Por Alan Francisco de Souza Lemos e Neemias Raimundo
I – Sociologia e Fé Cristã
Enquanto
a Sociologia segue avançando e ampliando seus horizontes, muitos cristãos
encontram dificuldades em lidar com a tendência desta de confrontar a fé.
Dentre estes, os que permanecem firmes, o fazem sem conciliar sua fé com os
postulados sociológicos. A reflexão da Sociologia em relação à fé cristã e vice
versa, parece ser a opção de contribuição positiva dos cristãos nessa área.
A
Sociologia está presente e exerce influência em todas as áreas e esferas. Todos
buscam nela, orientação. Vista ainda com desconfiança por muitos cristãos, a
Sociologia parece levar o estudante (depois de dado o primeiro passo de
confiança), a um nível irreversível de consciência; trazendo benefícios até
mesmo para a fé.
Os
cristãos perturbam-se com declarações de sociólogos que parecem tentar
desmerecer a religião e a fé como fugas ou recursos de socialização. Ao
constatar que suas mentes estão divididas entre posicionamentos nos ambientes
acadêmicos e cristãos, avaliam de forma psicológica e sociológica todo esse
desenrolar.
Como
resultado, cristãos envolvidos no estudo da Sociologia reagem trocando de
curso; mas apenas adiam a questão, pois a abrangência da Sociologia é bem vasta
e fatalmente, o confronto se repetirá.
Outra
forma de reação é continuar o curso com a mente dividida, onde a Sociologia não
exercerá influência na parte “sagrada” da mente; onde cristão e sociólogo são
pólos opostos. É o mesmo que declarar a impossibilidade de harmonia entre
Sociologia e fé cristã e vice versa. “Portanto
essa divisão de papéis implica que não existe na teoria sociológica lugar para
os valores cristãos, ou que a perspectiva sociológica é irrelevante para a fé
cristã”.
A
terceira opção é elevar a Sociologia ao nível de uma nova fé, onde a Bíblia
fica submetida a segundo plano, sendo preterida pelos ensinamentos acadêmicos.
A
última opção é o estudante cristão estudar a Sociologia “com uma mente aberta à
sabedoria originada na Palavra de Deus”. Deve-se encara as dificuldades entre a
Sociologia e fé cristã de forma honesta e não as evitar, pois podem resultar em
esclarecimentos benéficos para os dois lados.
Quando
a tendência sociológica de relativizar abarca os padrões absolutos e divinos
dos cristãos, gera conflitos entre sistemas inteiros de pensamentos.
Detentores
de maneiras de pensar distintas, o cristão e o sociólogo respondem
diferentemente em relação ao conhecimento, origem de todas as divergências.
II – A Sociologia da Sociologia
A
importância da Sociologia remete às suas origens intelectuais, políticas e
sociais. Em seu afã de compreender a sociedade em que vivem, os sociólogos
demonstram o desejo de mudá-la, ou até mesmo controlá-la.
A
Sociologia surgiu como resposta á necessidade de uma reconstrução social,
decorrente da convulsão ocorrida no século XIX como resultado do impacto da
industrialização e revoluções européias. A base da sociedade foi abalada,
envolvendo até mesmo os sociólogos pioneiros.
A
Revolução Francesa inovou como a primeira revolução na história a se ancorar na
nova teoria de soberania popular, onde a vontade do povo prevaleceu contra a
vontade de Deus e do rei. Para alcançar Liberdade, Igualdade e Fraternidade o
povo deveria se representar politicamente e se fazer ouvir. A forma de executar
essas questões, resultou em grande teorização social sem precedentes na
história.
O
censo de identidade produzido pela soberania popular veio acompanhado do
nacionalismo. O Estado, abrangendo todos os membros da sociedade, tem a
prerrogativa de influenciar e manipular todos os grupos sociais. Max Weber
explorou um fato novo, a burocracia necessária para o Estado funcionar.
Simultaneamente
ao espírito revolucionário que ganhava a Europa, ocorria a revolução
tecnológica, com a utilização de novos meios de produção. Os primeiros
sociólogos, observando a importância das implicações sociais da
industrialização, estruturaram as bases de seus efeitos na vida social humana;
bases essas que exercem influência até hoje.
