QUAL É O PODER DA ORAÇÃO?
[Tiago
5.16] “Confessai, portanto, os vossos pecados uns
aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. A súplica
de um justo pode muito na sua atuação” (ARA).
[James 5.16]
“`εξομολοχεισθε
άλλήλοις τά παραπτώματα, Καί εϋχεσθε ΄θπερ άλλήλων όπως
Confessar uns
aos outros a transgressão, e orem uns pelos outros para que sejam
ίαθητε πολύ
ιοχύει δέησις δικαίου ένεργουμένη” [1](TRStephanus).
curadas, muito pode
a súplica do justo operando eficaz.
INTRODUÇÃO
Para
este texto analisaremos a oração de acordo com a última frase do versículo
acima. Faremos uso de vários aparatos, sejam textuais ou léxicos, debaixo das
leis exegéticas, e sob a visão de que a Escritura, Palavra de Deus, é
infalível.
A
grande questão a ser abordada é o efeito. Qual é o resultado produzido pela
oração? Ela possui algum poder? Algumas questões serão respondidas outras
ficarão em aberto, porém o principal é ouvir a voz do Espírito Santo que além
de Autor das Escrituras, também é o melhor intérprete da mesma.
Separamos
em três partes, a primeira fala do tipo de oração apontado por Tiago, a segunda
explica o tipo de pessoa que realiza tal oração, e por último o tipo de
resultado alcançado por todo esse processo.
1.
A Súplica – δέησις
A
oração será a palavra chave do texto de Tiago. Ele vai dizer sobre oração
intercessora, oração dos Presbíteros, oração da fé, etc. E apoiando isso,
várias versões traduziram essa palavra como oração: NVI, ARC, VIVA, NTLH e
CATÓLICA. Contudo na (ARA) a palavra é SÚPLICA. Mas qual será a tradução
correta? E por que ora utilizam oração, e ora súplica?
[2]A palavra utilizada no texto original é: δέησις
(substantivo), = uma petição, em oração, pedido e súplica. É
substantivo de δέομαι (verbo) = suplicar, mendigar (como
uma pessoa que se curva). E também é a forma média de δέω
(verbo primário) = amarrar, preso, ligado, atado. Corroborando
com o [3]dicionário
Almeida quanto ao significado de oração:
“Uma aproximação da pessoa a Deus por meio
de palavras ou do pensamento, em particular ou em público”.
Sendo assim como súplica é um tipo de oração, podemos
utilizar aqui o mesmo significado, como uma ligação direta com Deus
através dos pensamentos, uma elevação do espírito até o seu trono, literalmente
uma ligadura que une o homem com o seu Deus. Precisamos derrubar essa
tradição de que a oração é apenas uma mera petição, onde o indivíduo coloca
suas queixas, como se fosse o (SAC) “sistema de atendimento ao cliente”, ou até
o “PROCON”. Enquanto que deveria ser um
diálogo, puro e sincero e que o resultado desejado fosse sempre uma maior
aproximação com o seu Criador.
Portanto,
vamos utilizar o significado mais aproximado do sentido da palavra: Súplica,
como sendo, um pedido humilhante, encurvando-se como se pedisse esmola,
colocando o homem no seu local de direito que é abaixo de Deus, mostrando a sua
total dependência em Cristo, e refutando já inicialmente que no homem não
existem quaisquer poderes, partindo de si mesmo. Não existe sucesso na oração
de um homem que não se curva e não se humilha perante o Rei dos Reis.
Podemos
demonstrar como exemplo (Ef 6.18) “com toda a oração e súplica
orando em todo tempo no Espírito e, para o mesmo fim, vigiando com toda a
perseverança e súplica, por todos os santos” (ARA).
Aqui
o autor se utiliza de duas palavras diferentes (προσευχηες
‘proseukies’ καί ‘kai’ δεσεως ‘deseos’),
respectivamente (Oração e súplica). Portanto existe sim diferença de oração
para súplica, podemos dizer que súplica é um tipo de oração, mas não que são
iguais. No [4]dicionário
de português (Aurélio), os significados das duas são:
Oração = s.f. Prece sob a forma de meditação; reza. / Curta prece
litúrgica enunciada nas horas canônicas e na missa. / Discurso; sermão; fala.
Súplica = s.f. Oração feita com insistência e submissão;
prece, rogativa: Deus ouviu minha súplica. / Pedido, memorial em que se
solicita favor, graça ou esmola.
