quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

ÉPOCA DE 14/11/2011




A Câmara e o mérito religioso

R. R. Soares, Silas Malafaia, Paulo de Tarso Lockman, Dom Murilo Krieger e Valdemiro
No alto, R. R. Soares (à esq.) e Malafaia; Abaixo, da esq. para a dir: Paulo de Tarso Lockman, Dom Murilo Krieger e Valdemiro
A escolha dos homenageados deste ano com a medalha do mérito legislativo, concedida pela Câmara por indicação dos deputados, revela uma luta religiosa dentro do Congresso.  Dos 39 agraciados, sete são pastores, apóstolos ou bispos de várias denominações cristãs. Está na lista o polêmico pastor Silas Malafaia, vice-presidente do pomposo Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil. Indicado pelo deputado Ratinho Junior, na semana passada Malafaia ameaçou “fornicar” o líder da causa gay Tony Reis. Também compõem o grupo os concorrentes diretos de Silas, como o apóstolo Valdemiro Santiago de Oliveira, afilhado do deputado Eduardo da Fonte, o pastor Romildo Ribeiro Soares,conhecido na TV pela marca RR Soares, e escolhido pelo deputado Doutor Grilo, e o bispo Paulo de Tarso Lockman, presidente mundial da igreja metodista, apadrinhado pelo deputado Áureo. Fecha a lista o cardeal de Salvador e primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, indicação de ACM Neto. No ano em que a Congresso discute projetos que permitem o casamento gay, a lista revela uma demonstração de força dos conservadores.
Leonel Rocha

ÉPOCA N° 747 DE 10/09/2012

A Mundial vira municipal


O apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, deve devolver os horários que aluga em redes nacionais de TVs. Sairá da Band, da Rede 21 e da MIX, com que acumula grandes débitos. Valdemiro pretende substituir esses espaços por outros em 380 pequenas emissoras locais. A tarefa de montar a rede municipal da Mundial é conduzida por uma empresa paraense, a SMS.
Felipe Patury
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Um Comentário para “A Mundial vira municipal: Valdemiro Santiago encolhe na TV”

  1. BERNARDO:
    gente a bíblia é clara …haveriam tempos difíceis E a vinda dos falsos profetas..esse VALDOMIRO e sua gente irão queimar no fogo eterno sem passar pelo PURGATÓRIO…maior é NOSSA SENHORA . ILUDINDO O MAIS FRACOS, mas devemos ter discernimento..porque a raça humana é a única espécie o PAI deu cérebro para pensar.

ÉPOCA N° 746 DE 03/09/2012



ENTREVISTA - 09/09/2012 09h00
TAMANHO DO TEXTO

Vsevolod Chaplin: “As integrantes da Pussy Riot cometeram uma blasfêmia”

O arcipreste da Igreja Ortodoxa Russa defende a condenação das garotas da banda e diz que a liberdade de expressão deve ter limites éticos, ligados aos valores morais da sociedade

JOSÉ FUCS
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EM NOME DE DEUS O arcipreste Chaplin, da Igreja Ortodoxa Russa. Ele é um dos líderes da cruzada moralista na Rússia (Foto: Alexey Philippov/RIA Novosti/AFP)