A
consequência mais duradoura da industrialização foi a criação da sociedade de
trabalhadores urbanos.. Aspectos como divisão entre lar e trabalho, sistemas de
fábricas, família e economia, a família passou a unidade consumidora ao invés
de produtora; perdendo assim, suas funções. A teoria sociológica tem tido
grande motivação nesses eventos. A Sociologia também abarcou sob sua influência
questões como sociedades pré-industriais e sociedades pós-industriais.
A
solução buscada por inúmeros pensadores para esses problemas variou do realismo
à utopia. Mas foi Karl Marx (1818-1883) quem influenciou de forma marcante
nessa área. Ele percebeu que outros pensadores negligenciaram características
da sociedade industrial. Em sua crença no sistema capitalista de produção, os
operários eram escravos assalariados; vendiam mão de obra a empregadores sem
qualquer controle sobre ao que produziam; o que gerava distanciamento entre
produtos e trabalhadores, entre colegas de trabalho e entre empregados e
patrões; o que Marx definia como alienação; segundo ele, a história humana
“nada mais é que a história da luta de classes entre trabalhadores alienados e
seus empregadores; ou entre servos e senhores”. Muitos seguidores de Marx
negligenciaram aspectos mais humanísticos de sua obra. Sendo o fator econômico
o ponto mais importante da obra de Marx.
A
industrialização reuniu sob os mesmo tetos mais trabalhadores do qualquer outra
economia anterior; impôs a especialização, a mecanização; as pessoas
experimentaram novos níveis de relacionamentos entre si e com as máquinas.
Conflitos daí resultantes, suas resoluções e melhorias das condições têm
motivado o pensamento social.
A
resposta para a desinstalação da vida social provocada pela revolução e pela
industrialização no século XIX foi Sociologia; alcançando assim, o status
importante que tem hoje.
A
origem intelectual da Sociologia começa no Iluminismo do século XIX, quando
qualquer explicação sobrenatural para qualquer fenômeno era considerada
invalida, assim; a sociedade começou a ser estudada como parte da natureza,
influenciando as mudanças sociais, econômicas e políticas do século XIX. Com o
otimismo gerado pela Revolução Francesa, as pessoas pensavam que a humanidade
era capaz de transformar a sociedade sem qualquer referência a Deus; aliado a
isso, com a ciência surgindo supostamente como a chave para todos os mistérios,
confirmou essa idéia para muitas pessoas.
A
partir do século XIX ocorreu uma mudança de crença na sociedade, pois suas
estruturas se secularizaram. As instituições, a prática religiosa, o pensamento
religioso convencional, a interpretação religiosa foram perdendo significado
social, aceitação social e foram sendo descartados. Foi difundida uma nova
interpretação, a cosmovisão científica, tão religiosa quanto a anterior.
O
cientismo é o nome dado à crença na capacidade da ciência dar solução para
todas as questões. Pois as pessoas buscavam respostas e criam que pela
relevância da ciência naquele contexto, ela tinha muito a colaborar.
Augusto
Comte (1798-1857), o homem que criou a palavra sociologia, traz em sua obra o
melhor exemplo para cientismo. Via a história como um todo unificado. Dizia
viver o final da etapa teológica e militar e que a seguinte que estava nascendo
era a científica e industrial, chamada positiva por causa dos resultados
positivos da ciência. O homem envolvido na etapa positiva não deveria crer em revelação. Criou
a Religião da Humanidade, tida hoje como excentricidade do século XIX. Comte
defendia uma sociedade racional e empírica e ignorava o embasamento metafísico.
Nos
últimos anos grande número de pensadores admite que por detrás de toda ciência
existe uma metaciência e que por detrás de toda hipótese científica há um
paradigma. Comte pressupunha a falsidade da religião sobrenatural, a
inevitabilidade do progresso moral e tecnológico e a eficácia do seu próprio
método de produzir resultados confiáveis.
