele somente soprou o
fôlego de vida para dentro dele (Gn 2:7). Ele ainda estava fora do homem. Seu
sopro, de acordo com Jó 33:4, deu vida ao homem; entretanto, Ele próprio não
veio para dentro do homem. Até a encarnação, Ele estava separado do homem. Mas
com a encarnação, Ele pessoalmente entrou no homem. Ele foi concebido e então
permaneceu no ventre da virgem por nove meses, após o que Ele nasceu.
A
Palavra Tornando-se Carne
De
acordo com João 1:14, Ele tornou-se não somente um homem; Ele tornou-se carne.
A carne nesse versículo refere-se ao homem depois da queda. O homem em Gênesis
1 e 2 não havia caído, mas depois, em Gênesis 3, ele caiu. A palavra carne,
referindo-se ao homem depois da queda, sempre possui uma conotação negativa.
Nenhuma carne pode ser justificada perante Deus por obras (Rm 3:20). Carne
refere-se ao homem caído, e Cristo, como o Filho de Deus, tornou-se um homem.
Ele tornou-se carne.
Na
Semelhança da Carne do Pecado
Eu
não quero dizer que Ele tornou-se um pecador. A Bíblia é muito cuidadosa sobre
esse assunto. Se a Bíblia contivesse somente João 1:14, poderíamos pensar que
Ele se tornou uma pessoa pecaminosa. Mas a Bíblia também contém Romanos 8:3,
que diz que Deus enviou Seu Filho "na semelhança da carne do pecado".
Cristo tornou-se carne, mas Ele estava somente na semelhança da carne do
pecado. Não havia pecado em Sua carne. Ele tinha somente a semelhança, não a
natureza pecaminosa, da carne. Paulo compôs esta frase com três palavras:
semelhança, carne e pecado. Dizer somente carne do pecado indicaria carne
pecaminosa. Louvado seja o Senhor que a Escritura acrescenta "em
semelhança", indicando que na natureza humana de Cristo não havia pecado,
mesmo que aquela natureza possuísse a semelhança, a aparência da carne do
pecado. Mais ainda, Paulo não diz que Deus enviou Seu Filho na semelhança da
carne e parou aí. Ele acrescenta "do pecado". Semelhança denota
fortemente que a humanidade de Cristo não tinha pecado, mas que Sua humanidade
ainda estava de alguma maneira relacionada ao pecado.
Em
outro versículo, em 2 Coríntios 5:21, Paulo diz que Cristo "não conheceu
pecado". Isso quer dizer que Ele não tinha pecado. Todavia, em 2 Coríntios
5:21 também diz que Aquele que não tinha pecado foi feito pecado por Deus. A
nossa mente não pode entender isso. Se as Escrituras não fossem escritas desta
forma, pareceria herético dizer que Cristo foi feito pecado; mas Cristo foi
feito pecado por nós como nosso substituto total. Se isso não tivesse
acontecido, não poderíamos ter sido salvos. "Aquele que não conheceu
pecado, ele o fez pecado por nós." Aquele a quem Deus fez pecado, não
conheceu pecado.
Esse
problema está retratado no Velho Testamento no tipo da serpente de bronze,
descrito em Números 21. Quando os filhos de Israel pecaram contra Deus, eles
foram picados por serpentes e morreram. Moisés buscou a Deus por eles, e Deus
disse a ele para fazer uma serpente de bronze e erguê-la numa haste. Quem quer
que olhasse para a serpente de bronze viveria, e muitos olharam (vs. 6-9).
Então
em João 3, o Senhor Jesus falou a Nicodemos acerca da regeneração. Nicodemos
era um mestre da Bíblia (v. 10) e ensinava o Velho Testamento, especialmente o
Pentateuco. "Nicodemos disse: Como pode um homem nascer, sendo velho?
Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?" (v. 4).
O Senhor quis dizer que, se ele pudesse voltar ao ventre materno e tornar a
nascer, ainda seria carne: "O que é nascido da carne, é carne" (v.
6). Nascer de novo não é nascer uma segunda vez da carne, mas nascer do
Espírito. "O que é nascido do Espírito, é espírito" (v.6).
Nicodemos
queria saber como seriam essas coisas. Então o Senhor Jesus disse a ele em um
tom de repreensão: "Tu és mestre em Israel, e não compreendes estas
coisas?" (v. 10). Ele, em seguida, citou a Nicodemos a passagem de Números
21: "E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim
importa que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha
a vida eterna" (vs. 14,15).