Esses
três significados indicados aqui, insistência, submissão e esmola, resumem perfeitamente
o que Tiago queria dizer, como também o próprio Jesus sempre ensinava:
perseverança (Lc 11.10); e humildade (Mt 11.29). Entretanto a
pesar de utilizarmos aqui a súplica para nossa análise, podemos inferir que o
tema, que está relacionado ao poder de tal súplica, poderá também ser utilizado
em qualquer outro “tipo de oração” ou sinônimo da mesma.
2.
Do Justo – δικαίου
Quando nos deparamos com este termo, conhecemos então, o
mundo da “justificação”, a mesma palavra utilizada por Paulo no livro de
Romanos, no qual ele sintetiza “Concluímos, pois, que o homem é justificado
pela Fé sem as obras da lei” (ARA) (Rm 3.28); “πίστει δικαιουσθαι
‘pístei dikaioústhai’”, “Justificado por (pela) fé”.
E aqui na carta de Tiago, observaremos uma constante
utilização desse radical δίκη (díki) s. f. “Processo, julgamento, Justiça,
etc.”. E o interessante é que Tiago vai usá-lo tanto para Deus quanto ao homem.
Vejamos alguns exemplos no quadro abaixo:
Ref.
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Grego
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Transliteração
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Tradução
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Sintaxe
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Tg 1.20,23/ 3.18
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Δικαιοσυνην (s)
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Dikaiosunen (s)
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Justiça
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Sub. Em ref. À Justificação.
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Τg 2.24
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Δικαιουται
|
Dikaioútai
|
Justiça
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V. pres. Ind. Meio ou passiva.
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Tg 5.6
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Τόν δικαίον
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Ton dikaíon
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“o” Justo
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Adj. Acusativo masc. Singular.
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Tg 5.16
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Δικαίου
|
Dikaíou
|
(do) justo
|
Adj. Genitivo masc. Singular.
|
2.1
O Porquê do δικαίου?
Este
é o nosso termo, que é utilizado por Tiago, e tendo já conhecido as outras
variações, vejamos agora, a influência desta.
O
termo utilizado na Bíblia, para adjetivar: Justo. Vejamos o que o [7]léxico
tem a dizer sobre ela:
δικαίου Rm 5.7 At 7.52 (a vinda do justo); Mt 23.35 (Abel, o Justo); Mt
47.24 (sou inocente “Pilatos”);
δίκαιος, αία, ον aplicado aos cidadãos modelo no mundo greco-romano. Reto, justo,
correto, honesto; guardador da lei; honesto, bom, direito (Mt 1.19). De Deus e
Cristo justo, reto, equânime (2 Tm 4.8); de Jesus justo, inocente (Lc 23.47).
Todas essas variações, oriunda de um mesmo radical: δική
(dikí) = processo, julgamento, causa e justiça (Divina). Ε Tiago entendeu muito bem a questão da
justificação, apesar de alguns dizerem o contrário, que ele não andava em
acordo com Paulo, por causa de Tiago fazer referência as “obras” e enfatizar
que a fé sozinha não é suficiente: (Tg 2.24) “Vedes
então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente
pela fé”. (ARA). Este versículo está em
contraponto com: (Rm 3.28) “concluímos, pois que o homem é justificado
pela fé sem as obras da lei”. (ARA).
Obviamente que este assunto deve
ser tratado com bastante cuidado e paciência. Contudo o exemplo que citamos não
pode por si só afirmar que Tiago era contrario a doutrina da Justificação, pelo
contrário em nenhum momento ele descarta a “justificação pela fé”, mas ele diz:
“... e não somente pela fé”, e o tema central desse texto é: (Tg
2.17,26) “... a fé sem obras é morta”. Aqui o autor
devidamente inspirado pelo Espírito Santo, é claro, derruba qualquer
“pseudo-ociosidade” no que se refere à justificação. Conclui-se que os dois
caminham juntos, ligados e unidos um depende do outro, é óbvio que existe uma
ordem e ela deve ser respeitada: A Justificação ocorre pela Fé e tendo as obras
como um “termômetro” para identificar esse indivíduo agora totalmente
Justificado por Cristo. Por isso, podemos afirmar que toda vez em que Tiago
utiliza o radical δική (dikí), referindo-se ao homem. Ele sabe que esse justo, é o homem
regenerado, totalmente transformado pelo Espírito Santo e justificado por
Cristo.
Parcialmente podemos afirmar que o Pastor Tiago escreveu a respeito
da “súplica do justo (alguém que fora justificado por Cristo, mediante a
fé e confirmada pelas obras)”. Portanto não podemos dizer: “de um justo”, mas
sim “do Justo”, pois podemos confundir como a súplica de “qualquer pessoa”
ou até “qualquer justo”, e como vimos no original, não existe nenhum artigo,
porém na tradução coloca-se um artigo indefinido, enquanto que na verdade o
genitivo da ideia de posse, inferindo assim o artigo definido, “a súplica do
justo...”.