Comte
é o elo entre a Sociologia dos pioneiros e a Sociologia de hoje. O sucessor de
suas teorias no século XX é o positivismo lógico. O que une as duas teorias é
que ambas descartam a categoria da revelação como fonte de conhecimento.
O
positivismo e o empirismo exercem grande influência no desenvolvimento da
Sociologia do século XX. Óbvios nos dogmas Liberdade de Valores ou Isenção de
Valores. Nas décadas de 40 e 50, uma das principais motivações da Sociologia
empírica. Porém a Sociologia americana não se interessou pela luta dos negros
americanos por igualdade em relação aos brancos.
A
relação entre religião e ciência talvez tenha sido a mais importante causa da
crise de mentalidade do século XIX. Tema principal dos grandes pensadores
sociais. Pois cria acreditava-se que o pensamento científico era o único método
preciso. A ciência parecia suprir todas as respostas para todos os problemas.
A
publicação da Teoria das Espécies (1859), causou grande impacto ao remeter
alguma ligação do homem ao macaco. Herbert Spencer (1820-1903), principal
expoente do darwinismo social, defendia que era possível alterar o curso da
chamada evolução.
O
sistema essencialmente evolucionista de Comte resultou na Religião do Humanismo
e o Estudo da Sociologia (1874) de Herbert Spencer concluiu um sistema de
Filosofia social evolucionária, com o intuito de substituir qualquer pensamento
anterior, inclusive a Teologia. O ponto de vista evolucionista progressivo
reforçava que o homem é basicamente bom e tem potencial para se aperfeiçoar e
governar a si mesmo sem qualquer ajuda externa, a não ser da ciência.
Ainda
hoje a atitude científico-positivista permeia grande parte da Sociologia. A
postura arrogante de determinados sociólogos parece ser influência da crença de
que a ciência veio substituir a religião.
As
guerras e o imperialismo tecnocrata do século XX parecem ter suavizado a fé
cega na ciência. O mundo sociológico parece insatisfeito com os pronunciamentos
definitivos sobre a sociedade. Ou da
equiparação de leis sociais com as leis encontradas na natureza. Existe também
a consciência de que muitos sociólogos fazem especulações partindo de juízos de
valores específicos que influenciam suas percepções. Fazer pressuposições
inverificáveis é resultado de uma fé intuitiva.
A
tarefa da Sociologia deve começar reconhecendo que a antiga noção de liberdade
isenta de valores preconcebidos é puro mito. Todas as categorias sociológicas
são carregadas de valores, posturas, ou de conflito de valores.
A
partir da posição pós-empírica, apareceu uma nova oportunidade para os cristãos
mostrarem que suas pressuposições concordam com a realidade da sociedade.
A
Sociologia é uma tentativa de compreender a sociedade e lidar com ela,
controlando-a ou transformando-a; ela nasceu no século XIX como fruto da
revolução, da industrialização e de mudanças de crenças. A Sociologia da forma
como se desenvolveu, é fundamentalmente humanística e científica. Atualmente,
os sociólogos percebem que os modelos mecanicistas não podem se transferir indiscriminadamente
para as ciências humanas ou sociais; e que deixam transparecer em seus
trabalhos, suas suposições e pressuposições.
Muitos
cristãos do século XIX ignoraram desafios do mundo intelectual. É preciso
reverter essa tendência, pois muitas questões precisam ser consideradas acerca
das mudanças sociais que nos afetam e tem sido analisadas pela Sociologia.
Inexiste inclusive uma visão cristã em relação a elas. É preciso esforço para
desafiar idéias prevalecentes e entender os conflitos existentes entre fé
cristã e Sociologia; pois muitas pressuposições da Sociologia histórica e
contemporânea entra em contradição com posições cristãs. A Sociologia se
esforça em produzir excelente idéias mas jamais em sentido definitivo. Porém
nosso Deus nos revela verdades que independem das situações.
Muitos
trabalhos realizados por sociólogos não cristãos resultaram em benefícios na
sociedade e que são do agrado de Deus. Como cristãos, não podemos pensar que
tudo na Sociologia é irrelevante. Os cristãos podem ainda, através da Bíblia,
dar excelentes contribuições em benefício da sociedade.
