terça-feira, 16 de julho de 2013

A revelação básica nas Escrituras Sagradas, de Witness Lee - Capítulo 3

Capítulo Três

A APLICAÇÃO DO ESPÍRITO

Leitura da Bíblia: Gn 1:2; Jz 3:10; Lc 1:35; Jo 7:39; At 16:6, 7; Rm 8:2, 9; Fp 1:19; 1 Co 15:45; 2 Co 3:6, 17, 18; Ap 1:4; 4:5; 5:6; 2:7; 14:13; 22:17; Jo 14:17; 15:26; 16:13-15; 1 Jo 5:7; Jo 3:5, 6; 2 Co 1:21, 22; Ef 1:13; 4:30; 1 Pe 1:2; Rm 15:16; 1 Co 12:13

Oração: "Senhor, como Te agradecemos pela Tua pala­vra. Agradecemos-Te por esta reunião. Cremos que é de Tua soberania. Senhor, podemos vir a Ti em torno de Tua palavra. Que misericórdia e graça! Confiamos em Ti para entender a Tua palavra. Admitimos nossa insuficiência. Somos limitados — limitados no entendimento, limitados na elocução, até mesmo limitados no ouvir. Unge nosso ouvido e nossa mente. Unge a boca que fala. Que Tu possas falar em nosso falar. Gostamos de praticar ser um espírito Contigo, especialmente nesta hora de falar a Tua palavra. Senhor, purifica-nos com o Teu precioso sangue. Como Te louvamos porque, onde o Teu sangue está, ali está a rica unção. Confiamos em Tua unção. Buscamos a Ti desesperadamente por tal palavra misteriosa hoje a noite. Senhor, derrota o inimigo e afugenta todas as trevas deste salão. Visita cada ouvinte. Nós pedimos em Teu poderoso nome. Amém."
Já tratamos dos dois primeiros itens da revelação básica nas Escrituras Sagradas — o plano de Deus e a redenção de Cristo. Neste capítulo chegamos ao terceiro item — a aplicação do Espírito. Este é o item mais misterioso na revelação divina.
Podemos usar a impressão como uma ilustração da aplicação do Espírito. Na impressão existe primeiro o rascu­nho, o manuscrito. Este manuscrito é então datilografado numa página, da qual se faz uma matriz. Em seguida, a impressora, usando a matriz, produz quantas cópias desejarmos. Este último estágio, a produção de cópias, ilustra a aplicação do Espírito.
Cristo fez uma grande obra de "datilografia" do que Deus propôs em Seu plano. Ele encarnou-se e viveu na terra por trinta e três anos e meio. Então morreu na cruz, ressus­citou e ascendeu aos céus. Por meio de tal processo longo, da encarnação à ascensão, o Senhor Jesus fez a maravilhosa obra de "datilografia". Essa obra produziu uma "matriz". Agora o Espírito vem e aplica a nós o que Cristo fez. O Pai planejou, o Filho cumpriu e o Espírito veio para aplicar o que Cristo cumpriu de acordo com o plano do Pai.
Para que seja nítida a impressão, deve ser usado papel limpo. É por isso que a primeira coisa que o Espírito aplica a nós é o purificar do sangue precioso do Senhor Jesus (Hb 9:14). O Espírito nos purifica com o sangue redentor de Cris­to. Por meio do precioso sangue, fomos lavados e purificados. Agora somos papel puro, limpo, bom para essa impressão espiritual.


O ESPÍRITO POR TODA A ESCRITURA
Para entender a obra do Espírito em aplicar as realizações de Cristo, consideremos como o Espírito é gradualmente revelado por toda a Escritura.

O Espírito de Deus
A primeira vez que o Espírito de Deus é mencionado é em Gênesis 1:2. Este é Deus Espírito em Sua criação. O Espírito de Deus pairou por sobre as águas mortas para a criação de Deus.