3.
Ενεργουμένη – Operando eficaz
Essa
palavra terá uma responsabilidade dupla: Ela vai fechar o nosso entendimento
geral e específico. Primeiro precisamos entender qual significado dessa palavra
para o nosso contexto:
ένεργέω —1. Trabalhar, estar trabalhando, operar, ser efetivo at Mc 6.14; Gl 2.8;
Ef 2.2. το θέλειν και το έ. α vontade e a ação Fp 2.13b. Méd. trabalhar Rm 7.5;
2 Co 4.12; Ef 3.20; 1 Ts 2.13; tornar-se efetivo 2 Co 1.6. δέησις έ.
Poder efetivo Tg 5.16.—2. Trabalhar, produzir, efetuar 1 Co 12.6; Ef
1.11; 2.2; Fp 2.13a.
ενέργεια, ας, ή operação,
atividade Cl 2.12; 2 Ts 2.9. Manifestação. Ef 1.19; 3.7; 4.16; Cl
1.29; poder Fp 3.21 έ. Πλάνης influência enganosa 2 Ts 2.11 .* [energia]
Este termo é utilizado pelo menos duas vezes no texto grego: (Gl 5.6)
“Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão vale
coisa alguma; mas sim a fé que opera pelo amor” e a outra, é o próprio versículo de (Tg 5.16), nos dois casos
são usadas: verbo - presente
meio passiva -
nominativo singular feminino. Que indica uma energização
eficaz, estar trabalhando, o ser ativo e eficiente, corretamente,
energizar, trabalhar em uma situação que traz de um estágio (ponto) para o
próximo, como uma energizante corrente elétrica num fio, trazendo-a para uma
lâmpada de luz brilhante.
O Strong vai dizer que: “Em (Tiago 5:16)
energizado não tem a força de um adjetivo, mas dá a razão pela qual a oração
de um justo tem sucesso exterior, como sendo devida ao fato de que ele
exibe a sua atividade (de obras) (para o interior).
Para explicar melhor como chegamos a esse significado, citaremos
um trecho de um artigo: Effective prayer: (James 5.16-17) de [8]Peter Kirk:
“Então eu posso aplicar a
conclusão a que cheguei no meu BBB post, e que é apoiado por J. Armitage
Robinson, como ligados a em um comentário no BBB por Tony Papa. Esta conclusão
é que o passivo de energeo, como os encontrados aqui, implica um agente
divino ou sobre-humana e pode ser entendido como algo como "ser
colocado em operação." A implicação disso para Tiago 5:16 é que a
oração que ele tem em mente é posto em funcionamento por Deus, que ele é o
único que faz com que seja eficaz”.
“Assim, eu venho até preferindo a
leitura marginal ESV, mas com "efetiva" deve ser entendido como "posto
em prática por Deus." A oração, mesmo que de uma pessoa justa, não
é poderosa, simplesmente porque da forma de palavras, mas apenas como Deus
trabalha por ele e torna eficaz. E desde energeo no Novo Testamento é muitas
vezes ligada com operação de milagres, certamente este versículo implica que
Deus intervém sobrenaturalmente, milagrosamente, para colocar nossas orações em
vigor”.
Esta perícope está em acordo com a versão (King James, 1900)
“Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para
serdes curados. A oração eficaz fervorosa de um justo pode muito”
(James 5.16). Portanto unindo a citação com esta versão, entendemos que,
o efeito produzido não vem por causa do justo que a realiza, nem tão pouco pela
insistência ou perseverança, mas sim porque “Deus está operando a súplica
fervorosa do justo”, e Ele (Deus) está operando de maneira eficaz. Claro que
não queremos descartar a insistência ou perseverança na oração, mas queremos
dizer, que não é essa atitude que garante a atuação, mas a oração do justo ao
Justo faz com que “o” Justo opere de forma eficaz, derrubando assim qualquer
evidência de que esse texto apoia a confissão positiva ou o poder das palavras.
CONCLUSÃO
Agora sim, podemos entender o porquê de cada palavra traduzida
do texto grego, ficando: “... muito poder tem a súplica do justo
operando de maneira eficaz”.