O julgamento das garotas da banda russa Pussy Riot,condenadas a dois anos de prisão por causa de uma performance realizada num templo de Moscou, gerou uma onda de protestos pelo mundo e reforçou a percepção de que a democracia na Rússia se tornou uma quimera. Mais que tudo, talvez, o caso mostrou o poder crescente alcançado pela Igreja Ortodoxa Russa no país. Suas críticas contundentes à manifestação artística das meninas foram decisivas para selar o destino delas nos tribunais. Vinte anos após o fim do comunismo, a Igreja Ortodoxa conseguiu recuperar boa parte da influência que tinha na vida política e na sociedade nos tempos do czarismo. Com trânsito livre junto ao presidente, Vladimir Putin, e ao primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, os ortodoxos têm obtido concessões significativas do governo, em especial em questões morais. Dois exemplos: a aprovação recente de restrições ao aborto, considerado um direito das mulheres na antiga União Soviética, e as seguidas proibições à realização da Parada Gay em Moscou.
À frente dessa cruzada moralista, o arcipreste Vsevolod Chaplin, porta-voz da Igreja Ortodoxa Russa e responsável pelo departamento de relações com a sociedade do Patriarcado de Moscou, joga duro. Recentemente, chegou a dizer que “as mulheres russas se vestem como prostitutas” e a defender a adoção de um código para regular a forma de se vestir na Rússia. Em entrevista a ÉPOCA, o arcipreste – cargo honorífico dado a um sacerdote ortodoxo – afirma que as meninas do Pussy Riot “cometeram uma blasfêmia” e diz que “a liberdade de expressão deve ter limites éticos, ligados aos valores morais da sociedade”. Chaplin fala também sobre a preocupação social da Igreja Ortodoxa na Rússia e sobre sua vinculação com o antigo regime czarista. “É verdade que, nos séculos XVIII e XIX, a igreja era muito envolvida com a máquina do Estado e não tinha liberdade suficiente e recursos intelectuais para atuar de maneira ativa pelas questões sociais.”
ENJAULADAS  Integrantes da banda Pussy Riot num tribunal de Moscou. Na mira dos ortodoxos (Foto: Andrey Stenin/RIA Novosti/AFP)
ÉPOCA – Como o senhor viu a manifestação das meninas do Pussy Riot na Catedral do Cristo Salvador, em Moscou?Vsevolod Chaplin – Elas cometeram uma blasfêmia. Fizeram uma encenação imoral e criticaram o senhor Putin. Mas não foi isso que causou uma reação tão violenta dos que seguem a religião ortodoxa russa. Foi a violação de uma igreja, o uso do nome de Deus em vão, com palavrões de todos os tipos. Sob essa ótica, é até natural que tudo tenha acontecido.
ÉPOCA – A condenação das meninas a uma pena de dois anos de prisão não foi um exagero?
Chaplin –
 Depois da sentença, o Conselho Superior da Igreja Ortodoxa Russa pediu clemência a elas, mas, ao mesmo tempo, disse que a decisão do tribunal deverá impedir ações semelhantes no futuro. Acredito que a decisão do tribunal terá um efeito preventivo, para que essas blasfêmias não se repitam.
ÉPOCA – No Ocidente, muita gente interpretou a prisão e a condenação delas como um sinal de autoritarismo do regime e uma restrição à liberdade de expressão na Rússia. O senhor concorda?
Chaplin –
 A liberdade de expressão deve ter limites éticos, ligados aos valores tradicionais e morais da sociedade. A sociedade ocidental tem sofrido muito por ter removido quase totalmente os limites morais. Ninguém deve ter liberdade para violar uma igreja e associar o nome de Deus a palavras de baixo calão e blasfêmias.
ÉPOCA – Algum tempo atrás, o senhor chegou a defender a proibição nas escolas de livros de grandes escritores, como Lolita, do russo Vladimir Nabokov (1899-1977), publicado em 1955, e Cem anos de solidão, do colombiano Gabriel García Márquez, publicado em 1967. Por quê?
Chaplin –
 A popularização desses romances nas escolas não fará com que nossa sociedade seja mais feliz do ponto de vista moral. Eles romantizam as relações sexuais entre adultos e crianças. A Rússia, hoje, precisa de uma revolução moral – ou uma contrarrevolução, se você preferir.
ÉPOCA – O senhor também já criticou o uso de minissaias e disse que as mulheres russas se vestem e se maquiam como prostitutas...
Chaplin –
 Não somente as mulheres. Os homens também. Um homem que sai por aí de shorts, camiseta e tênis não é digno de respeito. Isso não é uma atitude adequada em nenhuma sociedade que respeita a si mesma e aos outros. A forma de as pessoas se vestirem tem de ser mais bem discutida pela sociedade. Elas não devem ficar meio nuas em público, como costuma acontecer no verão em Moscou. Na Rússia, hoje, a maioria da população apoia a ideia de regular a forma como as pessoas se vestem. No começo dessa discussão, muitos diziam que isso era uma questão fechada e que cada um deve ter a liberdade de se vestir como quiser. Mas essa não é uma questão puramente pessoal. O comportamento das pessoas nos espaços públicos não é um problema só delas. Não seria nada mau se as empresas, as escolas e as universidades tivessem seus próprios códigos de vestimenta.