O Espírito de Jeová
Depois de criar o homem, Deus permaneceu intima­mente envolvido com ele. Em seu relacionamento com o homem, o título de Deus é Jeová. É por isso que no Velho
Testamento o Espírito de Deus é freqüentemente chamado de Espírito de Jeová. O Espírito de Jeová vinha sobre certas pessoas. Isso indica que o Espírito de Jeová tem a ver com Deus alcançando o homem (Jz 3:10; Ez 11:5). Os principais títulos usados para o Espírito de Deus no Velho Testamento são o Espírito de Deus e o Espírito de Jeová.
O Espírito Santo
Na encarnação, o Espírito de Deus foi chamado o Espírito Santo (Mt 1:18, 20; Lc 1:35). Andrew Murray, em sua obra prima O Espírito de Cristo, salienta que o título divino, "o Espírito Santo" não é usado no Velho Testamento. Em Salmos 51:11 e em Isaías 63:10,11 "Espírito Santo" deveria ser traduzido para "Espírito de santidade". Quando chegou o tempo de preparar o caminho para a vinda de Cristo e de preparar um corpo humano para Ele iniciar a dispensação do Novo Testamento, é que o termo "Espírito Santo" começou a ser usado (Lc 1:15, 35).

O Espírito Ainda Não Sendo
Agora chegamos a um ponto muito difícil. Em João 7:37, 38 o Senhor Jesus exclamou: "Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva." Em seguida, no versículo 39, João explica que o Senhor falou isto "com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não era (lit.), porque Jesus não havia sido ainda glorificado." João não diz o Espírito de Deus, o Espírito de Jeová, ou o Espírito Santo, mas "o Espírito". Ele diz mais adiante que quando Jesus estava ex­clamando ao povo, "o Espírito ainda não era". A versão J. E de Almeida diz, "o Espírito ainda não fora dado" (VRC), mas a palavra "dado" foi inserida; ela não está no texto grego. O Espírito de Deus estava em Gênesis 1, e o Espírito de Jeová vinha sobre os profetas no Velho Testamento. Por que, então, em João 7 o Espírito "ainda não era"?
Andrew Murray em seu livro O Espírito de Cristo indica que, antes da glorificação de Cristo, isto é, antes da Sua ressurreição (Lc 24:26), o Espírito de Deus tinha somente divindade. Mas quando Cristo foi ressuscitado , o Espírito de Deus tornou-se o Espírito do Jesus glorificado. Se Ele ainda fosse somente o Espírito de Deus, teria somente o elemento divino. A palavra de Murray quer dizer que o Espírito, ao tornar-se o Espírito de Jesus glorificado que veio após a ressurreição de Cristo, tem agora o elemento de huma­nidade.