Esse
retrato indica claramente que a serpente de bronze possui somente a aparência,
a semelhança da serpente, mas não a sua natureza venenosa. Isso corresponde à
palavra de Paulo "na semelhança da carne do pecado".
Quando
Cristo morreu na cruz, Ele não somente era um Cordeiro aos olhos de Deus, mas
também uma serpente. Esses aspectos de Cristo estão, ambos, em João. Em João
1:29 há referência ao Cordeiro de Deus, e 3:14, ao Filho do homem, Cristo,
erguido como a serpente de bronze no deserto. Quando Cristo, nosso Redentor,
estava sobre a cruz, por um lado, Ele era o Cordeiro de Deus para levar embora
o nosso pecado; por outro lado, Ele era uma serpente. A Palavra Santa nos diz
que quando Cristo morreu na cruz, aos olhos de Deus Ele era como uma serpente
de bronze. Enfatizo isso porque precisamos conhecer que tipo de redenção o
Senhor Jesus cumpriu por nós.
A
fim de cumprir uma redenção plena, Ele como c Filho de Deus tornou-se carne. A
Palavra encarnou-se. João, porém, não disse que a Palavra tornou-se um homem;
ele disse: "A Palavra se fez carne". No tempo na encarnação,
"carne" era um termo negativo. Mas devemos ser cuidadosos ao dizer
isso. A serpente certamente é negativa, mas esta serpente é uma serpente de
bronze. Ela possui somente a aparência de uma serpente; ela não tem a sua
natureza. Você acha que, quando Cristo foi feito pecado, Ele tinha natureza
pecaminosa? Absolutamente não! É por
isso que Paulo modifica sua palavra dizendo: "aquele que não conheceu
pecado ". Mesmo que Ele tenha sido feito pecado por Deus, Ele não tinha
pecado Nele e não conheceu pecado. O nosso Senhor é um Redentor maravilhoso. A
Bíblia nos diz que Deus tornou-se um homem na semelhança da carne caída e
pecaminosa.
Participando
da Carne e Sangue do Homem
Encarnação
também tem um lado positivo. Ela trouxe Deus para dentro do homem. Ela fez Deus
e o homem um. Aproximadamente dois mil anos atrás, houve um Homem nesta terra
que era uma combinação de Deus e homem. Jesus Cristo era somente homem? Ele era
somente Deus? Ele era tanto Deus como homem. Muitos mestres da Bíblia chamam-No
o homem-Deus. Ele não era meramente um homem de Deus, mas um homem-Deus. Ele
era o Deus completo e um Homem perfeito.
De
acordo com a revelação genuína da Bíblia, em tal encarnação, nem a natureza de
Deus nem a natureza do homem foram perdidas e nem uma terceira natureza foi
produzida. Cristo é um homem-Deus tanto com a natureza divina como com a
natureza humana existindo Nele distintamente.
O
nosso Redentor é um homem-Deus. Pela Sua encarnação para o cumprimento da
redenção, Ele, como o próprio Deus, tomou a iniciativa de fazer-se um com o
homem. Ele participou da carne e sangue do homem. Hebreus 2:14 nos diz:
"Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes
também Ele, igualmente, participou." Se Ele não tivesse o sangue do homem,
como Ele poderia ter derramado Seu sangue pelos pecados do homem? Sem
derramamento de sangue não há perdão de pecados (Hb 9:22). Como seres humanos,
precisamos do sangue humano para lavar os nossos pecados. Porque nosso Redentor
participou do sangue do homem, Ele pôde derramar Seu sangue por nossos pecados.
Ainda
com o Pai
Quando
o Filho de Deus encarnou-se, Ele não deixou o Pai nos céus. Embora eu pensasse
assim há mais de cinqüenta anos, gradualmente descobri, por estudar a Palavra,
que o Filho e o Pai não podem ser separados. Eles são distintos, mas não
separados. O próprio Filho nos diz claramente que Ele veio em nome do Pai (Jo
5:43) e que o Pai estava com Ele todo o tempo (Jo 16:32). Ele e o Pai são um
(Jo 10:30; 17:22).