III – Quem é Que Diz Isso?
A
Sociologia desequilibra as pessoas porque esquadrinha e questiona; para os
despreparados isso é desgastante, mas é a prática sociológica. A Sociologia do
conhecimento tenta enquadrar todo conhecimento em seu contexto social. Porém, a
conclusão implícita em tal estudo é que todo conhecimento que pode ser
enquadrado é falso ou relativo.
Uma
ideologia pode ser política, religiosa, mitológica ou intelectual. Bastando
apenas uma justificativa ou explicação para alguma ação, reação ou estado de
coisas. Na maioria das vezes, no contexto sociológico, uma ideologia implica em
uma distorção. Particularmente acontece na tradição marxista com a burguesia
distorcendo a realidade ancorada em sua posição sócio-econômica.
A
partir de cada contexto, o sociólogo irá elaborar dentre inúmeras variações o
que se quer dizer. Pode ser um muro de defesa que se levanta à volta para
justificar determinadas atividades. O leite excedente doado vende a ideologia
de tratar bem as crianças.
Uma
ideologia distorcedora racionaliza um expediente político com objetivo de
servir a interesses criados. Segundo análise sociológica, falsas idéias seriam
aceitas como válidas e sua falsidade somente se revelaria com a análise do
contexto social em que ocorreram.
A
religião é um dos primeiros alvos do escrutínio dos sociólogos do conhecimento.
Pode haver decepção ao se deparar com crenças explicadas sem possibilidade de
refutação, tanto no contexto social das origens da sua religião, quanto das
forças sociais que os levaram ao seu comprometimento.
A
opressão romana da nação judaica somada ao mito do Messias ansiado, são fatores
que influenciaram a adesão popular à figura carismática de Cristo; a crucificação
foi compensada com a ressurreição; explicam
a conversão como conformismo de grupo ou busca de reconhecimento de
status social motivado por necessidade particular; a permanência na igreja é
uma resposta à ideologia da comunhão fraternal abalizada na confissão comum.
O
mundo hoje parece alienado do cristianismo bíblico, são esses pressupostos
auto-evidentes que os sociólogos estudam. Portanto, esse mundo da realidade é
socialmente construído e não passa de um produto da sociedade. Todavia, os próprios
sociólogos não possuem qualquer ponto de referência fora da sociedade e se
apegam a valores que direcionam seus estudos.
O
sociólogo do conhecimento desafia qualquer fonte de autoridade e passa a
esclarecer qualquer um que formular um juízo definitivo, afirmando que a
sociedade assim o diz. Qualquer que seja a crença, sempre se pode pesquisar sua
origem social e prová-la como produto de tempo e contexto reforçado pela
aceitação social.
Receia-se
pronunciar qualquer juízo em presença do sociólogo questionador (pelo seu
cinismo e descrença), para não se tornar objeto de análise social. Qualquer
expressão de conquista pode ser analisada como aspiração social, conformidade,
ética de grupo e ideais burgueses.
Sociólogos
fazem grandes reinvidicações, porém ignoram características da vida social
humana com as quais deveriam se preocupar.
Ao
mesmo tempo em que a Sociologia é ferrenha opositora às autoridades, ela também
é extremamente autoritária. E são os mesmos sociólogos que se opõem a
investigações neutras, que desmascaram a Sociologia. Eles se dão conta que eles
mesmos tem pressupostos e se aproximam de tudo, até mesmo da Sociologia. Pelo
fato da Sociologia ter se tornado uma forma de consciência, é muito difícil
persuadir as pessoas. Assim, nos cabe usar nossa imaginação sociológica ao
pintar nossos quadros sociológicos.
No
conceito de funcionalismo na Sociologia, ela é estudada em termos de suas
funções como sistema. Robert Merton se destaca demonstrando que “nem todas as
funções mantém necessariamente a sociedade”. A tendência de destruir ou
deteriorar estruturas sociais seria uma disfunção. Estabeleceu uma distinção
entre funções manifestas deliberadas e conscientes e latentes inconscientes e
não intencionais.