O Espírito Composto
Quando jovem, fui ensinado que em Êxodo 30:22-30, o óleo da unção é um tipo do Espírito Santo. Mas depois de ter recebido esclarecimento pelo livro de Andrew Murray, voltei a estudar Êxodo 30. Esse óleo é composto de azeite de oliveira combinado com 4 especiarias: mirra, cinamomo, cálamo e cássia. O azeite de oliveira é um tipo do Espírito Santo, mas que são as quatro especiarias? Sabe-se que a mirra refere-se à morte de Cristo. Cinamomo deve indicar a doce eficácia daquela morte. Cálamo é um junco que cresce no pântano e projeta-se alto, no ar. Isso indica ressurreição. Cássia era usada nos tempos antigos como um repelente de insetos e especialmente de serpentes. Isso indica o poder da ressurreição de Cristo que prevalece contra Satanás.
Essas quatro especiarias são de três unidades. Mirra, quinhentos siclos. Cinamomo e cálamo, duzentos e cinqüenta siclos cada, e cássia, quinhentos siclos. Se o cordeiro é um tipo de Cristo e se o azeite de oliveira é um tipo do Espírito Santo, certamente essas quatro especiarias são também tipos a respeito de Cristo. As três unidades de quinhentos siclos cada devem referir-se à Trindade. A quantidade total de cinamomo e cálamo, sendo dividida em duas unidades de duzentos e cinqüenta cada, tipifica o segundo da Trindade "dividido" na cruz, assim como o véu foi rasgado de alto a baixo.
O número "um" do um him de azeite de oliveira significa o Deus único. O número quatro das quatro especiarias significa a criatura. Em Ezequiel e em Apocalipse há quatro seres viventes, referindo-se à criação de Deus (Ez 1:5, 10; Ap 4:6-9).
Por meio disso podemos perceber que esse óleo com­posto deve ser um tipo todo-inclusivo do Espírito composto referido em João 7:39. Isso quer dizer que o Espírito de Deus, como o elemento básico, foi combinado com a deidade, humanidade, morte e ressurreição de Cristo como as especiarias. Neste Espírito composto estão o Deus único, a Trindade, o homem, a criatura, a morte de Cristo, a doçura e eficácia de Sua morte, a ressurreição de Cristo e o poder de Sua ressurreição.
O Espírito era primeiramente o Espírito de Deus, pos­suindo somente a essência divina. Mas depois que Deus, no Filho, tornou-se um homem e morreu na cruz, passando pela morte e ressurreição, e entrando na ascensão, o Espírito tor­nou-se o Espírito de Jesus Cristo (Fp 1:19), composto da essência de Deus e da humanidade de Jesus em Sua morte e ressurreição. O Espírito não tem mais somente a essência divina, mas tem agora, em acréscimo, a humanidade de Jesus com a morte de Cristo, a eficácia de Sua morte, a ressurreição e o poder de Sua ressurreição.
Dos escritos sobre a vida interior, recebi ajuda em saber que fui crucificado antes de eu ter nascido (Gl 2:19b, 20). Aos olhos de Deus fomos crucificados antes de termos nas­cido. Como escolhidos de Deus, nascemos crucificados. A senhora Jesse Penn Lewis disse que todo cristão deve morrer para viver (Jo 12:24; 1 Co 15:31; 2 Co 4:11). Mas minha experiência foi que, quanto mais eu tentava morrer, mais vivo ficava. Um hino escrito por A. B. Simpson diz que existe uma pequena palavra que o Senhor deu: considerar. De acordo com Romanos 6:11, devemos considerar-nos mortos. Prati­quei o considerar-me, mas não funcionou. Quanto mais me considerava morto, mais vivo parecia! No livro de Watchman Nee, A Vida Cristã Normal, existe um capítulo que enfatiza o considerar. Esse livro é uma compilação de mensagens que o irmão Nee deu antes de 1939. Depois de 1939 ele começou a dizer às pessoas que não podemos experimentar a morte de Cristo revelada em Romanos 6 até que tenhamos a experiência do Espírito de Cristo em Romanos 8. A morte de Cristo em Romanos 6 pode ser experimentada somente por meio de Seu Espírito em Romanos 8. Em outras palavras, se não estamos no Espírito, considerar que estamos mortos não funciona.
Cristo é Cristo, e você é você; e a morte Dele não é sua morte a menos que você esteja ligado a Ele organicamente por meio do Espírito. No Espírito composto existem os elementos da morte de Cristo e de sua eficácia, prefigurados pela mirra e cinamomo. Quando estamos no Espírito, o Espírito composto, não necessitamos considerar-nos mortos, porque no Espírito existe o elemento da morte de Cristo.
Alguns medicamentos têm elementos que matam ger­mes. Se você tentar matar os germes por si mesmo, fracassará. Mas se toma um medicamento prescrito, um elemento naquele medicamento matará os germes por você. O Espírito composto hoje é uma dose todo-inclusiva. Um médico lhe dirá que a melhor dose é aquela que mata os ger­mes e nutre o paciente. Isso pode ser usado como uma ilustração do Espírito composto. No Espírito composto exis­tem a morte de Cristo, que é o poder que mata, e a ressurreição de Cristo, que é a fonte de nutrição da vida divina. Esses elementos que matam e que nutrem estão com­binados juntamente neste Espírito.

O Espírito de Jesus
O Espírito Santo é chamado de Espírito de Jesus em Atos 16:6, 7. Jesus era um homem que sofria perseguição. Como um evangelista, Paulo saía para pregar, e ele também sofria. Naquele sofrimento ele precisava do Espírito de Jesus porque no Espírito de Jesus há o elemento do sofrimento. Se vai a um país pagão para pregar o evangelho, você precisa do Espírito de Jesus para enfrentar a oposição e perseguição. A força do sofrimento para resistir à perseguição está no Espírito de Jesus.