Como
cristãos, cremos que há somente um Deus. Crer no triteísmo, que há três Deuses,
é uma grande heresia. Temos somente um Deus, todavia nosso Deus é triúno. Ele é
três em Sua Divindade: o Pai, o Filho, e o Espírito. Todavia Ele é um Deus. Não
temos como conciliar isso. Entretanto, conhecemos o fato manifestado de que
Deus é triúno, que Ele é três-um.
O
plano de Deus é principalmente a obra do Pai, Sua redenção é principalmente a
obra do Filho e Sua aplicação é principalmente a obra do Espírito. O Pai
planejou, o Filho redimiu e o Espírito aplica.
Os
três são distintos mas não separados. Quando o Filho veio, o Pai veio com Ele.
Quando o Espírito veio, o Filho e o Pai vieram (Jo 14:17, 23). Não cremos no
modalismo, uma heresia que diz que quando o Filho veio, o Pai deixou de existir,
e então quando o Espírito veio, o Filho deixou de existir. Cremos que Deus é
três-um, o Pai, o Filho e o Espírito como um Deus coexistindo e coinerindo de
eternidade a eternidade.
CRUCIFICADO
A
encarnação foi maravilhosa e a crucificação é maravilhosa. Não temos palavras
para explicar a encarnação na totalidade, nem podemos explicar totalmente o
fato da morte de Cristo.
Carregando
os Nossos Pecados
Na
cruz, Cristo carregou os nossos pecados. Três versículos são muito claros a
este respeito: 1 Pedro 2:24, 1 Coríntios 15:3 e Hebreus 9:28. Todos estes
versículos dizem que Cristo carregou os nossos pecados. De acordo com Isaías
53:6, quando Cristo estava na cruz, Deus tomou todos os nossos pecados e os
colocou sobre este Cordeiro de Deus.
Se
ler nos quatro Evangelhos a respeito da morte de Cristo, você verá que Ele foi
crucificado das nove horas da manhã, a hora terceira (Mc 15:25), até às três
horas da tarde, a hora nona (Mc 15:33; Mt 27:46). Entre estas seis horas houve
o meio-dia, a hora sexta (Mc 15:33). O meio-dia dividiu estas seis horas em
dois períodos de três horas cada. A perseguição humana ocorreu nas três
primeiras horas. O homem pregou-O na cruz, escarneceu Dele e afligiu-O de toda
maneira possível. Então, nas últimas três horas, Deus veio para julgá-Lo (Is
53:10). Isso é demonstrado pela escuridão que veio sobre toda a terra ao
meio-dia. Deus colocou todos os pecados da humanidade sobre Ele.
Feito
Pecado por Nós
Nas
últimas três horas, aos olhos de Deus, Cristo foi feito pecado. Foi, então, na
cruz que Deus condenou o pecado na carne de Cristo. Romanos 8:3 diz que Deus,
mandando Seu próprio Filho na semelhança da carne do pecado (como a serpente
de bronze na forma de uma serpente — Jo 3:14), condenou o pecado na carne. O
pecado foi condenado. O pecado foi julgado na cruz. Cristo não somente carregou
os nossos pecados, como foi feito pecado por nós (2 Co 5:21) e foi julgado por
Deus uma vez por todas.
Com
o Nosso Velho Homem e Toda a Velha Criação
Ainda
mais, quando Cristo foi crucificado, todos Seus crentes foram crucificados com
Ele (Gl 2:20). Quando Ele se encarnou, Ele tomou-nos sobre Si. Ele vestiu
sangue e carne.
Portanto,
quando Ele foi crucificado, fomos crucificados com Ele. Do ponto de vista de
Deus, antes de nascermos, já estávamos crucificados em Cristo. Quando Cristo
foi crucificado, não somente os nossos pecados foram tratados e nem somente o
nosso pecado foi tratado; nós mesmos fomos crucificados. Assim, Romanos 6:6
diz: "Foi crucificado com Ele o nosso velho homem".
Além
disso, toda criação também foi crucificada ali. Quando Cristo morreu, o véu do
templo rasgou-se de alto a baixo (Mt 27:51). De alto a baixo indica que isso
não foi um feito do homem, mas um feito de Deus, do alto. Deus rasgou aquele
véu em duas partes. No véu havia querubins bordados (Ex 26:31). De acordo com
Ezequiel 1:5, 10 e 10:14, 15, querubins eram seres viventes. Os querubins no
véu, então, indicavam os seres viventes. Sobre a humanidade de Cristo estavam
todas as criaturas. Quando o véu foi rasgado, todas as criaturas foram
crucificadas. Por isso podemos ver que a morte de Cristo foi todo-inclusiva.