Então afirmamos que o Pastor Tiago deixava-nos uma grande lição,
dizendo que A súplica deve ser feita sim de forma fervorosa, e com fé, contudo
não devemos confiar em nós mesmo, dizendo “minha oração tem poder”, ou a
“oração de alguém tem poder”, por isso repito somente a oração do justo feita
ao Justificador, tem poder, porque Ele está operando de maneira eficaz. Todos
os apelos de Tiago para que Orem, foi explicado aqui neste versículo, e em todo
o contexto geral da carta, tanto antes como depois ele irá culminar aqui:
Quando vocês forem orar: “Peça-a, porém, com fé, não
duvidando; pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, que é sublevada e
agitada pelo vento”. (Tg 1.6).
E não esqueçam com soberba e vanglória vocês não conseguirão nada,
“Mas o irmão de condição humilde glorie-se na sua exaltação” (1.9).
E quando forem pedir não se esqueçam de dizer: “Segundo a sua própria vontade...” (1.18). Ao invés de colocarem a sua
vontade na frente, pois: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes
em vossos deleites” (4.3).
Pois é pra isso que serve a oração, pra fazer você
exercitar sua fé, “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto,
assim também a fé sem obras é morta”. (2.26).
E guardem também seus lábios porque, “Da mesma boca procede bênção
e maldição. Não convém, meus irmãos, que se faça assim. Porventura a fonte deita da mesma
abertura água doce e água amargosa?” (3.10,11).
Não
esqueçam que a oração é um alívio momentâneo, mas em breve estaremos com ele
para todo sempre, por isso: “Sede vós também pacientes; fortalecei os vossos
corações (orando), porque a vinda do Senhor está próxima” (5.8).
E
enquanto isso, quaisquer problemas que tiverem recorram para a oração e
súplica:
“Está aflito alguém entre vós? Ore...”.
(5.13)
“Está doente algum de vós? Chame
os anciãos da igreja, e estes orem...” (5.14).
“E a oração da fé salvará o doente”.
(5.15).
“... orai uns pelos outros...” (5.16)
“Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós, e
orou com fervor para que não chovesse” (5.17).
“E orou outra vez e o céu deu
chuva, e a terra produziu o seu fruto”. (5.18).
E por fim, fecharemos com o texto
em Hebraico:
“... Grande poder oração do justo chamando a Deus com firmeza”.
BIBLIOGRAFIA
The Greek New Testament,;
Textus Receptus (Stephanus 1550).STRONG, James. Dicionário Grego do Novo
Testamento Strong. Anotado pela AMG.
KASCHEL, Werner. Dicionário da Bíblia de Almeida. / Werner
Kaschel, Rudi Zimmer; 2ª Ed. Barueri, SP; Sociedade Bíblica do Brasil, 2005.
Disponível em http://www.dicionariodoaurelio.com/Oracao.html e http://www.dicionariodoaurelio.com/Suplica.html
GINGRICH, F. Wilbur. Léxico do Novo Testamento Grego / Português;
2ª Ed. São Paulo, SP; Edições Vida Nova, 1983.
Disponível
em http://www.gentlewisdom.org/1681/effective-prayer-james-516-17/ . Texto postado na terça-feira de 23 de Fevereiro de
2010.
RJ,
dia 10/ de Agosto de 2013, Miguel Angelo Alves Sampaio, do Espírito Santo.
“Que o meu nome morra com o meu corpo, e o de Cristo permaneça em
tudo!” (“Oração” os Arrais).
[1]
Este texto e todos os demais serão retirados do: The Greek New Testament,;
Textus Receptus (Stephanus 1550).
[2]
STRONG, James. Dicionário Grego do Novo Testamento Strong. Anotado pela
AMG.
[3]
KASCHEL, Werner. Dicionário da Bíblia de Almeida, p. 120.
[4]
Toda Pesquisa no dicionário Aurélio, para palavras em português estará disponível
em http://www.dicionariodoaurelio.com/Oracao.html
e http://www.dicionariodoaurelio.com/Suplica.html
[5]
Disponível em http://biblesuite.com/greek/1342.htm
e os demais termos utilizados neste quadro.
[6]
Genitivo: Expressa
possessão, bem como origem ou derivação. O Genitivo tem outros usos, os quais
deverão ser aprendidos por observação; mas por enquanto, iremos ficar com estes
dois usos principais. Ex: δουλος αποστολου γραφει – “um servo de um apóstolo escreve/está escrevendo”. Ex:
λογοι αποστολων – “umas
palavras de uns apóstolos”.
[7] Disponível em http://monergismo.com/wp-content/uploads/apostila_grego_ricardo.pdf p.10.
[8] Disponível
em http://www.gentlewisdom.org/1681/effective-prayer-james-516-17/ Texto postado na terça-feira de 23 de Fevereiro de
2010.
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