O Espírito de Cristo
Em Atos 16, por causa da perseguição, Paulo precisou do Espírito de Jesus, mas em Romanos 8 em ressurreição há o Espírito de Cristo. Em Romanos 8:9,10 temos três títulos: o Espírito de Deus, o Espírito de Cristo, e Cristo. Estes três títulos são usados permutavelmente. Isso indica que o Espírito de Deus é o Espírito de Cristo, e o Espírito de Cristo é simplesmente o próprio Cristo. Estes três títulos são sinônimos. O Espírito Santo de Deus é não somente o Espírito de Deus, mas também o Espírito de Jesus que sofreu e o Espírito do Cristo ressurreto. Contanto que tenhamos tal Espírito, temos o poder do sofrimento para enfrentar a perseguição e o poder de ressurreição para viver uma vida ressurreta sobre o pecado e a morte (Rm 8:2).

O Espírito de Jesus Cristo
Em Filipenses 1:19 Paulo refere-se à "provisão do Espírito de Jesus Cristo". O suprimento abundante está com o Espírito de Jesus Cristo. Este Espírito guiou Jesus pela encarnação e por meio do viver humano na terra por trinta e três anos e meio. O Senhor Jesus viveu uma vida santa e sem pecado por muitos anos por meio do Espírito dentro Dele. O mesmo Espírito guiou Jesus por meio da morte e para dentro da ressurreição. Então o Espírito de Deus tornou-se o Espírito de Jesus Cristo. Por tal longo processo, os elementos da humanidade, do sofrimento e do viver humano, da crucificação de Cristo, de Sua ressurreição e mesmo de Sua ascensão foram totalmente combinados com este Espírito.
O Espírito que recebemos não é meramente o Espírito de Deus, possuindo somente o elemento divino. O Espírito que nós, cristãos, recebemos é o Espírito composto de divin­dade, humanidade, viver humano, sofrimento, crucificação, ressurreição e ascensão. Deus está no Espírito. A humanidade elevada de Jesus e Seu sofrer e viver humano também estão no Espírito. A morte, ressurreição e ascensão de Cristo estão todos neste Espírito. Deste modo, com este
Espírito está o suprimento abundante. Paulo pôde suportar perseguição e aprisionamento por causa do suprimento abundante do Espírito de Jesus Cristo. Esta provisão tornou-se sua salvação diária e pessoal. Mesmo acorrentado e em prisão ele ainda engrandecia Cristo e vivia Cristo (Fp 1:19-21a). Ele engrandecia Cristo, não por sua energia ou por sua própria força, mas pelo suprimento abundante do Espírito de Jesus Cristo.

O Espírito do Senhor
"O Espírito do Senhor" (2 Co 3:17) indica que a ascensão de Cristo está incluída no Espírito. "O Senhor" neste versículo refere-se ao Cristo crucificado, ressurreto e ascendido. Na Sua exaltação Ele foi feito Senhor (At 2:36).
Em 2 Coríntios 3:17 diz: "O Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade." Primeiramente, ele nos mostra que os dois são um, e, em segundo lugar, mostra que os dois ainda são dois. Da mesma forma, em João 1:1 diz: "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus" (lit.). A palavra e Deus são um, todavia a Palavra estava com Deus, o que indica que Eles são dois.