Ela tratou os nossos pecados, o nosso pecado, o nosso eu, o nosso velho homem e
toda a velha criação. Pecados, pecado, homem c toda a criação foram
tratados na cruz.
Abolindo a Lei
dos Mandamentos na Forma de Ordenanças
Em
Efésios 2:15 Paulo nos diz que por Sua morte na cruz, Cristo aboliu a lei dos
mandamentos na forma de ordenanças. No Velho Testamento havia muitas
ordenanças. A principal era a circuncisão, que dividia os judeus dos gentios.
Os judeus até usavam o termo "incircuncisão" ao referir-se aos
gentios, enquanto consideravam-se a circuncisão. Circuncisão, portanto, era uma
marca de separação. Os judeus também guardavam o sétimo dia, outra ordenança
que os fazia diferentes dos gentios. Ambas ordenanças Cristo aboliu na cruz (Cl
2:14, 16).
Outras
ordenanças dos judeus eram os regulamentos de dieta. Em Atos 10, entretanto,
enquanto Pedro estava orando no eirado, uma visão veio a ele (vs. 9-16). O
Senhor disse a
Pedro
para comer os animais que ele considerava comuns e imundos. Assim, circuncisão,
o sábado e os regulamentos de dieta foram totalmente abolidos. Essas ordenanças
tinham sido uma parede de separação forte e alta entre os judeus e os gentios,
mas agora ela foi derrubada. Não há mais nenhuma separação. Os judeus e os
gentios podem ser edifícados juntos como o Corpo de Cristo.
As
ordenanças foram abolidas, mas e quanto às diferenças entre as raças, tais como
entre negros e brancos? Na redenção completa de Cristo todas essas diferenças
também foram abolidas. Ele pôs de lado toda a inimizade. Muitos ainda não vivem
de acordo com isso. Os judeus ainda guardam a circuncisão, o sábado e os regulamentos de dieta. Até mesmo muitos cristãos ainda têm
inimizade.
Por
meio de Sua morte única, Cristo levou embora todos os nossos pecados e o
pecado; Ele crucificou o velho homem, terminou a velha criação e aboliu as
diferenças entre as raças. Agora não estamos em nós mesmos — estamos em Cristo.
Nele não há pecados. Nele não há o pecado. Nele não existe o velho homem e nem
a velha criação. A igreja é simplesmente Cristo (1 Co 12:12). O próprio
conteúdo, o constituinte da igreja é Cristo (Cl 3:10, 11). No novo homem não há
grego nem judeu, nem posição social, nem distinção de raças, nem diferenças de
nacionalidades; Cristo é tudo e em todos (Cl 3:11). Em Cristo, os pecados, o
pecado, o velho homem, a velha criação e todas as ordenanças são anulados.
Destruindo
Satanás e Julgando o Mundo
A
carne foi crucificada com Cristo. Porque a carne está relacionada a Satanás, ao
crucificar a carne Cristo destruiu Satanás. É por isso que Hebreus 2:14 diz que
pela Sua morte Ele destruiu o diabo. Por João 12:31 sabemos que quando Cristo
foi crucificado, Ele expulsou Satanás, o governador do mundo, e julgou o mundo.
Por
volta de 1935 ouvi uma mensagem dada pelo irmão Watchman Nee em Xangai. Ele
disse que, se fosse a um crente jovem e perguntasse a ele quem morreu na cruz,
ele diria que seu Redentor tinha morrido na cruz tanto pelos seus pecados como
pelo seu pecado. Se fosse a outro mais avançado e perguntasse a ele quem havia
morrido na cruz, ele diria que Cristo morreu lá, carregando seus pecados, o
pecado e ele próprio (Gl 2:20). Alguém ainda mais avançado na vida cristã lhe
diria que Cristo morreu na cruz pelos seus pecados, pelo pecado e por ele
próprio com toda a criação. Uma quinta categoria de cristãos diria que Cristo
morreu na cruz não somente pelos seus pecados, pelo pecado e por eles próprios
com toda a criação, mas também para destruir Satanás e julgar o mundo.
