quinta-feira, 10 de abril de 2014

DONS ESPIRITUAIS





Três palavras gregas estão envolvidas na discussão do apóstolo Paulo sobre os dons espirituais em 1 Coríntios 12-14: (1) ta pneumatika (1 Co 12.1; 14.1;veja também Rm 1.11), “dons, poderes ou manifestações espirituais”. (2) ta pneumata (1 Co 14.12), “espíritos” ou manifestações do Espírito. (3) ta charismata (1 Co 12.4,9,28,30,31; veja também Rm 1.11; 12.6; 1 Co1.7; 1 Tm 4.14; 2 Tm 1.6; 1 Pe 4.10), “dons da graça”.

Um dom espiritual ou carismático é uma capacidade ou um poder sobrenatural conferido a um cristão fiel pelo Espírito Santo, que lhe dá a capacidade de desempenhar sua função como um membro do corpo de Cristo (1 Co 12.4-27). Estes dons não devem ser considerados talentos naturais, mas sim manifestações sobrenaturais do próprio Espírito (v. 7). Eles não devem ser confundidos com graças espirituais ou com as várias partes do fruto do Espírito - facetas do caráter de Cristo que todos os crentes devem cultivar (G1 5.22,23). Eles não são idênticos aos postos ou posições espirituais na igreja, seja para a supervisão temporal ou espiritual dos seus assuntos (presbíteros, diáconos, 1 Timóteo 3.1-13), seja para o ministério público (apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores, Efésios 4.11). Somente determinados crentes são indicados para esses ofícios espirituais (1 Co 12.28a, 29a) - os dons de Cristo (domata) para sua igreja (Ef 4.8) em vista dos dons espirituais específicos já evidenciados em suas vidas.


Em 1 Coríntios 12.14, Paulo explica a unidade, a diversidade, a distribuição, a ordem, a motivação, a permanência, o valor relativo e o uso adequado dos dons espirituais. Com relação à sua unidade, todos eles são dados, administrados e energizados ou inspirados pelo mesmo Deus trino e Uno (12.46,11). O único propósito do Espírito Santo ao outorgar esses poderes aos cristãos é sempre o de glorificar a Cristo (12.3), para o benefício e o bem comum de todos (12,7).

Com relação às suas diversidades ou diferenças, eles são chamados “dons” (charistnata) do Espírito (12.4), “ministério” ou atos de serviço da parte do Senhor (12,5) e “operações” ou atividades de Deus Pai (12.6). O apóstolo então fala de nove dons: a palavra de sabedoria, a palavra da ciência, a fé (não a fé salvadora, mas «ma fé excepcional para realizar as obras de Cristo, Jo 14.12), os dons carismáticos da cura, a operação de maravilhas, que são milagres ou realizações milagrosas, a profecia ou as declarações proféticas, o discernimento dos espíritos, a capacidade de falar uma variedade de línguas e a interpretação das línguas (12.8-10). Outros dons carismáticos são mencionados em 12,28-30 (socorros, governos), e em Romanos 12.6-8, de modo que nenhuma lista é isoladamente completa.


É possível fazer várias classificações dos dons. Porém, a de 1 Pedro 4,10,11 talvez seja a mais satisfatória. Pedro descreve duas categorias principais - os dons da expressão vocal, de modo que o possuidor do dom fala como se fossem palavras ditas pelo próprio Deus, e os dons de um serviço prático em um nível sobrenatural. Paulo faz uma classificação semelhante quando afirma que os crentes coríntios estavam enriquecidos com todas as bênçãos e com todo o conhecimento, e não lhes faltava nenhum dom carismático (1 Co 1.5-7; cf. 2 Co 8.7).

Quanto à distribuição dos dons, Paulo diz que eles são outorgados a “cada um”, isto é, a cada crente (1 Co 12.7; veja também 1 Pe 4.10). O Espírito é soberano na concessão desses dons, “repartindo particularmente a cada um como quer” (1 Co 12.11). E possível que um indivíduo manifeste mais do que um dom, e que tenha mais de um ministério, Paulo, por exemplo, foi ricamente dotado, e tinha a capacidade de falar várias línguas, de profetizar e de realizar milagres, e foi primeiramente um professor (At 11.25,26; 13.1) e, depois, um apóstolo (At 14.4,14). Normalmente, como na igreja em Corinto, os dons são amplamente distribuídos entre os santos (1 Co 1.5-7; 12.29,30).
Quanto à ordem dos dons, Paulo ensina que alguns têm maior utilidade do que outros (1 Co 12.28,31; 14.1-25). Apesar disso, nenhum deles deve ser dispensado ou desprezado (1 Co 14.39; 1 Ts 5.20). Os coríntios tendiam a valorizar o dom de línguas como sendo o mais desejável, talvez devido ao amor dos gregos pela oratória. Mas Paulo coloca esse dom no final de suas listas (1 Co 12.8-10,28-30).