O Espírito Idêntico ao Senhor
O Espírito é idêntico ao Senhor. No passado, o termo Cristo pneumático era usado em Cristologia. O Cristo pneumáíico indica que o próprio Cristo é o Espírito. Entretanto, não pensem que quando a Bíblia diz que o Se­nhor é o Espírito ela anula a distinção entre o Filho e o Espírito. Eles são um, todavia ainda dois. Eles são um, todavia ainda distintos.
Toda verdade na Bíblia tem dois lados. Com respeito ao Deus Triúno, se vocês permanecem no extremo do lado de um, vocês são modalistas. Se permanecem no extremo do lado de três, vocês são triteístas. Nós permanecemos na Palavra, desse modo não somos nem triteístas nem modalistas. Cremos na Trindade genuína, que Deus é três-um. Deus é unicamente um, todavia Sua deidade é da Trindade. A palavra triúno vem do latim. Tri significa três; uno significa um. Assim, triúno quer dizer três-um.
Em João 14:23 o Senhor Jesus nos diz que quem quer que O ame, Ele e o Pai virão a este e farão nele morada. Também, em João 14:17 o Senhor Jesus nos diz que o Espírito como o Espírito da realidade virá para habitar nos crentes. Assim, no mesmo capítulo nos é dito que o Pai e o Filho farão morada com aquele que O ama e que o Espírito habita naquele que O ama. Isso nos mostra que os três estão nos crentes simultaneamente. O Deus Triúno está em nós. Isso é um mistério, mas pela nossa experiência sabemos que isso é assim.
Em Mateus 28:19 o Senhor Jesus diz: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-as para dentro do nome (singular) do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (lit.). A mesma preposição grega "para dentro" é usada em Romanos 6:3. Quando fomos batizados para dentro de Cris­to, fomos batizados para dentro de Sua morte. Mateus 28:19 nos incumbe batizar os novos crentes para dentro do nome do Deus Triúno. M. R. Vincent diz: "Batizar para dentro do nome da Trindade Santa implica numa união espiritual e mística com ele." Ele mais tarde diz que o nome "é equivalente a sua pessoa". Ser batizado para dentro do nome divino é ser imerso na Pessoa divina.
Uma nota na Bíblia Anotada de Scofield diz : "Pai, Filho e Espírito Santo é o nome final do Deus único e verdadeiro." Algumas traduções não têm "do" três vezes, somente o nome do Pai e Filho e Espírito Santo. O nosso Deus é Triúno: o Pai o Filho e o Espírito. Entretanto, tal título, tal nome só foi revelado depois da ressurreição de Jesus. Mateus 28:19 foi falado depois da ressurreição do Jesus glorificado. Isso foi revelado depois que o processo de nosso Salvador desde a encarnação até a ressurreição foi completado.
Antes da ressurreição de Cristo, tal Espírito, o Espírito composto, ainda não era (Jo 7:39). Mas depois de Sua ressurreição o Espírito de Deus foi composto, e Ele é agora o
Espírito composto, processado, todo-inclusivo. Este Espírito composto, que é idêntico ao Senhor, é, como revelado em 2 Coríntios 3, o Espírito que dá vida, que libera e que transfor­ma, que nos dá a vida divina (v. 6), liberta-nos da escravidão da lei (v. 17), e nos transforma à imagem de Cristo de glória em glória (v. 18).

O Espírito que Dá Vida
Paulo diz que o último Adão, por meio de Sua ressurreição e em Sua ressurreição, tornou-se Espírito que dá vida (1 Co 15:45 - lit.). Ele tornou-se não somente Espírito, mas especificamente Espírito que dá vida. "Que dá vida" mostra que tipo de Espírito Ele é. Em 2 Coríntios 3:6 Paulo diz que o Espírito dá vida. João 6:63 diz: "O Espírito é o que vivifica". A Nova Tradução de Darby* tem um parêntese do versículo 7 ao versículo 16 de 2 Coríntios 3. Se considerarmos esta seção parentética, o versículo 17 continua o versículo 6. O Espírito dá vida (v. 6) e o Senhor é o Espírito (v. 17).
Muitos escritores concordam que nas Epístolas de Paulo o Cristo ressurreto é idêntico ao Espírito. Entretanto, isso não anula a distinção entre Cristo e o Espírito. Existe sempre dois lados para a verdade. Em 2 Coríntios 3:17 o Senhor e o Espírito são um. Em 2 Coríntios 13:13 temos a graça de Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo. Pode-se ver aqui que Cristo e o Espírito são distintos.

O Espírito Da Vida
A Primeira Epístola aos Coríntios 15:45 refere-se a Cris­to como o Espírito que dá vida. Certamente não pode haver dois Espíritos que dão vida. Cristo, o Espírito que dá vida, é também o Espírito da vida. Este termo é revelado em Romanos 8:2. Romanos 8 fala do Espírito da vida (v. 2), o Espírito de Deus (v. 9) e o Espírito de Cristo (v. 9) que é o próprio Cristo (v. 10). Fala-se no mesmo capítulo do Espírito como as primícias (v. 23).