ÉPOCA – Em relação a questões como o divórcio e o aborto, qual é a posição da Igreja Ortodoxa Russa?
Chaplin – 
Nossa posição é muito próxima da posição do Vaticano. Lamentamos cada divórcio, embora aceitemos a realização de segundo e terceiro casamentos. Ao mesmo tempo, nossa igreja faz o possível para preservar e restaurar as famílias que enfrentam problemas. Agora, se as famílias não existem mais, a igreja dá sua bênção a quem quiser realizar segundo e terceiro casamentos. Em relação ao aborto, negociamos com o governo, especialmente com o Ministério da Saúde, e com parlamentares uma revisão da lei de saúde pública. Algumas de nossas solicitações foram atendidas, como a obrigatoriedade de um período de reflexão antes da realização do aborto. A nova lei obriga a um período de reflexão obrigatório de dois a sete dias entre a mulher se apresentar para fazer o aborto e sua realização propriamente dita, conforme o período de gravidez. Também propusemos que as pílulas anticoncepcionais não sejam vendidas sem uma receita médica. Hoje, elas podem ser compradas até pela internet, sem nenhum controle.
"Pedimos clemência às meninas. Mas, ao mesmo tempo, acreditamos que a decisão do tribunal terá um efeito preventivo, para que essas blasfêmias não se repitam"
ÉPOCA – A que o senhor atribui a força adquirida pela Igreja Ortodoxa Russa hoje?
Chaplin –
 Na era soviética, a vida religiosa não desapareceu por completo. Os comunistas conseguiram se livrar dos empresários, dos latifundiários e dos filósofos não comunistas, mas não conseguiram exterminar a igreja, como a Coreia do Norte e a Albânia. É claro que o espaço da igreja era muito limitado, mas algumas paróquias continuaram funcionando. Elas ficavam superlotadas, em todas as missas. Mesmo os líderes do comunismo batizavam secretamente seus filhos, promoviam cerimônias religiosas e realizavam serviços funerários na igreja. Hoje, não podemos dizer que a maioria absoluta da população esteja envolvida em práticas religiosas. Isso acontece em poucos países. Mas acredito que um número significativo de pessoas na Rússia tem alguma prática religiosa. Uma pesquisa mostrou que cerca de 30% da população ao menos de vez em quando vai à igreja. Isso é muito diferente da situação anterior, mas ainda há muito a fazer nesse aspecto.
ÉPOCA – Qual é o principal desafio da Igreja Ortodoxa Russa hoje?
Chaplin – 
Nosso maior desafio está relacionado à postura ética da sociedade. Nos campos da vida pessoal, da economia, da política, muitas vezes não há nenhum limite ético. Isso está acontecendo porque, por diversas gerações, as pessoas na Rússia foram privadas de qualquer discussão sobre a importância da ética. Eram forçadas a seguir a moralidade comunista. Quando o Estado falhou em implementar a moralidade, muitas passaram a achar que era um vale-tudo. Anos atrás, nossa igreja criou um Conselho especial para lidar com a questão da ética econômica e da justiça social. A diferença hoje entre ricos e pobres é totalmente novo, depois de décadas em que as pessoas viviam com relativa igualdade. É um fenômeno chocante, especialmente para os mais velhos. Na Rússia, não temos muitos lugares em que as pessoas vivem na pobreza absoluta, como em algumas áreas do Brasil, mas até em Moscou temos pessoas que moram em apartamentos modernos, e pessoas vivendo muito modestamente. A diferença de renda é muito séria. É um dos grandes problemas da sociedade, em que a ideia de justiça – em especial de justiça social – está muito viva e é bem compreendida. Outro problema sério é a falta de confiança nos agentes econômicos. Muitos novos-ricos ganharam seu dinheiro de forma criminosa e desonesta, subornando altos funcionários do Estado, que lhes permitiam fazer fortuna rapidamente comprando a preços baixos as gigantescas indústrias soviéticas privatizadas. É claro que as pessoas se lembram de tudo isso e que essa confiança entre as duas partes deve ser restaurada de qualquer forma. Isso significa que os negócios precisam ser socialmente responsáveis, devem provar que trazem benefícios para as pessoas, e não só para alguns empresários.
ÉPOCA – Essa postura social da Igreja Ortodoxa é algo novo. Antes da revolução, a igreja tinha uma estreita relação com a aristocracia, o czar e a família real. Não havia preocupação com as questões sociais...
Chaplin –
 No início do século XX, antes da Revolução Bolchevique, havia muita reflexão social na igreja, havia filantropia religiosa. De certa forma é verdade que, nos séculos XVII a XIX, a igreja era muito envolvida com a máquina do Estado e não tinha liberdade suficiente nem recursos intelectuais para atuar de maneira ativa pelas questões sociais. Agora, os próprios desafios da época atual empurram a igreja para desenvolvimento do pensamento social. Em 2000, o Conselho de Bispos da Igreja na Rússia lançou um livro chamado A essência da doutrina social da Igreja Ortodoxa da Rússia. Trabalhamos nesse documento durante seis anos – eu era secretário do grupo de trabalho. O documento fala de muitas coisas, a igreja e a nação, a igreja e o Estado, economia, política, ética, guerra e paz.
  