Mais
tarde comecei a ver que havia a necessidade de um avanço posterior em perceber
a morte de Cristo, isto é, a abolição das ordenanças. Todas as ordenanças — os
hábitos, costumes, tradições e práticas entre a raça humana — foram abolidas na
cruz. A crucificação de Cristo foi a terminação universal de todas as coisas
negativas. Aleluia por tal terminação!
Liberando a
Vida Divina
A
morte de Cristo não somente foi uma morte terminadora, mas também liberadora.
Sua morte liberou a vida divina escondida dentro Dele (Jo 1:4). Em João 12:24
diz que um grão de trigo permanece só a menos que seja plantado na terra. Se
ele é plantado na terra, ele morre e então cresce para tornar-se muitos grãos.
Isso ilustra a morte liberadora de Cristo. Sua morte não somente termina todas
as coisas negativas; ela também libera vida divina — a única coisa positiva em
todo o universo.
Quando
Cristo morreu, um soldado traspassou Seu lado e saiu sangue e água (Jo 19:34).
Estes são símbolos. Sangue significa redenção, e água significa vida. Sangue e
água são símbolos dos dois aspectos da morte de Cristo. O aspecto negativo é a
redenção, e o aspecto positivo é o liberar da vida divina. Ele morreu, e a vida
dentro Dele foi liberada. Por Sua morte não somente o sangue redentor fluiu; a
vida divina também fluiu Dele. Hoje, quando cremos Nele, recebemos o sangue e
obtemos a água viva, a vida divina. Recebemos redenção e obtemos vida eterna.
RESSURRETO
No
terceiro dia depois de Sua morte, Cristo ressuscitou. Algumas coisas
maravilhosas foram executadas por meio de Sua ressurreição.
Glorificado
na Vida Divina
Primeiramente,
em Sua ressurreição Cristo foi glorificado. Quando uma semente de cravo é
plantada, ela morre sob a terra, e então cresce. Quando floresce, aquele
florescer é sua glorificação. Jesus foi a única semente da vida divina. Antes
de Sua morte, a vida divina estava oculta dentro Dele. Sua humanidade era a
casca. Quando Sua humanidade foi quebrada na cruz, a vida divina saiu de dentro
Dele, e Ele foi glorificado naquela vida (Jo 7:39; Lc 24:26). A entrada de
Cristo na ressurreição foi como o florescer da semente de cravo: Ele foi
glorificado.
Tornando-se
o Filho Primogênito de Deus com Muitos Irmãos
Em
segundo lugar, em ressurreição Cristo nasceu como o Filho primogênito de Deus.
Poucos cristãos percebem que para Jesus Cristo a ressurreição foi um
nascimento. Encarnação foi Seu nascimento como um homem, mas ressurreição foi
Seu nascimento em Sua humanidade como o Filho primogênito de Deus (At 13:33).
Cristo,
como o Filho de Deus, tem dois aspectos. Antes da Sua ressurreição Ele era o
Filho unigênito (Jo 1:14; 3:16); então, em ressurreição Ele nasceu de Deus como
o Filho primogênito. Quando Cristo se encarnou, Ele vestiu a humanidade;
entretanto, Sua humanidade não era divina. Foi por meio de Sua morte e
ressurreição que Sua humanidade foi levada para dentro da divindade. Assim,
Atos 13:33 nos diz que em Sua ressurreição Ele nasceu. O Filho unigênito
tornou-se o Filho primogênito (Rrn 8:29).
Em
Efésios 2:6 nos diz que na ressurreição de Cristo nós, Seus crentes, também
fomos ressuscitados. Quando Ele foi crucificado, nós fomos crucificados. Quando
Ele foi ressuscitado, nós fomos ressuscitados. Em Sua ressurreição Ele nasceu
como o Filho primogênito de Deus, e nós também nascemos como os muitos filhos
de Deus. Ele tornou-se o Primogênito, e nós nos tornamos Seus muitos
irmãos (Jo 20:17; Hb 2:11,12).
A
Bíblia deixa claro que, antes de nascermos, nós fomos crucificados com Cristo e
ressuscitados com Ele. Na ressurreição Ele nasceu como o Filho primogênito
de Deus, e em Sua ressurreição nós também nascemos como os muitos Filhos de
Deus (1 Pe 1:3). Ele tornou-se o Primogênito entre nós, Seus muitos irmãos.