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*N. do T.: Versão em inglês.


Os Sete Espíritos de Deus
No último livro da Bíblia, os sete Espíritos de Deus são revelados (Ap 1:4; 4:5; 5:6). O Credo de Nicéia não men­ciona os sete Espíritos. Em 325 d.C, quando o Credo de Nicéia foi feito, o livro de Apocalipse não era reconhecido como parte da Bíblia. O reconhecimento final dos livros a serem incluídos na Bíblia ocorreu em 397 d.C. no Concilio de Cartago.
Também, em Apocalipse 1, a seqüência da Trindade é mudada. Mateus 28 nos mostra o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Em Apocalipse 1:4,5, entretanto, o Pai como o Eterno é o primeiro, os sete Espíritos são o segundo e o Filho é o terceiro.
Mais além, Apocalipse 5:6 diz que os sete Espíritos são os sete olhos do Cordeiro. Isso quer dizer que o terceiro da Trindade é os olhos do segundo.
Todos esses pontos indicam que no último livro da revelação divina o Espírito de Deus, para a edificação das igrejas numa era de trevas, torna-se o Espírito sete vezes in­tensificado, que executa a administração universal de Deus para o cumprimento do Seu eterno propósito, e expressa ple­namente a Cristo como o Administrador universal de Deus, para introduzir o reino de Deus no milênio (Ap 20:4, 6) e para levar o reino à sua consumação final e máxima como a nova Jerusalém no novo céu e nova terra (Ap 21:1, 2).

O Espírito
Esse Espírito maravilhoso finalmente torna-se tão simples no título: o Espírito (Ap 2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22; 14:13; 22:17). Em Apocalipse temos os sete Espíritos e o Espírito. Nas sete epístolas às igrejas em Apocalipse, o início de cada epístola refere-se ao Senhor Jesus como Aquele que escreve para a igreja em certo lugar. Então, no final de cada uma nos é dito para ouvir "o que o Espírito diz". Apocalipse 22:17 diz: "O Espírito e a noiva dizem: Vem".
O Espírito é composto, processado e todo-inclusivo. Ele é a consumação do Deus Triúno alcançando Seu povo esco­lhido. De acordo com João 4:24, nosso Deus é Espírito. Não somente o Espírito da Trindade é Espírito, mas o Deus com­pleto — o Pai, o Filho e o Espírito — é Espírito. Deus é Espírito, e esse Deus inclui o Pai, Filho e Espírito.
João nos diz que quando o Filho veio, Ele veio em nome do Pai (Jo 5:43). Então o Pai mandou o Espírito no nome do Filho (14:26). O Filho veio no nome do Pai; isso quer dizer que Ele veio como o Pai. Então o Espírito veio no nome do Filho; isso quer dizer que o Espírito veio como o Filho. O Filho enviou o Espírito a nós de e com o Pai, e o Espírito veio a nós de e com o Pai (Jo 15:26 - lit.). Quando o Espírito veio, o Filho estava lá e o Pai também estava. O Filho estava no Pai, e o Pai estava no Filho (14:10). Quando o Filho es­tava lá, o Pai estava lá. Todos os três estavam lá porque Eles são um único Deus. Você não pode separá-Los; todavia, Eles são distintos como o Pai, o Filho e o Espírito.


