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Cur Deus Homo
por
Santo Anselmo
- condensado do argumento principal -
Tenho sido rogado
freqüentemente por muitos, oralmente e por carta, que expusesse por
escrito porque necessidade e por que razão Deus, sendo onipotente, tomou
a humildade e a enfermidade da natureza humana para poder salvá-los.
Tentarei
satisfazer aos seus pedidos, não para que pela razão se aproximem da fé,
mas para que se deleitem das coisas que crêem pela inteligência e pela
contemplação, e possam, o quanto possam, estarem preparados para darem
uma satisfação àqueles que lhes perguntarem sobre a nossa esperança.
Vejamos primeiramente o que é pecar, e o que é satisfazer pelo pecado.
Se o anjo ou o
homem sempre dessem a Deus o que lhe é devido, nunca pecariam, pois nada
mais é pecar do que não dar a Deus o que lhe é devido, isto é, toda a
vontade da criatura racional sujeita à vontade de Deus.
Quem não dá a Deus
isto que lhe é devido, tira de Deus o que lhe é devido e o desonra, e
isto é pecar. Enquanto não devolver o que é devido, permanece em culpa.
Não é suficiente,
porém, devolver o que lhe foi tirado, pois pela injúria feita sempre
deve-se devolver mais do que se tirou. É assim que não é suficiente para
quem lesa a saúde de outro que lhe devolva a saúde, pois deve também,
pela dor impingida, recompensar-lhe com algo mais. Do mesmo modo não é
suficiente para quem viola a honra de alguém que lhe devolva a honra,
pois deve também, de acordo com o dano que lhe causou, restituir-lhe
algo a mais que seja de seu agrado.
Mas com que
poderás resgatar a Deus pelo teu pecado? Arrependimento, um coração
contrito e humilhado, abstinências, trabalhos corporais, misericórdia no
dar e no perdoar e obediência? Em tudo isto, porém, o que dás a Deus?
Ao dares a Deus algo que já lhe devias, mesmo que não tivesses pecado,
não podes computar isto como o resgate que lhe deves pelo teu pecado. O
que, pois, lhe darás pelo teu pecado? Se eu mesmo, e tudo o que eu
posso, mesmo quando não peco, e Ele o devo para que não peque, nada mais
terei com que possa resgatar pelo pecado.
Entretanto, ainda
que estas coisas não as devesse já a Deus, mesmo estas não seriam
suficientes para resgatar do pecado, mesmo de um pecado tão pequeno como
um olhar contra a vontade de Deus.
Considera quão grave é o pecado. Se estás na presença de Deus e alguém te dissesse:
"Olha",
e Deus, ao contrário:
"De modo algum
quero que olhes",
quero que olhes",
pergunta em teu coração qual é o motivo que justificaria ir contra a vontade de Deus.
Se necessário
fosse olhar para que todo o mundo e tudo o que não é Deus não perecesse e
não voltasse ao nada, mesmo se houvessem muitos mundos cheios de
criaturas e que estas se multiplicassem ao infinito, nem por isto
deverias olhar, o que não significa outra coisa senão que tudo isto é de
menos valor do que a gravidade do pecado.
Ninguém, pois,
poderá satisfazer pelo pecado, por menor que seja, a não ser quem puder
resgatar pelo pecado do homem com algo que seja maior do que tudo o que
não é Deus.
Ora, somente
poderá dar algo de seu a Deus que seja maior do que tudo o que há
debaixo de Deus aquele que for maior do que tudo aquilo que não é Deus.
Ninguém, porém está acima de tudo o que não é Deus senão Deus.
Portanto, não
poderá satisfazer pelo pecado do homem ninguém, senão só Deus. Mas
também não o poderá fazer, se não for homem, caso contrário não será o
homem que dará a satisfação.
É necessário, portanto, que esta satisfação venha do Deus homem.
A razão, portanto,
nos ensina que quem satisfará pelo pecado do homem deve possuir algo
maior do que tudo o que há debaixo de Deus, e que o dê espontaneamente, e
não por uma obrigação, a Deus. Deverá, pois, se pôr a si mesmo para a
honra de Deus, ou algo de si mesmo que de algum modo já não o devesse a
Deus.
Se, porém, o Filho
de Deus der a sua vida a Deus, ou se se oferecer à morte para a honra
de Deus, isto Deus não o exigiria dele, porque a morte entrou no mundo
pelo pecado, e o Deus homem não tendo pecado, não seria obrigado a
morrer.
É fácil também ver que a morte deste homem é maior do que tudo aquilo que há ou pode haver no mundo.