O
movimento funcionalista foi uma reação ao evolucionismo cru que explicava as
instituições sociais em termos de sua origem primitiva. Os funcionalistas
deixaram de lado a questão das origens para ver a sociedade como sistema em que
crenças e práticas assumem papel funcional. Uma sociedade normal é uma
estrutura não acidental.
Outros
funcionalistas ignoraram tanto origens como outros aspectos da vida social. A
obsessão com a função pode levar à distorção, caso se ignore como esse costume
começou.
A
análise da função pode esclarecer algum aspecto obscuro da vida social, pode
obscurecer a intenção, ou a responsabilidade e a credibilidade. Ao argumento
que o matrimônio tem função sexual, sociólogos rebatem que solteiro também tem
vida sexual ativa e também fazem planos de se casar e inúmeros outros. É de extrema
importância que os cristãos deixem claro sua posição e suas razões.
O
relativismo da Sociologia indica uma distorção da verdade sobre o homem e a
sociedade; dando base para afirmar que a própria Sociologia é uma ideologia.
Quando o sociólogo defende que conceitos ou padrões de comportamento se tornam
humanos por repetição, mostra cegueira frente aos absolutos. Esquecendo dos
conceitos permanentes e intrinsecamente humanos como a determinação e a
responsabilidade.
A
posição cristã precisa estar clara devido à preocupação do aspecto ideológico
da ciência social. Deveríamos deixar explícito nosso ponto de vista cristão,
assim com também os sociólogos o fazem. Até mesmo porque os ensinamentos
cristãos não são populares; portanto, uma mudança de crença não é explicada
socialmente.
William
Sargant, ao tentar desmascarar a conversão, a retrata como estado de hiper-sugestão,
uma lavagem cerebral, com objetivo de incutir a fé cristã, que, ao invés da
experiência divina espiritual, não passa de manipulação humana e que o
espiritual é ilusão.
A
Sociologia naturalista ignora os aspectos históricos e sobrenaturais do
cristianismo quando afirma que “(...) a conversão não passa de um fenômeno
psicológico ou sociológico.
A
distinção da fé cristã é evidente naquilo que os cristãos crêem quanto à
conversão. Ou seja, na auto-revelação geral e especial de Deus. Afirmando ser
essa revelação a verdade; Jesus declarou ser esta verdade. Pontos que geram
questionamentos.
Ao
examinar a validade da Bíblia, podemos afirmar que ela é coerente
historicamente e dá respostas satisfatórias a questões da natureza humana,
portanto, a Bíblia é capaz de ser posta à prova por qualquer pessoa.
A
natureza humana está permanentemente em oposição a Deus; resultando em
conflitos sociais que são sintomas da inimizade contra Deus. O cristão encontra
em Deus a certeza da sua fé através da coerência dos ensinamentos bíblicos;
fazendo dos cristãos realistas e não pessimistas, quando crêem que Deus está
controla o rumo da história humana.
A
narrativa do Antigo Testamento é abordada inadequada e rudemente pela
Sociologia do conhecimento como o Deus fiel e a humanidade inconstante; e o
povo escolhido sobrevivendo sempre com um grande número de pessoas crendo nesse
Deus.
Como
o povo continua crendo nesses mandamentos se estes eram de pouca aceitação
popular? Os cristãos podem dizer que os mandamentos de Deus eram ditados e não
determinados socialmente; por um Deus Santo e Digno de confiança. Como hoje,
conseguimos resistir às pressões sociais para que aceitemos seus padrões, pelo
poder que nos capacita, assim também o era nos dias do Antigo Testamento.
O
conhecimento que temos como cristãos, independem de contextos sociais, embora
afetados por eles, portanto, o fator humano está presente na Bíblia. Pessoas com
personalidade e estilos diferentes, em contextos sociais específicos;mas o que
escreveram era a Palavra de Deus; autoritativa e infalível. O erro é dizer
“(...) A Bíblia foi escrita por seres humanos, logo, ela é falível”.