A FUNÇÃO DO ESPÍRITO
O Espírito é a realidade de Cristo (Jo 14:17; 15:26; 1 Jo 5:7). Quando invocamos o nome do Senhor Jesus, recebemos o Espírito como a realidade de Cristo (Jo 14:17), e esse Cristo, o Filho de Deus, é a própria corporificação do Pai (Cl 2:9). O Pai é corporifícado no Filho, e o Filho é plenamente per­cebido como o Espírito. Colossences 2:9 diz que a plenitude da deidade (divindade) habita em Cristo corporalmente. Cris­to, então, é a corporificação de Deus, plenamente percebido como o Espírito. Isto é revelado em João 16:13-15.
O Espírito dá vida aos crentes (1 Co 15:45 ; 2 Co 3:6) e os regenera em seu espírito (Jo 3:5, 6). Ele unge os crentes (2 Co 1:21), os sela (Ef 1:13; 4:30; 2 Co 1:22a), e Ele próprio é o penhor de Deus dado a eles (2 Co 1:22b). Por meio deste ungir, que traz o elemento divino para dentro dos crentes, Ele os preenche. O selar modela o elemento numa certa forma como uma impressão e torna-se uma marca. O penhor significa que Ele é a garantia de que Deus é a nossa herança. Por um lado, selar prova que nós somos a herança de Deus; por outro lado, Deus como nossa herança para nosso desfrute é também garantido por meio do Espírito que habita interiormente como o penhor.
Ele é também o suprimento abundante para os crentes (Fp 1:19 ). Ele nos santifica, não só posicionalmente, mas disposicionalmente (1 Pe 1:2; Rm 15:16) e experimentalmente também. Ele transforma os crentes (2 Co 3:18).
Todos os crentes foram batizados neste único Espírito para dentro de um único Corpo (1 Co 12:13). No dia de Pentecoste, e na casa de Cornélio, quando Cristo, o Filho, o ascendido, derramou o Espírito sobre os crentes, aquilo foi o batizar do Seu Corpo para dentro do Espírito. Em 1 Coríntios 12:13 diz que fomos todos batizados em um Espírito para dentro de um Corpo. Cristo completou esse batismo assim como completou Sua crucificação. Todos os que crêem foram crucificados (Gl 2:19b, 20). No mesmo princípio, todos nós fomos batizados no dia de Pentecoste. Fomos batizados e nos foi dado a beber desse único Espírito (1 Co 12:13). Agora estamos bebendo deste Espírito. Ser batizado é exterior; beber é interior. Exteriormente fomos batizados; inte­riormente estamos bebendo do único Espírito.
Com a ascensão do Senhor aos céus e o derramar do Espírito, toda a operação do Deus Triuno foi completada. O Pai planejou com o Filho e o Espírito, e o Filho veio com o Pai e o Espírito para cumprir o que Deus havia planejado. Finalmente, o Espírito veio com o Pai e o Filho para aplicar o que o Pai havia planejado e o que o Filho havia cumprido. Este Espírito que aplica é a consumação do Deus Triuno. Ele não é somente por Si mesmo como um Espírito separado, nada tendo a ver com o Pai e não relacionado ao Filho; Ele é a consumação do Deus Triuno, a consumação da Trindade divina, para nos alcançar.
O alcançar do Espírito a nós tem dois aspectos: o aspec­to interior e exterior. O interior foi cumprido no dia da ressurreição. Naquele dia o Senhor ressurreto voltou para os
Seus discípulos e soprou-se para dentro deles (Jo 20:22). Isso foi totalmente para vida, a vida interior.
Cinqüenta dias mais tarde, no Pentecoste, Ele derramou o Espirito sobre os discípulos como um vento poderoso (At 2:1, 2). Sopro é para vida, mas vento é para poder. No Pen­tecoste, os discípulos foram revestidos com poder do alto (Lc 24:49). O revestir do Espírito é como o vestir de um uniforme. O uniforme dá, a quem o veste, poder, autoridade. Um policial com um uniforme tem autoridade para nos parar. Se ele não tivesse um uniforme, não o ouviríamos. O Espírito como nossa vida, o Espírito que dá vida, a saber, o Espírito da vida, é também o Espírito fora de nós, derramado sobre nós como o Espírito de poder do alto. Tudo isso já foi cumprido.


A CONSUMAÇÃO DO DEUS TRIÚNO
Este Espírito composto, processado, todo-inclusivo é a consumação do Deus Triúno. Tudo o que Ele planejou, tudo o que Ele realizou, tudo o que Ele irá aplicar a nós está total­mente envolvido neste Espírito composto. A divindade está envolvida Nele; a humanidade de Cristo também está envol­vida Nele. A Sua morte — Sua morte redentora e infusora de vida — está envolvida Nele. A Sua ressurreição e Sua ascensão estão envolvidas nesse único Espírito composto que nos alcança. Interiormente Ele é nossa luz e vida; exterior­mente Ele é nosso poder.