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Últimos comentários
  • Alice
    Ridículo.
  • Renata
    Não faz nem um século que a revolução russa destrinchou o estado da igreja, e vejam só: o estado laico não passa de uma mentirinha... sem dúvida que o Putin é o novo czar, até no mandato do Medvedev, quem mandava era ele. O governo e a igreja russa dividem um mesmo ideal: poder
  • Nilson de Simas
    Cognição atrofiada pelo veneno da fé, que seguem o que foi apregoado em LUCAS:19:27: Siga-me e me aceite como único rei ou morra. Também em LEVITICUS 18:22 há uma efusiva demonstração de intolerância, mandando que matem todos os homossexuais, dando assim munição doutrinária para os dementes. NDSIMAS@YAHOO.COM.BR

ÉPOCA



RELIGIÃO - 02/06/2012 14h03
TAMANHO DO TEXTO

Cristofobia

Pouco denunciada, a opressão violenta das minorias cristãs nos países muçulmanos é um problema cada vez mais grave

AYAAN HIRSI ALI

Ayaan Hirsi Ali, de 42 anos, nasceu de uma família muçulmana na Somália e emigrou para a Holanda, onde foi parlamentar. Produziu o filme Submissão (2004), sobre a repressão às mulheres no mundo islâmico. É pesquisadora do American Enterprise Institute


SANGUE DERRAMADO
Cristãos coptas, do Egito, carregam uma imagem de Jesus Cristo manchada de sangue, em ato contra a violência de extremistas islâmicos (Foto: Asmaa Waguih/Reuters)

Ouvimos falar com frequência de muçulmanos como vítimas de abuso no Ocidente e dos manifestantes da Primavera Árabe que lutam contra a tirania. Outra guerra completamente diferente está em curso – uma batalha ignorada, que tem custado milhares de vidas. Cristãos estão sendo mortos no mundo islâmico por causa de sua religião. É um genocídio crescente que deveria provocar um alarme em todo o mundo.
O retrato dos muçulmanos como vítimas ou heróis é, na melhor das hipóteses, parcialmente verdadeiro. Nos últimos anos, a opressão violenta das minorias cristãs tornou-se a norma em países de maioria islâmica, da África Ocidental ao Oriente Médio e do sul da Ásia à Oceania. Em alguns países, o próprio governo e seus agentes queimam igrejas e prendem fiéis. Em outros, grupos rebeldes e justiceiros resolvem o problema com as próprias mãos, assassinando cristãos e expulsando-os de regiões em que suas raízes remontam a séculos.

A mensagem

Para o Ocidente
 A cristofobia gera
muita violência, mas é menos discutida
do
que a islamofobia

Para os agressores 
O
problema deve ser enfrentado com pressões diplomáticas, econômicas e comerciais
  
A reticência da mídia em relação ao assunto tem várias origens. Uma pode ser o medo de provocar mais violência. Outra é, provavelmente, a influência de grupos de lobby, como a Organização da Cooperação Islâmica – uma espécie de Nações Unidas do islamismo, com sede na Arábia Saudita – e o Conselho para Relações Americano-Islâmicas. Na última década, essas e outras entidades similares foram consideravelmente bem-sucedidas em persuadir importantes figuras públicas e jornalistas do Ocidente a achar que todo e qualquer exemplo entendido como discriminação anti-islâmica é expressão de um transtorno chamado “islamofobia” – um termo cujo objetivo é extrair a mesma reprovação moral da xenofobia ou da homofobia.


DOR
Centenas de cristãos egípcios velam as vítimas de um ataque à bomba contra uma igreja em Alexandria, em janeiro de 2011, que deixou 23 mortos
(Foto: Cai Yang/Xinhua Press/Corbis)