Considera que se alguém te dissesse:
"Se não matares este homem,
perecerá todo este mundo
e tudo o que não é Deus",
perecerá todo este mundo
e tudo o que não é Deus",
deverias matá-lo
para conservar todas as demais criaturas? Não o farias, certamente,
mesmo que te mostrassem um número infinito de criaturas. E se te
dissessem:
"Ou o matas,
ou todos os pecados do mundo
cairão sobre a tua alma"?
ou todos os pecados do mundo
cairão sobre a tua alma"?
Deverias responder
que mais preferirias que caíssem sobre a tua alma todos os pecados não
só deste mundo, como de todos os que existiram e de todos os que
existirão, do que matar a este homem.
Mas por que esta é
a resposta que deverias dar, senão porque a vida deste homem, ou mesmo
uma sua pequena lesão, vale mais do que todos os pecados do mundo? De
onde que se segue que esta vida é mais amável do que são odiáveis todos
os pecados.
Não vês que um bem
tão amável pode ser suficiente para pagar o que é devido pelos pecados
de todo o mundo? Na verdade o pode mais ao infinito.
Vê-se, portanto, como esta vida pode vencer todos os pecados, se por eles for entregue.
Se, porém, o Filho
de Deus oferecer espontaneamente a Deus um dom tão grande assim, não é
justo que fique sem retribuição. Mas o que se lhe dará que como Deus já
não o tivesse, ou o que se lhe perdoará, se nada devia? Antes que o
Filho oferecesse sua vida ao Pai, tudo o que era do Pai também era seu, e
nunca deveu nada que pudesse ter que lhe ser perdoado.
Vê-se, assim, por um lado, a necessidade de ser recompensado,e por outro, a impossibilidade de se o fazer.
Mas se o Filho quisesse o que a si é devido, dá-lo a outrem, poderia o Pai proibir-lhO?
Mas a quem mais
convenientemente atribuiria o fruto e a retribuição de sua morte senão
àqueles por quem se fêz homem para os salvar e aos quais morrendo deu o
exemplo de morrer pela justiça? Inutilmente seriam seus imitadores, se
não pudessem ser partícipes de seus méritos.
Ou a quem mais
justamente faria herdeiros da dívida, da qual ele não necessita, e da
exuberância de sua plenitude, do que aos seus pais e irmãos? Nada mais
racional, nada mais doce, nada mais desejável o mundo jamais poderá
ouvir. É evidente que Deus jamais rejeitará a nenhum homem que dele se
aproxime sob a tutela de seu nome. Verdadeiramente quem sobre este
fundamento edifica, está alicerçado sobre uma rocha firme.
Quem poderá
conceber uma misericórdia maior do que o pecador, condenado ao eterno
tormento, sem ter como redimir-se, ao qual Deus Pai se dirige e lhe diz:
"Aceita o meu Filho Unigênito,
e ele te redimirá?"
e ele te redimirá?"
E o próprio Filho:
"Toma-me contigo,
e redime-te?"
e redime-te?"
Pois é de fato isto o que dizem, quando nos chamam à fé cristã e a ela nos trazem.
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Conferir
https://pt.wikipedia.org/wiki/Prosl%C3%B3gio
https://sumateologica.wordpress.com/2010/12/02/cur-deus-homo/
http://charlezine.com.br/wp-content/uploads/2012/10/07-Santo-Anselmo-e-Abelardo-Cole%C3%A7%C3%A3o-Os-Pensadores-1988.pdf
http://www.e-cristianismo.com.br/teologia/cristologia/por-que-deus-se-fez-homem.html
http://churchsociety.org/docs/churchman/123/Cman_123_2_Saunders.pdf
https://www.stmarys-ca.edu/sites/default/files/attachments/files/Cur_Deus_Homo.pdf
http://www.jasper-hopkins.info/CurDeusI.pdf
"
Conferir
https://pt.wikipedia.org/wiki/Prosl%C3%B3gio
https://sumateologica.wordpress.com/2010/12/02/cur-deus-homo/
http://charlezine.com.br/wp-content/uploads/2012/10/07-Santo-Anselmo-e-Abelardo-Cole%C3%A7%C3%A3o-Os-Pensadores-1988.pdf
http://www.e-cristianismo.com.br/teologia/cristologia/por-que-deus-se-fez-homem.html
http://churchsociety.org/docs/churchman/123/Cman_123_2_Saunders.pdf
https://www.stmarys-ca.edu/sites/default/files/attachments/files/Cur_Deus_Homo.pdf
http://www.jasper-hopkins.info/CurDeusI.pdf
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