Tornando-se
o Espírito que Dá Vida
Em
ressurreição Cristo também tornou-se Espírito que dá vida (1 Co 15:45). Este
versículo em 1 Coríntios é um dos versículos mais negligenciados na Bíblia. Na
ressurreição, o tema de 1 Coríntios 15, Cristo como o último Adão, por meio de
Sua morte e ressurreição, tornou-se Espírito que dá vida. Muitos cristãos
consideram Cristo como seu Redentor, mas poucos consideram-No como um Espírito
que dá vida. Mas nosso Redentor é o Espírito que dá vida na ressurreição. Pela
Sua morte Ele nos redimiu; na Sua ressurreição Ele infunde-se para dentro de
nós como vida.
Depois
de Sua ressurreição e na Sua ressurreição, Ele tornou-se o Cristo pneumático. O
Cristo pneumático é idêntico ao Espírito. É por isso que em 2 Coríntios 3:17
diz: "O Senhor é o Espírito". Hoje, em ressurreição, o próprio Cristo,
nosso Redentor, é idêntico ao Espírito que dá vida a nós.
Soprando
para dentro de Seus Crentes
João
20 revela que depois de Sua morte e em Sua
ressurreição,
Cristo voltou. Ele retornou de uma forma maravilhosa. Os discípulos estavam
numa casa com as portas fechadas com medo dos judeus (v. 19). Repentinamente,
Jesus estava ali dizendo a eles: "Paz seja convosco". Ele não os
ensinou e não lhes deu nenhum sermão como fez no monte. Ele simplesmente soprou
para dentro deles e disse-lhes: "Recebei o Espírito Santo" (v. 22), o
Sopro Santo, o Pneuma Santo.
Cristo
apareceu sem bater na porta porque em ressurreição Ele é o Espírito. Ele tinha
um corpo ressurreto, que é chamado corpo espiritual (1 Co 15:44; Jo 20:27). Não
podemos explicar isso, mas isso é um fato revelado na Bíblia. Desde o tempo de
Sua ressurreição, Cristo nunca deixou os crentes. Aqui e ali Ele aparecia a
eles, mas estava sempre com eles.
Considere,
então, o que está incluído em Sua ressurreição: Ele foi glorificado, tornou-se
o Filho primogênito de Deus, fazendo de todos nós Seus irmãos, e Ele tornou-se
o Espírito que dá vida soprado para dentro de nós para estar conosco para
sempre (Jo 14:16-20).
EXALTADO
Após
Sua ressurreição, em Sua ascensão Cristo foi grandemente exaltado (Ef 1:20,
21). Ele foi feito Senhor e Cristo (At 2:36), e a Ele foi dado ser Cabeça sobre
todas as coisas para a igreja, a qual é o Seu Corpo (Ef 1:22, 23). O nosso
Cabeça, Cristo, não é somente nossa Cabeça, mas é Cabeça sobre todas as coisas
para nós.
Em
Sua ascensão Cristo derramou o Espírito Santo sobre Seus crentes (At 2:33).
Este foi o batismo genuíno do Espírito que formou o Corpo de Cristo (1 Co
12:13). Em Sua ressurreição Ele soprou o Espírito Santo para dentro de
Seus discípulos; então, em Sua ascensão, Ele derramou Seu Espírito sobre Seus
crentes. Isso quer dizer que, dentro dos discípulos e sobre eles havia somente
o Espírito. Dentro estava o Espírito e fora estava o Espírito. Dentro estava o
Espírito que enche interiormente, e fora estava o Espírito derramado. Isso foi
cumprido uma vez por todas e é um fato eterno do qual participamos.
Encarnação
é um fato, e crucificação é um fato, incluindo todas as realizações do Senhor na
cruz. Ressurreição também é um fato. Em Sua ressurreição, Cristo tornou-se o
Primogênito, fazendo-nos todos Seus irmãos, e Ele também tornou-se o Espírito
que dá vida soprado para dentro de nós. Ainda mais, a ascensão é um fato. Em
Sua ascensão Cristo foi feito Cabeça sobre todas as coisas, Ele foi feito
Senhor e Cristo, e Ele derramou-se como o Espírito sobre todos nós. Agora
estamos Nele. Ele está nos céus, e assim também nós (Ef 2:6). Ele está dentro
de nós e sobre nós, e nós estamos Nele. Esta é a redenção completa de Cristo.