Uma avaliação imparcial de eventos recentes leva à conclusão de que a dimensão e a gravidade da islamofobia não são nada em comparação com a cristofobia sangrenta que atravessa atualmente países de maioria muçulmana de uma ponta do globo à outra. A conspiração silenciosa que cerca essa violenta expressão de intolerância religiosa precisa parar. Nada menos que o destino do cristianismo no mundo islâmico – e, em última instância, de todas as minorias religiosas nessa região – está em jogo.
Por causa de leis contra blasfêmia a assassinatos brutais, bombardeios, mutilações e incêndios em lugares sagrados, os cristãos de muitos países vivem com medo. Na Nigéria, muitos sofrem todas essas formas de perseguição. O país tem a maior minoria cristã (40%) em proporção ao número de habitantes (170 milhões) entre todos os países de maioria islâmica. Há anos, muçulmanos e cristãos vivem à beira de uma guerra civil. A Nigéria é o recordista em número de cristãos mortos em ataques violentos nos últimos anos (leia mais abaixo). A mais nova organização radical é o grupo Boko Haram, que significa “educação ocidental é sacrilégio” e tem como objetivo estabelecer a lei islâmica (charia) em toda a Nigéria. Com esse propósito, afirma que matará todos os cristãos do país.

em janeiro, o Boko Haram foi responsável por 54 mortes. Em 2011, seus membros mataram ao menos 510 pessoas e queimaram ou destruíram mais de 350 igrejas em dez Estados da região norte, de maioria muçulmana. Eles usam armas, bombas de gasolina e até facões, gritando “Allahu akbar” (“Deus é grande”) enquanto atacam cidadãos inocentes. Até agora, têm se concentrado em matar clérigos, políticos, estudantes, policiais e soldados cristãos, assim como líderes muçulmanos que condenam suas atitudes.

A cristofobia que infesta o Sudão assume uma forma diferente. O governo autoritário do norte, muçulmano sunita, atormenta há décadas as minorias cristãs e animistas do sul. O que muitas vezes é descrito como guerra civil é, na prática, perseguição constante do governo a minorias religiosas. Essa prática culminou no vergonhoso genocídio de Darfur. O presidente muçulmano do Sudão, Omar al-Bashir, foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional por três acusações de genocídio, mas a violência não terminou. A euforia dos cristãos pela semi-independência que Bashir concedeu ao Sudão do Sul, em julho do ano passado, passou. No Estado do Cordofão do Sul, eles ainda estão sujeitos a bombardeios aéreos, assassinatos, sequestros de crianças e outras atrocidades. A ONU afirma que entre 53 mil e 75 mil civis inocentes foram deslocados de suas casas.



TENSÃO
Cristãos, sudaneses do sul comemoram sua independência do Sudão, de maioria muçulmana, em 2011. A religião é um dos motivos para o conflito que perdura entre os dois países (Foto: Thomas Mukoya/Reuters)

Os dois tipos de perseguição – realizados por grupos extragovernamentais ou por agentes do Estado – aconteceram simultaneamente no Egito pós-Primavera Árabe. Em 9 de outubro do ano passado, na região de Maspero, no Cairo, cristãos coptas marcharam em protesto contra uma onda de ataques muçulmanosincêndios em igrejas, estupros, mutilações e assassinatosque se seguiu à derrubada da ditadura de Hosni Mubarak. Os coptas representam cerca de 10% dos 83 milhões de egípcios. Durante o ato, as forças de segurança avançaram contra a multidão com seus caminhões e atiraram nos manifestantes, matando 24 pessoas e ferindo mais de 300. No fim do ano, mais de 200 mil coptas haviam fugido de suas casas diante da expectativa de mais ataques. Com os muçulmanos no poder após as eleições legislativas, os temores parecem justificados.
O Egito não é o único país árabe que parece empenhado em acabar com a minoria cristã. Desde 2003, mais de 900 cristãos iraquianos (a maioria deles assírios) foram mortos por terroristas somente em Bagdá, e 70 igrejas foram queimadas. Milhares deixaram o país por causa da violência. A consequência foi a queda do número de cristãos para menos de 500 mil pessoas, metade da população registrada há dez anos. A Agência Assíria Internacional de Notícias, compreensivelmente, descreve a situação atual como umgenocídio incipiente ou limpeza étnica dos assírios no Iraque”.


(Foto: AP (2) e Khalid Mohammed/AP)

Os 2,8 milhões de cristãos que moram no Paquistão representam apenas 1,4% da população de mais de 190 milhões. Como membros de um grupo tão pequeno, vivem com medo constante não de terroristas islâmicos, mas também das leis draconianas do Paquistão contra a blasfêmia. Há o famoso caso de uma cristã condenada à morte por supostamente insultar o profeta Maomé. Quando a pressão internacional convenceu o governador do Punjab, Salman Taseer, a tentar encontrar uma forma de libertá-la, ele foi morto por seu segurança, em janeiro de 2011. O guarda-costas foi considerado herói pela maioria dos clérigos muçulmanos preeminentes. Embora tenha sido condenado à morte no fim do ano passado, o juiz que impôs a sentença vive escondido, temendo por sua vida.