O ESPÍRITO E A PALAVRA
Deus nos deu dois grandes dons — o Espírito e a Pala­vra. O Espírito composto é a totalidade do Deus Triúno e de todos os Seus feitos. É por isso que digo que esse Espírito composto, incluindo Sua Palavra, é a consumação final e máxima do Deus Triúno alcançando-nos. A Pessoa divina e a Palavra divina estão envolvidas neste único Espírito compos­to. Todas as bênçãos , todas as heranças do Novo Testamento foram legadas aos filhos de Deus. Estes legados estão também envolvidos neste único Espírito composto.
Dois versículos no Novo Testamento indicam que o Espírito e a Palavra são um. Em João 6:63 o Senhor diz : "As palavras que eu vos tenho dito, são espírito". Também, Efésios 6:17 refere-se à espada do Espírito, cujo Espírito é a palavra de Deus. Não somente a palavra do Senhor é o Espírito; o Espírito também é a Palavra.
É por isso que em Romanos 10 Paulo diz que quando você ouve a pregação do evangelho, a palavra está perto de você, em sua boca e em seu coração (v. 8). Por muitos anos não podia entender o que Paulo queria dizer. Como poderia a palavra estar em minha boca e em meu coração? Final­mente o Senhor me mostrou que sempre que o Novo Testamento é ensinado, pregado, lido, ou estudado por alguém com um coração sincero, o Espírito trabalha com a Palavra. Por meio do Espírito a Palavra entra em sua boca. Por meio do Espírito a Palavra entra em seu coração. Sem o Espírito, a palavra impressa não poderia entrar em sua boca e em seu coração. Quando exercita seu espírito para orar sobre um versículo da Bíblia, aquele versículo entra em sua boca e em seu coração. Você não deveria ler a Bíblia sem orar. Você tem de ler a Bíblia, a Palavra santa, devotadamente. Não deveria meramente exercitar sua mente para estudar a Pala­vra. Você deve ir à Palavra com oração. Não precisa usar sua próprias palavras; ore a Palavra.
Todos nós sabemos que quando oramos dessa maneira, a palavra na página entra em nossa boca e em nosso coração. Somos regados, recebemos iluminação, nutrição, for­talecimento, conforto e suprimento de vida. Também o Espírito é aplicado a nós como a consumação do Deus Triúno.
O Espírito e a Palavra trabalham juntos. Devemos sempre tocar a Bíblia por tocar o Espírito. Devemos orar lendo, e ler orando. Então desfrutaremos o Deus Triúno. O nosso encargo não é discutir ou debater, mas apresentar a verdade básica ao povo de Deus para que ele possa conhecer que nosso Deus é na realidade o Deus Triúno, não para en­tendermos, mas para desfrutarmos. Estamos apresentando a verdade para ajudar os santos a conhecer que nosso Deus é Triúno para participarmos Dele, desfrutá-Lo e experimentá-Lo.


O ESPÍRITO HUMANO
Também enfatizamos o espírito humano (Zc 12:1; Pv 20:27; Rm 8:16; 2 Tm 4:22). Assim como para o nosso alimento temos uma boca e um estômago, temos também um espírito humano, que é nossa boca espiritual e estômago espiritual. Em um rádio, o receptor é crucial. Podemos ter um rádio bem feito e bonito, mas se ele não tiver um recep­tor, ele é vazio. Somos um "rádio" para receber as riquezas divinas para dentro do "receptor" em nosso interior — nosso espírito humano.
Enfatizamos fortemente esses dois espíritos, o Espírito composto da Trindade e o espírito humano dentro de nós, porque o Espírito composto é a consumação do Deus Triúno alcançando-nos para nosso desfrute, e o espírito humano é o único meio para recebermos tal rico Espírito composto, para que possamos desfrutar as riquezas do Deus Triúno e experimentá-Lo diariamente, até mesmo em toda hora. Es­tamos aqui como um testemunho para que todo o povo de Deus hoje possa ter uma visão clara concernente à Trindade divina e para que nós mesmos possamos participar Dele e desfrutá-Lo o dia inteiro.



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