A
auto-revelação de Deus nos permite toda e qualquer idéia humana e social.
Qualquer ponto de vista diferente, resultante de análise real, pode contribuir
com aspectos positivos, pois Deus capacita o ser humano, porém, tudo deve ser
filtrado pela Palavra de Deus.
Os
cristãos têm grande responsabilidade de trazer pontos bíblicos que contribuam
em situações específicas. Nossa convicção social deve refletir que o árbitro
final não é o indivíduo nem a sociedade, mas a primeira e a última palavra
pertencem a Deus.
IV – Homo sociologicus
No capítulo 4, Homo sociologicus, o autor aborda a
questão da natureza humana, ou, mais especificamente, a “imagem” humana, isto
é, são apresentados os labores sociológicos do sociólogo secular (ou
não-cristão) e do sociólogo cristão.
Segundo o próprio autor, a
Sociologia é “... o estudo de pessoas em interação umas com as outras” (p.51);
por este motivo, muitas variantes intervêm no processo de socialização dos
indivíduos.
Sob a ótica de uma sociologia
não-cristã, três perspectivas sociológicas aparecem como propostas explicativas
do comportamento social humano (contrato social): o behaviorismo, o funcionalismo e o voluntarismo.
Sobre a perspectiva behaviorista, ele afirma:
“Em
primeiro lugar vem o ‘behaviorismo’, cujos adeptos crêem (sic) que as reações são
condicionadas: ou o instinto estimula a produção de uma resposta que tem
efeitos calculáveis, ou então forças externas (forças sociais, por exemplo)
produzem efeitos internos. O behaviorismo, como doutrina explícita, é mais
comum na psicologia, porém representa o pensamento menos elaborado de certos
sociólogos positivistas. Se essa idéia (sic) estivesse correta, o ‘controle’
social poderia ser obtido através da manipulação de sanções.” (p. 52)
A respeito da perspectiva
funcionalista:
“A
segunda categoria é o ‘funcionalismo’” ... “... se esta é a perspectiva do
sociólogo, suas teorias são menos que humanas. Se a sociedade nada mais é que
um sistema a ser regulado e controlado pela ‘adaptação funcional’, então o que
é feito das necessidades humanas que sentimos e dos pensamentos? Se o conflito
social é considerado uma ‘tensão estrutural’, então o que dizer das
incompatibilidades básicas dos interesses e valores?” (p. 53)
E conclui, a despeito do
voluntarismo:
“A
terceira perspectiva é a do ‘voluntarismo’, que tem a ver com as motivações das
pessoas. Os sociólogos desta escola se ocupam não necessariamente com motivos
autoconfessados, mas sim em atribuir certas tendências e motivações a grupos
que podem não estar conscientes delas. (p. 53)
Estas perspectivas excluem a
esfera espiritual e culpabilizam a sociedade pela criação e educação das
pessoas e, por conseguinte, torna-a a única responsável por tudo, e não apenas
por aquilo que é socialmente aceitável. Mas, ao final, David Lyon adverte para
escravidão do ser humano ao pecado original e propõe uma outra perspectiva
sociológica, que contempla o homem como “imagem” de Deus, inicialmente, e, após
a Queda, como subproduto de Deus e do pecado. Por isto, explica o autor, o
homem é capaz de fazer o bem e o mal, influenciar e ser influenciado pela
sociedade etc. Portanto, para David Lyon, as ações do homem no meio são
resultado dos seguintes fatores: os fatos e imposições micro e macrossociais e
a realidade espiritual individual e coletiva do homem; fatores que não deixam
de observar a vontade racional do indivíduo.
V
– Estatísticas e salvação
No capítulo 5, Estatística e salvação, ressalta a
religião como um fenômeno social, à luz da Sociologia. “Essa abordagem leva o
pesquisador a observar manifestações de crença religiosa, ou então a aderir a
um grupo religioso e analisá-lo.” (p. 75). Esta postura pode ser muito
criticada por alguns cristãos, mas, afirma o autor, dentro das igrejas algo
muito parecido ocorre. Enquanto os funcionalistas enxergam os efeitos da
religião na sociedade, os marxistas não reconhecem nela mérito algum. Os
sociólogos cristãos, contudo, devem “se expressar na afirmação de que existe
uma religião ‘verdadeira’ manifesta em sociedade ...” (p. 75). Devem observar e
apontar os erros da igreja, para, então, corrigi-los (p. 78).