Quanto ao motivo adequado para a vontade de ter os dons, e a motivação correta para usá-los, Paulo deixa bastante claro que o amor pelos outros é a única base verdadeira. “eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente" (1 Co 12.316, trad. orig.), um caminho par excellence (por excelência; kath’ hyperbolen). Se os dons de línguas, de profecia, de ciência ou dos socorros não estiverem enraizados no amor, eles não terão valor (1 Co 13.1-3).

Quanto à continuidade ou permanência dos dons, existe muita diferença de opiniões. Obviamente, o ofício do apostolado em seu sentido básico foi retirado. Não existe prova nas Escrituras da sucessão apostólica dos líderes da igreja indicados por Cristo, Em um sentido secundário, no entanto, muitos missionários fizeram o trabalho dos apóstolos com extraordinários dons e bênçãos de Deus. Novamente, o dom da profecia, em seu sentido original de anunciar e escrever a inspirada e infalível Palavra de Deus foi soberanamente retirado; mas os crentes ainda podem anunciar uma mensagem impressa por Deus quando estão à disposição do Espírito ou sob sua unção. Paulo ensina que mesmo o amor não cessando nem falhando, os dons espirituais serão interrompidos “quando vier o que é perfeito” (1 Co 13.10). Alguns ensinaram que dizendo to teleion, “o que é perfeito”, Paulo refere-se ao cânone completo das Sagradas Escrituras; entretanto, a consideração do versículo 12, que diz que então veremos face a face e teremos o conhecimento completo, assim como somos conhecidos, parece indicar que Paulo está antecipando o estado perfeito das coisas prenunciado pelo retorno de Cristo dos céus (J. H. Thayer, A Greek-EngUsk Lexicon of the New Testament, p. 618).

Um estudo da história da igreja revela que muitos dos dons carismáticos continuaram a se manifestar muito tempo após a morte de todos os apóstolos (Adolf Harnack, The Mission and Expansion of Christianity, Harper Torchbooks, 1962, pp. 129-146,199205), e que nos novos campos de missão e nas épocas de avivamento espiritual, o Senhor ainda confirma sua Palavra por meio da operação de dons sobrenaturais do Espírito. Certamente os dons de ensinar, de exortar, de repartir e de presidir (Rm 12.6 - 8), ou os dons dos socorros e dos governos (1 Co 12.28) são funções contínuas, pois a igreja sempre precisará de crentes com tais talentos.

Quanto ao valor relativo dos dons de profecia e de línguas, Paulo destaca as limitações e o valor do último dom para o indivíduo, para seu próprio crescimento espiritual, e para sua oração e adoração individual (1 Co 14.2,4o, 14-18,286), assim como para a congregação, para o seu fortalecimento quando acompanhado do dom de interpretação (14.5,13,26-28). Aquele que profetiza, no entanto, ajuda a congregação mais diretamente e mais claramente dando uma mensagem de edificação, exortação e consolação (14.3). Uma terceira função do dom de línguas é o de agir como um sinal. Isto é evidente quando uma língua desconhecida àquela pessoa que a está falando é reconhecida por um “estrangeiro” ou por alguém não crente, presente na reunião (14.22; Mc 16.17,20), como no Dia de Pentecostes (At 2.4-12).

Quanto ao uso adequado dos dons espirituais, Paulo instrui cuidadosamente a igreja de Corinto quanto à manifestação ordenada dos dons de expressão oral nas suas reuniões. Somente deve falar um por vez - e este deve permitir que os outros coloquem sua mensagem à prova - para evitar confusões e para que todos possam ser edificados (1 Co 14.2640). Para corrigir os abusos, ele não proíbe a prática dos dons, mas termina dizendo: “faça-se tudo decentemente e com ordem” (v. 40).

Bibliografia.

Arnold Bittlinger, Gifts and Graces, traduzido por H. Klassen, Londres.
Hodder & Stoughton, 1967, um comentário sobre 1 Coríntios 12-14. Donald Gee,
Spiritual Gifts in the Work of the Ministiy Today, Springfield, Missouri. Gospel Publ.
House, 1963. James G. S. S, Thomson, “Spiritual Gifts, BDT, pp. 497-500.



KUEHNER, Fred C., Th.D., Reitor,

Professor de Idiomas Biblicos, The

Theological Seminary of the Reformed

Episcopal Chureh, Filadelfia,

Penn. F. C. K


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Dicionário Bíblico Wycliffe

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