Casos como esse não são raros no Paquistão. As leis contra a blasfêmia são comumente usadas por muçulmanos criminosos e intolerantes para perseguir minorias religiosas. O ato de simplesmente declarar crença na Santíssima Trindade é considerado blasfêmia, pois contradiz as principais doutrinas teológicas islâmicas. Quando um grupo cristão é suspeito de desrespeitar essas leis, as consequências podem ser brutais. É perguntar aos membros da entidade assistencial cristã World Vision. Seus escritórios foram atacados em 2010 por dez homens armados com granadas. Seis pessoas morreram e quatro ficaram feridas. Um grupo muçulmano militante assumiu a responsabilidade pelo ataque, sob a justificativa de que a World Vision estava tentando subverter o islã – na verdade, estava ajudando os sobreviventes de um grande terremoto.

Nem mesmo a Indonésia, muitas vezes retratada como o país de maioria muçulmana mais tolerante, democrático e moderno do mundo, está imune às ondas de cristofobia. Segundo dados divulgados pelo jornal americano The Christian Post, o número de incidentes violentos cometidos contra minorias religiosas (7% da população, dos quais a maioria é cristã) aumentou quase 40% entre 2010 e 2011.

A litania de sofrimentos pode ser ampliada. No Irã, dezenas de cristãos foram presos por ousar fazer cultos fora do sistema de igrejas sancionado pelo governo. A Arábia Saudita merece ser colocada numa categoria própria. Apesar de mais de 1 milhão de cristãos morarem no país como trabalhadores estrangeiros, igrejas e até a prática privada de oração cristã são proibidas; para impor essas restrições totalitárias, a polícia religiosa frequentemente invade casas de cristãos e os acusa de blasfêmia em tribunais onde o testemunho deles tem menos importância jurídica que o de um muçulmano. Mesmo na Etiópia, onde os cristãos são maioria, igrejas incendiadas por membros da minoria muçulmana tornaram-se um problema grave.

Deveria ficar claro, a partir desse catálogo de atrocidades, que a violência contra os cristãos é um problema importante e pouco denunciado. Não, a violência não é planejada centralmente ou coordenada por alguma agência islâmica internacional. Nesse sentido, a guerra mundial contra os cristãos não é nem um pouco uma guerra tradicional. É uma expressão espontânea de uma animosidade anticristã por parte dos muçulmanos que transcende cultura, região e etnia.

Nina Shea, diretora do Centro pela Liberdade Religiosa do Instituto Hudson, de Washington, disse numa entrevista para a revista Newsweek que as minorias cristãs em muitos países de maioria muçulmana “perderam a proteção de suas sociedades”. Isso é especialmente verdade em países com movimentos islâmicos radicais em ascensão. Nesses lugares, justiceiros muitas vezes sentem que podem agir com impunidade, e a falta de ação do governo frequentemente comprova isso. A antiga ideia dos turcos otomanos de que não muçulmanos em sociedades muçulmanas merecem proteção (ainda que como cidadãos de segunda classe) praticamente desapareceu em grandes porções do mundo islâmico. O resultado é derramamento de sangue e opressão.

Vamos, por favor, estabelecer prioridades. Sim, governos ocidentais devem proteger minorias islâmicas da intolerância. E é claro que devemos nos certificar de que eles possam cultuar, viver e trabalhar livremente e sem medo. A proteção da liberdade de consciência e expressão distingue sociedades livres das não livres. Mas também precisamos manter a perspectiva em relação à escala e à gravidade da intolerância. Desenhos, filmes e textos são uma coisa; facas, armas e granadas são outra totalmente diferente.

Sobre o que o Ocidente pode fazer para ajudar as minorias religiosas em sociedades de maioria muçulmana, minha resposta é: precisamos começar a usar os bilhões de dólares doados para ajuda aos países agressores como poder de barganha. E há ainda o comércio e os investimentos. Além da pressão diplomática, as doações e relações comerciais podem e devem depender do compromisso com o respeito à liberdade de consciência e ao culto para todos os cidadãos. Em vez de acreditar em histórias exageradas de islamofobia ocidental, é hora de tomar uma posição real contra a cristofobia que contamina o mundo muçulmano. A tolerância é para todosexceto para os intolerantes.