“O sociólogo vai além da
simples pesquisa estatística, com suas limitadas conclusões, e diz algo a
respeito das funções sociais da religião. Ritos e cerimônias de passagem
mostram como a sociedade está permeada pela religião. Mas o valor da religião
nos estudos sociológicos foi questionado graças à ênfase positivista nas
ciências sociais (p. 80).
À página 81, ele diz:
“As
fórmulas sagradas e os rituais da religião são repetidos em tempos de crise, a
fim de que o mundo (ou nossa percepção de mundo) não fuja do nosso controle.
Para construírem um quadro da realidade para si mesmas, as pessoas necessitam
de um sistema de crença; e a religião desempenha um papel decisivo, tanto na
manutenção como na construção dessa realidade. Esse edifício, uma vez
construído e solidificado, servirá de refúgio contra os graves e constantes
problemas da vida. As crises que mais agudamente se sentem, segundo eles, são a
anomia e a morte.”
Este quadro pode levar o
indivíduo a criar uma religião para si como remédio a uma opressão. Marx
postulou que a religião é utópica e consequência da separação de classes,
portanto, é necessário abolir a religião, é um requisito para a felicidade
humana. O autor, todavia, diz que é inviável aplicar a visão marxista a todas
as situações, pois as religiões criadas nada mais são do que simulacros da
verdadeira religião, que é obra de Deus.
VI
– As questões dos anos 90
No capítulo 6, Lyon situa a
sociedade na contemporaneidade da década de 90, época da feitura do livro. O
que se pode concluir é que os muitos avanços tecnológicos não puderam e não
podem “superar as velhas desigualdades e os relacionamentos fragmentados das
sociedades industriais capitalistas.” (p. 88). No mais, a sociedade, de um modo
geral, vive um momento de transferência da modernidade para a pós-modernidade.
Mutações ocorrem nas variegadas esferas sociais, econômicas, políticas etc. “A
ordem é seguir os princípios de administração em lugar de um código de ética ou
de um compromisso com a justiça e a saúde” (p. 90).
Em face disto, o cristão deve
colaborar para o entendimento social com amor e subserviência a Deus, pautando
todas as suas ações e pensamentos na vontade soberana de Deus e a igreja
precisa resistir às ondas de mudanças impostas pelo mundo que corroem a moral
cristã.
VII
– Sociologia Cristã
No capítulo 7, intitulado Sociologia Cristã, o autor afirma a
urgência de se desenvolver uma sociologia cristã que tome a bíblia como lastro.
Deve-se acrescentar, no entanto, além da bíblia, a história, a ética e a moral
cristãs, que vão para além da bíblia. Mas o cristão não deve se eximir de seu
pensamento sociológico, se este estiver em sintonia com o cristianismo. Não
deve correr de sua responsabilidade social (como “sal da terra” e “luz do
mundo”). Precisa orar e denunciar os erros ou inadequações sócio-políticas.
Deve conservar seu έθος, éthos, costume, hábito e, por extensão de
sentido, caráter, isto é seus hábitos
que, de tão repetitivos e comuns ao seu modus
operandi, espelham seu caráter. À
página 100, Lyon deixa o ensinamento cristão do apóstolo Pedro:
“Estejam sempre prontos para responder a
qualquer pessoa que pedir que expliquem a fé que vocês têm. Porém façam isso
com delicadeza e respeito. Tenham sempre a consciência limpa. Assim, quando
forem insultados, os que falarem mal da boa conduta de vocês como seguidores de
Cristo, ficarão envergonhados.”
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
LYON, David. O
cristão e a Sociologia. Silêda Silva Steuernagel (trad.). ABU Editora. São
Paulo, 1996.
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